Nikki Haley, embaixadora americana na ONU: "Os Estados Unidos não ficarão parados quando armas químicas forem usadas" (Shannon Stapleton/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de abril de 2017 às 16h26.
Última atualização em 7 de abril de 2017 às 19h43.
Os Estados Unidos advertiram que estão prontos para lançar novos ataques contra o governo sírio, um dia depois de ter bombardeado uma base aérea no país, que reagiu com fúria junto a seus aliados, Rússia e Irã.
"Os Estados Unidos tomaram uma decisão muito comedida na noite passada" com o ataque à base aérea síria, disse a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, no Conselho de Segurança, que realizou uma sessão de emergência após o primeiro ataque de Washington contra as forças sírias.
A diplomata enfatizou que estão "dispostos a fazer mais, mas esperamos que isso não seja necessário".
O ataque americano foi uma represália, três dias depois de um suposto ataque com armas químicas contra a cidade rebelde Khan Sheikhun, que deixou mais de 85 mortos e foi atribuído ao governo de Bashar al-Assad.
O Pentágono suspeita que a Síria tenha recebido ajuda para realizar o suposto ataque químico, embora funcionários americanos não se atrevam a acusar a Rússia de ter participado.
O lançamento de 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk contra a base aérea de Al-Shayrat, próximo da cidade de Homs, causou a fúria da Rússia e do Irã, aliados de Assad.
"Os Estados Unidos atacaram o território soberano da Síria. Qualificamos esse ataque como uma violação flagrante da lei internacional e um ato de agressão", disse o embaixador de Moscou na ONU, Vladimir Safronkov, no Conselho de Segurança.
A presidência síria chamou os bombardeios americanos de ato "irresponsável" e "idiota".
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, a França e a Grã-Bretanha pediram que busquem uma solução "política" na Síria, afundada na guerra desde 2011.
Antes da reunião do Conselho, Guterres fez um pedido à "moderação" e destacou que "não existe outra via para pôr fim ao conflito [sírio] além de uma solução política".
Os bombardeios com mísseis foram ordenados na quinta-feira à noite pelo presidente americano, Donald Trump.
Às 03H40 locais de sexta-feira (21H40 de Brasília), 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk foram disparados por dois navios americanos no Mediterrâneo até a base aérea síria de Al-Shayrat.
Horas depois, o exército sírio falava em "seis mortos, feridos e importantes danos materiais".
A agência de notícias oficial Sana anunciou a morte de nove civis, incluindo crianças, nos povoados próximos.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) indicou que sete soldados morreram e que o aeroporto militar "foi quase totalmente destruído: os aviões, a pista, o depósito de combustível e o edifício da Defesa Aérea foram pulverizados".
Uma fonte militar síria assinalou à AFP que o exército tinha conhecimento prévio da ação americana e "tomou precauções", deslocando aviões da base aérea atacada.
Em um solene discurso na televisão de sua residência na Flórida, Trump explicou que estes ataques estavam "diretamente relacionados" com os "horríveis" acontecimentos de terça-feira.
Nesse dia, o bombardeio atribuído ao exército sírio em Khan Sheikhun deixou pelo menos 86 mortos, entre eles 27 crianças.
Os Serviços Secretos americanos estabeleceram que os aviões que realizaram este ataque saíram da base de Al-Shayrat, conhecida como um local de armazenamento de armas químicas antes de 2013, segundo o Pentágono.
A coalizão da oposição política síria - enfraquecida pelo governo nos últimos meses - aplaudiu a operação americana, mas "bombardear somente um aeroporto não é o suficiente", disse Mohamed Allouche, membro do opositor Alto Comitê de Negociações (HCN).
O presidente russo, Vladimir Putin, considerou que a operação "causa um prejuízo considerável às relações entre Estados Unidos e Rússia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamed Javad Zarif, afirmou que os Estados Unidos recorreram a "falsas acusações" para bombardear a base síria.
As forças do governo buscam recuperar os últimos redutos das mãos dos rebeldes, especialmente na província de Idlib, e dos diferentes grupos extremistas como o Estado Islâmico (EI).
A decisão de Trump foi bem recebida pelos outros países envolvidos na crise síria, como Turquia e Estados europeus.
O presidente da França, François Hollande, anunciou que apoia "a iniciativa" de "relançar o processo de transição política na Síria", mas "com as Nações Unidas, se possível".
Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, comemorou os ataques e pediu que tomem medidas suplementares.
Até agora nenhuma iniciativa diplomática conseguiu estabelecer um cessar-fogo duradouro em um país onde já morreram mais de 320.000 pessoas desde março de 2011 e milhões fugiram de suas casas.
Em 2013, o antecessor de Trump, Barack Obama, decidiu não atacar o governo sírio depois de um bombardeio com armas químicas perto de Damasco, que deixou mais de 1.400 mortos.
Desta vez, Washington agiu depois de estabelecer que o governo sírio utilizou "um agente neurotóxico que tem as características do sarin", segundo um responsável de alto escalão da Casa Branca.