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EUA planeja fechar consulados e postos diplomáticos no exterior, incluindo Brasil e Europa

Medida promovida pela gestão Trump tem potencial para reduzir a capacidade operacional e de reunião de inteligência americana no estrangeiro e preocupa agências federais

Manifestação em frente ao consulado dos EUA em Estrasburgo, na França  (Frederick Florin/AFP)

Manifestação em frente ao consulado dos EUA em Estrasburgo, na França (Frederick Florin/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 7 de março de 2025 às 11h31.

Última atualização em 7 de março de 2025 às 11h47.

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O Departamento de Estado dos EUA se prepara para fechar uma série de consulados e representações diplomáticas e diminuir a força de trabalho em atuação no estrangeiro, confirmaram fontes do governo americano na quinta-feira, 6, em uma medida com potencial para prejudicar a construção de alianças e a capacidade de atuação de Washington em busca de seus interesses ao redor do mundo. Cidades da Europa e mesmo do Brasil devem perder representações americanas.

As representações diplomáticas abrigam uma série de funcionários das áreas militar, de inteligência, forças de segurança, saúde, comércio, tesouro e outras agências, que monitoraram temas de interesse no país anfitrião e trabalham com autoridades locais em uma gama de atividades, desde o combate ao terrorismo e a doenças infecciosas até colaborações para o fortalecimento da democracia, dos direitos humanos e de trabalhos de ajuda humanitária.

Funcionários do Departamento de Estado compartilharam uma lista com o Congresso americano, citando algumas das representações que deveriam ser fechadas. Estavam incluídos os consulados em Florença (Itália), Estrasburgo (França), Hamburgo (Alemanha) e Ponta Delgada (Portugal). Uma autoridade americana que viu a lista também afirmou que um consulado no Brasil teria sido apontado, segundo o New York Times — atualmente, há consulados em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e um escritório da embaixada em Belo Horizonte.

O plano faz parte de um corte mais amplo promovido pelo presidente americano, Donald Trump, e de sua política externa "America First", segundo a qual os EUA devem encerrar ou restringir formas de exercer influência global, tradicionalmente consideradas importantes. A mudança, porém, é motivo de preocupação em setores do governo, sobretudo em um momento em que a China amplia sua presença internacional.

Principal rival estratégica dos EUA, Pequim ultrapassou Washington em número de postos globais de diplomacia. De acordo com um estudo do Lowy Institute, os EUA possuem atualmente 271 postos diplomáticos, contra 274 da China, ainda levando vantagem na Europa — ao menos antes dos cortes. Os chineses, por sua vez, obtiveram êxito em forjar laços fortes com várias nações, especialmente na Ásia e na África, e aumentar sua influência em organizações internacionais.

"O Departamento de Estado continua a avaliar nossa postura global para garantir que estamos melhor posicionados para enfrentar os desafios modernos em nome do povo americano", disse a chancelaria americana em um comunicado na quinta-feira, questionada sobre as mudanças propostas.

A perspectiva dos cortes, porém, gerou inquietações. A CIA, por exemplo, mantém a grande maioria de seus agentes secretos de inteligência trabalhando em embaixadas e consulados, atuando com vistos diplomáticos, e o fechamento de postos reduziria as opções da agência para posicionar seus espiões. Os cortes também devem afetar massivamente cidadãos estrangeiros que atuam nas representações, e que em muitos países formam a base do conhecimento dos diplomatas americanos sobre seus ambientes. Estima-se que dois terços da força de trabalho nas representações estrangeiras seja mão-de-obra local.

A situação se torna ainda mais grave para Washington em um momento em que o Departamento de Estado está perdendo um número relevante de funcionários experientes. Cerca de 700 funcionários — 450 deles diplomatas de carreira — entregaram cartas de demissão nos dois primeiros meses deste ano, e suas vagas foram congeladas, ao menos temporariamente.

Os esforços para cortar postos diplomáticos e pessoal no exterior fazem parte de uma campanha interna para reduzir o orçamento de operações do Departamento de Estado, talvez em até 20%, de acordo com duas autoridades americanas com conhecimento das discussões em andamento.

O processo foi acelerado por uma equipe liderada por Elon Musk, que se embrenhou nas agências governamentais à procura do que chama de desperdício governamental. Um membro da equipe, Edward Coristine, um engenheiro de 19 anos, está no Departamento de Estado ajudando a direcionar os cortes orçamentários na agência.

Em meados de fevereiro, o secretário de Estado, Marco Rubio, enviou um memorando aos chefes de missão, que geralmente são embaixadores, pedindo-lhes que garantissem que o pessoal nos postos no exterior fosse "mantido no mínimo necessário para implementar as prioridades da política externa do presidente". Ele também disse que quaisquer posições que ficassem vagas por dois anos deveriam ser abolidas, disse uma autoridade americana que viu o memorando.

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