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EUA e Egito se opõem sobre demandas de manifestantes

A Casa Branca voltou a dizer que os ministros egípcios precisam se empenhar mais para atender às exigências dos manifestantes

Protestos no Egito: locais sem presença da polícia são patrulhados por civis (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Protestos no Egito: locais sem presença da polícia são patrulhados por civis (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2011 às 22h14.

Cairo - O governo do presidente Hosni Mubarak reagiu na quarta-feira a supostas tentativas de "impor" a vontade dos Estados Unidos sobre o Egito e disse que seria arriscado demais fazer reformas rápidas.

Mas, enquanto os manifestantes pró-democracia consolidavam um novo acampamento em torno do Parlamento egípcio, a Casa Branca voltou a dizer que os ministros egípcios precisam se empenhar mais para atender às exigências dos manifestantes, que desejam o fim imediato dos 30 anos de regime de Mubarak, além de reformas abrangentes.

O chanceler Ahmed Aboul Gheit, sobrevivente da reforma ministerial feita por Mubarak no início da crise, se disse "perplexo" com o fato de o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, ter defendido a revogação imediata do estado de emergência que vigora no Egito.

"Quando você fala em 'rápido', 'imediato', 'agora', como se você estivesse impondo a um grande país como o Egito, um grande amigo que sempre manteve a melhor relação com os EUA, você está impondo sua vontade sobre ele", disse Aboul Gheit.

Nestas mais de duas semanas de protestos no Egito, inspirados em parte pela rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia, o governo dos EUA tem adotado uma linha eventualmente obscura entre sustentar seu tradicional aliado Mubarak, visto como um baluarte contra o avanço do fundamentalismo islâmico no Oriente Médio, e apoiar o movimento por democracia.

Na semana passada, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que Mubarak deveria deixar o cargo após as eleições de setembro, e que uma "transição ordeira" deveria ser feita enquanto isso.

Na quarta-feira, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que o número de manifestantes nas ruas do Egito está crescendo, e que o governo de Mubarak precisa adotar medidas "reais e concretas" para satisfazê-los.

"O que a gente está vendo acontecer nas ruas do Cairo não é tão surpreendente quando se vê a falta de passos que seu governo deu para atender às suas exigências", afirmou Gibbs.


MANIFESTAÇÕES

Um dia depois da realização de um dos maiores protestos contra Mubarak, o principal foco da oposição, a praça Tahrir (Libertação), continua lotada. Os organizadores já preveem um novo grande evento na sexta-feira.

Karam Mohamed, originário de uma província no Delta do Nilo, disse que os protestos estão crescendo: "Estamos pressionando-os pouco a pouco, e no final eles irão cair."

Os manifestantes disseram que os organizadores cogitam avançar na sexta-feira para a sede da emissora estatal de rádio e TV. Em frente ao Parlamento, outro grupo pendurou um cartaz que dizia: "Fechado até que o regime caia."

Perto dali, o primeiro-ministro Ahmed Shafiq se reunia com líderes empresariais, dizendo que continuará buscando formas de atrair investimentos estrangeiros, mas que no momento "a prioridade imediata é passar esta crise com o mínimo de dano possível."

O impasse no Egito --mais populoso país árabe, com 80 milhões de habitantes-- afeta gravemente a economia e repercute bem além das suas fronteiras.

O preço do petróleo do tipo Brent subiu cerca de 2 por cento na quarta-feira, chegando a quase 102 dólares por barril, refletindo em parte temores de que a rebelião árabe se espalhe para grandes países produtores de petróleo, como a Arábia Saudita.

Analistas do banco Credit Agricole estimam que a crise custe ao Egito 310 milhões de dólares por dia.

O canal de Suez, vital fonte de divisas para o país, registrou uma queda de 1,6 por cento na sua arrecadação em janeiro em comparação ao mês anterior. Mas mesmo assim o rendimento foi superior ao do mesmo período do ano anterior, e os funcionários dizem que as operações não foram afetadas.


Violência

Quatro pessoas morreram e várias ficaram feridas a bala na terça e quarta-feira em confrontos envolvendo forças de segurança e cerca de 3.000 manifestantes em uma província desértica longe do Cairo. Foi o incidente mais grave no país desde que na semana passada seguidores de Mubarak atacaram manifestantes na capital.

A "filial" iraquiana da Al Qaeda, chamada Estado Islâmico do Iraque (EII), criticou o governo egípcio por não implementar uma rígida lei islâmica, e disse que é melhor morrer combatendo o governo a viver sob seu regime.

O grupo conclamou os muçulmanos do Egito a libertarem todos os prisioneiros das penitenciárias, depois de o vice-presidente Omar Suleiman ter declarado na terça-feira que militantes ligados à Al Qaeda estavam entre os milhares de detentos que escaparam das prisões desde 28 de janeiro.

Não está claro qual é a ligação do EII com militantes egípcios, ou qual seu grau de influência, mas alguns analistas dizem que o grupo pode ter inspirado um violento ataque a uma igreja cristã no Egito no mês passado.

A Irmandade Muçulmana, movimento religioso que é a principal força da oposição no Egito, renunciou à violência décadas atrás, mas tem alertado para o risco de radicalização de parcelas da sociedade caso o governo tente reprimir o grupo.

Num fato que seria impensável meses atrás, o governo convidou a Irmandade Muçulmana para participar de negociações, mas o grupo insiste que Mubarak renuncie imediatamente.

A oposição também rejeita que as eleições de setembro sejam realizadas sob a atual legislação, e uma comissão recém-criada pelo governo já definiu seis artigos da Constituição que devem ser alterados, tratando, entre outras coisas, da duração dos mandatos públicos e da realização de eleições.

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