A porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse que as eleições não foram limpas, pois Assad controla o voto da população síria (Massoud Hossaini/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2012 às 18h43.
Washington - O governo dos Estados Unidos afirmou nesta segunda-feira que o referendo constitucional realizado no domingo na Síria foi um ato 'absolutamente cínico' do regime de Bashar al Assad, que apresentou uma proposta 'ridícula' ao seu povo.
Em sua entrevista diária, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse que as eleições não foram limpas pois Assad controla o voto da população síria.
A nova Constituição da Síria foi aprovada com 89,4% dos votos. A eleição foi boicotada pelos grupos rebeldes, que consideraram que o país não tinha condições de segurança para realizar o pleito.
'Certamente é impossível avaliar se a votação foi algo similar a um plebiscito, quando as pistolas, os tanques e a artilharia seguem bombardeando Homs, Hama e outras cidades em todo o país', afirmou Nuland.
'Como pode existir algum tipo de processo democrático nessas condições?', questionou.
A nova Constituição, redigida por uma comissão de 29 membros a pedido do presidente sírio, inclui 14 artigos e 47 emendas, e abre as portas ao pluripartidarismo.
Entre as mudanças mais significativas, foi suprimido o artigo que estipulava que o partido Baath, no poder desde 1963, é 'o líder do estado e a sociedade', e com isso permite-se que outras formações apresentem candidatos para a presidência, que fica limitada a um máximo de dois mandatos de sete anos cada um.
A emenda entrará em vigor a partir das próximas eleições presidenciais, previstas para 2014, o que permite que Assad, que já está há 12 anos no poder, após três décadas de governo de seu pai, possa tentar continuar no cargo por mais 16 anos, até 2028.
Além disso, a porta-voz demonstrou sua 'preocupação' com a declaração de apoio do movimento islâmico Hamas aos rebeldes sírios. 'Obviamente, quanto mais apoio possam conseguir os grupos opositores ao regime de Assad, melhor. Mas existe preocupação de que extremistas fomentem a violência para conseguir objetivos próprios', explicou a funcionária.
Por sua parte, a secretária de Estado de EUA, Hillary Clinton, citou esse apoio do Hamas como um motivo a mais para ser contra armar a oposição síria, como pedem muitos congressistas americanos e alguns países, como a Arábia Saudita.
'Hamas está apoiando a oposição. Vamos apoiar o Hamas na Síria?', disse Hillary em entrevista que foi ao ar hoje na rede 'CBS'. A secretária demonstrou ainda seu temor de que as armas fossem parar com a rede terrorista Al Qaeda, que segundo a inteligência americana tem membros infiltrados na oposição síria.