Cessar-fogo na Ucrânia: EUA e Ucrânia discutem trégua, mas impasses sobre território e segurança permanecem (Tetiana DZHAFAROVA/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 11 de março de 2025 às 15h23.
Pouco mais de uma semana depois de uma histórica altercação entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca, representantes dos dois países se encontraram na Arábia Saudita, tentando avançar em um plano de cessar-fogo para o conflito em solo ucraniano. As conversas são permeadas por diferenças entre os dois lados — e também com a Rússia — além da realidade do campo de batalha, que, nesta terça-feira, chegou bem perto do poder russo, com um ataque de drones de grande porte que deixou três mortos nos arredores de Moscou.
O primeiro entrave é sobre a suspensão dos combates. Kiev deseja o fim imediato dos ataques aéreos e marítimos. Os ucranianos veem essa pausa, que também precisaria do aval russo, como um gesto de confiança entre os envolvidos antes do início de conversas definitivas.
Na véspera, Zelensky afirmou que um cessar-fogo total, incluindo nos combates terrestres, depende de garantias de segurança dos aliados ocidentais, que impeçam uma nova invasão. Sem isso, ele acredita que a pausa daria tempo ao Kremlin para “curar os feridos, recrutar infantaria da Coreia do Norte e recomeçar esta guerra”. Sehriy Leschenko, assessor do presidente ucraniano, também propôs, na segunda-feira, uma suspensão nos ataques contra o setor de energia dos dois lados.
Em declarações à AFP, um representante da delegação ucraniana, que preferiu não ser identificado, afirmou que as negociações estão acontecendo normalmente e abordam vários assuntos, incluindo a trégua aérea e marítima. Já o chefe de Gabinete de Zelensky, Andriy Yermak, foi mais econômico em suas redes sociais:
"É um trabalho em progresso", publicou no X.
Pouco antes, havia dito a jornalistas que "estava pronto para fazer o possível para obter a paz".
Por outro lado, os EUA sugerem mais concessões ucranianas, incluindo a cessão de territórios ocupados pela Rússia, uma ideia que agrada o Kremlin e que passou a ser vista como inevitável pelo círculo próximo de Zelensky. Atualmente, estima-se que 20% do território ucraniano, com base nas fronteiras estabelecidas em 1991, esteja sob controle russo.
— A coisa mais importante que temos para deixar aqui é uma forte sensação de que a Ucrânia está preparada para fazer coisas difíceis, assim como os russos terão que fazer coisas difíceis para acabar com este conflito ou, pelo menos, pausá-lo de alguma forma — afirmou, na segunda-feira, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que está em Jeddah.
Segundo a imprensa americana, um dos principais negociadores, Steve Witkoff, deve viajar a Moscou nos próximos dias para conversar com os russos sobre um possível acordo. Oficialmente, o Kremlin diz ser contra uma ideia levantada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, de um cessar-fogo temporário, de um mês, e exige "compromissos firmes sobre um acordo final".
Em declarações à imprensa, o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, disse não ter recebido detalhes sobre o que está sendo discutido em Jeddah.
Diante das câmeras em Jeddah, Rubio e Yermak apertaram as mãos e deram palavras otimistas aos jornalistas. No entanto, o desconforto causado pela discussão entre Trump e Zelensky na Casa Branca, no último dia de fevereiro, ainda pairava sobre o encontro.
Na ocasião, Zelensky viajou a Washington para assinar um acordo que daria aos americanos acesso a cerca de 50% das riquezas minerais da Ucrânia, especialmente lítio e terras raras, cruciais para as indústrias de alta tecnologia e militar, em troca de ajuda militar de Washington.
Porém, o que deveria ser um dia de celebração rapidamente se tornou um dos episódios mais caóticos da política internacional recente.
— O tempo das ilusões acabou. A Europa é chamada a assumir maior responsabilidade por sua própria defesa. Não em um futuro distante, mas já hoje — afirmou, nesta terça-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Parlamento Europeu.
Enquanto as delegações americana e ucraniana estavam reunidas em Jeddah, Kiev lançou um dos maiores ataques de drones contra o território russo desde fevereiro de 2022.
De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, foram interceptados 337 drones, sendo 91 nos arredores da capital Moscou. Para uma cidade onde, na maior parte do tempo, a guerra parecia algo distante, as explosões nos céus, os danos em prédios e a morte de três pessoas serviram como um lembrete do conflito travado no país vizinho.
— Você entende que estamos em guerra, mas não percebe direito — afirmou Svetlana, moradora de Moscou, à agência AFP. — Mas agora, sim, ela chegou.
Para Peskov, os ataques desta terça-feira poderão afetar negativamente os rumos das conversas sobre um cessar-fogo.
— Ainda não há negociações concretas. Hoje, os americanos tentam entender o quão pronta a Ucrânia está para um acordo de paz. Mas sim, esses ataques podem comprometer a tendência emergente — afirmou, citado pelo portal RBK.