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EUA: O que acontecerá com as 2300 crianças separadas dos pais?

Mesmo com anúncio dom governo americano de que famílias de imigrantes ilegais não serão separadas, menores continuam em centros de detenção

Centros de detenção: menores chegam a ser levados a mais de 3 mil km de onde estão pais ou responsáveis (Jose Luis Gonzalez/Reuters)

Centros de detenção: menores chegam a ser levados a mais de 3 mil km de onde estão pais ou responsáveis (Jose Luis Gonzalez/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de junho de 2018 às 16h19.

O caos reina na fronteira entre os Estados Unidos e o México ante a falta de informações: ninguém sabe qual será o destino das 2.300 crianças migrantes separadas de seus pais pelo governo americano.

Embora o presidente Donald Trump tenha assinado uma ordem executiva para acabar com a sua política de separação de famílias que entraram de forma clandestina pela fronteira, essas crianças continuam separadas em centros de detenção ou lares de acolhida, às vezes a mais de 3.000 quilômetros de onde estão seus pais ou responsáveis.

Os pais, detidos para serem processados criminalmente, muitas vezes não têm ideia de onde estão seus filhos e, em alguns casos, já foram deportados sem eles.

Agulha em um palheiro

Os advogados migratórios que fazem a sua defesa asseguram que o governo não tem planos para reuni-los e que trabalham como "detetives particulares" para unir pais e filhos, uma tarefa que comparam com encontrar uma agulha em um palheiro.

"No terreno há muita confusão, instruções e informações contraditórias, inclusive por parte de atores do governo", disse Michelle Brané, diretora de Direitos dos Imigrantes na Comissão de Mulheres Refugiadas.

"Isso é só um exemplo de como este governo opera: anúncios de políticas grandes e audazes sem planos sobre como implementá-las, aumentando o caos no terreno", sustentou Brané na quinta-feira em uma videoconferência.

Como exemplo, relatou o caso de uma menina registrada como uma menor de dois anos e que usava fraldas. Falava quiché, uma língua maia usada na Guatemala e no México, e ninguém a compreendia.

Após horas de trabalho investigativo, Brané conseguiu identificá-la em uma lista de 500 nomes: tinha, na realidade, quatro anos, e não dois, seu nome era outro e sua tia estava detida "no mesmo centro, presa em outra jaula".

"Continua sendo um processo caótico", disse na mesma videoconferência Wendy Young, presidente da Kids In Need of Defense (KIND), uma organização que oferece ajuda legal gratuita a menores imigrantes sem documentos.

"Estamos tentando ajudar esses pobres pais que buscam intensamente seus filhos". "Os integrantes da minha equipe jurídica se tornaram detetives particulares", contou.

"Conheça os seus direitos"

O site de informação independente ProPublica identificou a criança cujo choro, gravado anonimamente ao ser separada de sua mãe na fronteira há 10 dias, foi ouvido por milhões de pessoas e provocou uma indignação generalizada.

Alison Jimena Valencia Madrid, de seis anos, está em Phoenix (Arizona), longe de sua mãe, que está detida em Port Isabel (Texas) e não sabe quando poderá vê-la. Mas conta com uma grande vantagem: durante sua viagem de 17 dias de El Salvador até a fronteira entre México e Estados Unidos, sua mãe a ajudou a memorizar um número de telefone que lhe permitiu entrar em contato com uma tia em Houston.

Sua mãe, Cindy Madrid, ainda não pôde falar com ela. Segundo o ProPublica, quando conseguiu ligar para ela, a criança estava em uma oficina obrigatória de "Conheça os seus direitos" e não deixaram que ela atendesse o telefone.

"Nunca pude falar com ela (...) É muito desesperador porque a todo momento me pergunto como estará, se ela comeu, se estão cuidando dela, se deram banho nela", declarou sua mãe à CNN.

Ao ceder e voltar atrás em sua política de separação familiar, Trump assegurou que a "tolerância zero" com a imigração ilegal continua.

Pediu à Justiça uma autorização para deter as crianças junto com seus pais por mais tempo do que os 20 dias permitidos por lei, uma medida que para ativistas pró-imigrantes equivaleria a prender durante meses ou anos pais e filhos.

A pedido do governo, o Pentágono prepara até 20.000 camas para alojar menores imigrantes em bases militares.

"Os militares estão a cargo de proteger nossa segurança, não são um serviço social (...) Levamos 30 anos para melhorar o tratamento das crianças no sistema migratório e parece que o governo o destruiu em três meses", disse Young.

Em Washington, a Câmara de Representantes fracassou em aprovar um projeto conservador de lei migratória. Outro mais moderado seria levado à votação na próxima semana.

Em meio à confusão, a primeira-dama Melania Trump fez uma viagem surpresa ao Texas para ver em primeira mão as condições de detenção das crianças imigrantes, mas causou indignação ao embarcar no avião com uma jaqueta verde oliva que continha na parte de trás a frase "Eu realmente não importo, você se importa?".

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