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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Washington - Ante o crescimento do déficit e a continuação dos desajustes derivados da bolha imobiliária, os Estados Unidos chegam à cúpula deste fim de semana do Grupo dos Vinte (G20, países mais ricos e principais emergentes) sem outra alternativa senão pedir dos parceiros um crescimento mais equilibrado.
Antes de chegar a Toronto, que recebe no sábado e no domingo a reunião, os americanos conseguiram uma importante vitória: a decisão da China de acabar com o câmbio fixo em relação ao dólar e permitir a valorização de sua moeda.
Após o hiato da crise, o déficit comercial americano com a China voltou a engordar, o que reavivou as queixas da indústria e dos aliados de que Pequim mantém o iuane artificialmente baixo para exportar mais.
A ideia da Casa Branca era adiar para depois da cúpula a adoção de uma postura sobre se a China manipula ou não a divisa, com a possibilidade de sanções comerciais. Por isso, o anúncio do fim de Pequim parece ter apagado um pouco o fogo.
A decisão, porém, não põe fim ao problema. O banco central da China já esclareceu que não haverá uma valorização espetacular do iuane, e que a flexibilização da taxa de câmbio será "gradual".
Por outro lado, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, pediu a aplicação "enérgica" da nova política. E o presidente americano, Barack Obama, disse que na cúpula do G20 o assunto do iuane será tratado.
No passado, os consumidores americanos tiraram o mundo da recessão com seu apetite insaciável pela aquisição de coisas, mas desta vez a situação financeira é precária.
Segundo o Congresso, o desemprego segue alto (perto de 10%), e a crise destruiu US$ 12,5 trilhões de riqueza das famílias, sobretudo pela queda de valor dos imóveis.
Em carta enviada a ministros do G20, Geithner explicou que os americanos estão em um momento de poupar, e alertou que a recuperação perderá fôlego se a demanda mundial não ganhar equilíbrio, com mais consumo em outros países.
Entre essas nações estariam China, Alemanha e Japão, que possuem os maiores superávit comerciais.
Mas as prioridades dos outros membros na cúpula são diferentes. "A Europa está mais comprometida com a consolidação fiscal que os EUA", disse à Agência Efe John Makin, um dos diretores da Caxton Associates, fundo de investimento de alto risco.
Durante a reunião do G20 em Toronto, a Europa pedirá a Washington que ponha suas contas em ordem, como contou Makin. Porém, com eleições legislativas em novembro, é difícil que o Governo americano revele, pelo menos por enquanto, um plano nesse sentido.
Os EUA querem relançar sua economia à base de exportações, daí a insistência para que os outros países mantenham os programas de estímulo.
Washington perdeu a batalha na última reunião ministerial do G20, na Coreia do Sul. O comunicado final, pela primeira vez, não mencionou a palavra "estímulo" e, pelo contrário, insistiu na redução do déficit.
Os EUA não sofrem pressão para rebaixar a dívida, ao contrário do que ocorre em países como Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda.
De fato, o nervosismo das bolsas em torno da solvência de tais países reduziu os juros que Washington deve pagar pelo dinheiro que capta nos mercados, já que os investidores buscaram a segurança dos bônus do Tesouro.
Por outro lado, para os EUA a alta do dólar frente ao euro e a fragilidade econômica da Europa são notícias ruins, uma vez que geram menos demanda de seus produtos em um mercado-chave.
"O problema mais sério surgiria se as bolsas seguissem caindo, os mercados de crédito fossem transtornados, o sistema bancário europeu não funcionasse adequadamente e o crédito não fluísse", disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Economy.
Por isso, na cúpula Washington exigirá da Europa que ponha a casa em ordem e da Alemanha que não retire o plano de estímulo de forma prematura. A mensagem, como reconheceu Zandi, é complicada.