Bruxelas - O Irã realizou ataques aéreos no Iraque contra o Estado Islâmico (EI) nos últimos dias, anunciaram os Estados Unidos nesta quarta-feira, advertindo que a luta contra o movimento vai durar anos.
Esta é a primeira vez que Washington confirma ataques aéreos realizados por aeronaves iranianas contra o EI, após a divulgação de imagens da rede Al Jazeera mostrando os F-4 Phantom iranianos atacando alvos na província de Diyala, na fronteira com o Irã.
"Mas nada mudou em relação a nossa política segundo a qual nós não coordenamos nossas atividades com os iranianos", afirmou o Pentágono. Teerã não confirmou, e, em Bruxelas, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, evitou o assunto, dizendo não ter sido informado.
Esse anúncio foi feito no momento em que o secretário de Estado americano, John Kerry, participava de uma reunião em Bruxelas com os ministros de cerca de sessenta países que integram a coalizão formada há dois meses e meio para "destruir" a organização jihadista no Iraque e na Síria.
Kerry declarou em Bruxelas "que todo ataque do Irã contra o Estado Islâmico terá um efeito positivo".
"É evidente que se o Irã atacar o EI em algum lugar (...) e que isso tiver um impacto (...) o efeito é positivo", indicou Kerry, que não quis comentar as informações do Pentágono sobre os supostos bombardeios iranianos no leste do Iraque nos últimos dias.
"Não iremos fazer anúncios, nem confirmaremos ou negaremos informações sobre ações militares de outros países", declarou durante coletiva de imprensa logo após a reunião da coalizão.
"Vamos realizar esta campanha pelo tempo que for necessário para ganharmos", afirmou Kerry na abertura da reunião. "Nosso compromisso certamente vai durar anos".
O Irã não foi convidado para este encontro, que é o primeiro neste nível, organizado nas instalações da Otan.
"Daech é um flagelo"
"Nenhuma grande unidade do Daech (acrônimo árabe do EI) pode se deslocar sem se preocupar com o que vai cair em sua cabeça", afirmou Kerry, lembrando os cerca de "mil" ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos. Ele saudou "a liderança dinâmica" de vários países árabes que participam dos bombardeios na Síria.
"Os terroristas do Daech são um flagelo. Tudo deve ser feito para erradicá-los", declarou o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius. "A ação militar da coalizão começa a dar seus frutos, principalmente no Iraque, mas ainda resta muito a fazer", acrescentou.
O Exército iraniano já ajuda as milícias xiitas, assim como unidades do Exército iraquiano. Fuzis e lança-foguetes iranianos equipam algumas tropas iraquianas. O Irã também colocou aviões de combate Sukhoi Su-25 à disposição do Iraque. Há rumores inclusive de que pilotos iranianos estejam no comando dessas aeronaves.
Os Estados Unidos iniciaram seus ataques aéreos contra posições do EI no Iraque em 8 de agosto, e ganharam depois o apoio da França, da Austrália, do Reino Unido, do Canadá, da Dinamarca, a Bélgica e a Holanda.
Enquanto isso, desde 23 de setembro, os americanos atacam alvos do EI na Síria, com a participação da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, da Jordânia e do Bahrein.
Dezenas de países ajudam no combate fornecendo armas, principalmente para as autoridades curdas do norte do Iraque, ou compartilhando informações.
Crimes bárbaros
Em 2015, esta campanha deverá custar 5,6 bilhões de dólares, se forem adicionados o financiamento da formação de soldados iraquianos e curdos e a ajuda humanitária.
Graças à ofensiva da coalizão, as forças iraquianas conseguiram conter o avanço dos jihadistas e recuperar alguns setores. Os ataques também permitiram que a cidade curda síria de Kobane não caísse, mesmo sob o intenso assédio dos extremistas na região da fronteira com a Turquia.
Para especialistas, o vento está prestes a mudar para o EI, que perde terreno no Iraque e não consegue avançar na Síria. Mas alguns consideram que os ataques não conseguirão derrotar os extremistas sunitas em seus redutos sem uma participação estrangeira por terra, descartada até o momento pelo premiê iraquiano e pelos países ocidentais.
Os ministros da coalizão devem discutir nesta quarta formas de afetar o financiamento do grupo, de enfrentar e "tirar a credibilidade" da propaganda da "marca" EI na internet, e abordar a ajuda humanitária aos refugiados, segundo uma autoridade americana.
O grupo Estado Islâmico proclamou em junho um califado na Síria e no Iraque, depois de ter conquistado rapidamente o controle de importantes cidades. O movimento conta com cerca de 30.000 combatentes, dos quais um terço seria composto por estrangeiros.
Além das execuções de prisioneiros ocidentais, o EI comete estupros, sequestros, assassinatos em massa e crucificações de civis nas regiões sob seu controle, e exibe as atrocidades em redes sociais.
O xeque da Al-Azhar no Cairo, uma das mais prestigiosas instituições do Islã sunita, condenou nesta quarta os "crimes bárbaros" do grupo.
O xeque fez as declarações na abertura de uma conferência que reúne as autoridades religiosas de 20 países, como Arábia Saudita, Irã e Marrocos.
"Eu me pergunto noite e dia os motivos desta sedição cega e deste infortúnio árabe, manchado de sangue", afirmou o xeque Al-Azhar, que não descarta um complô para garantir a supremacia de Israel na região.
Também atribuiu parte da responsabilidade ao Ocidente, ao citar o exemplo do Iraque, onde a existência de milícias rivais "11 anos depois da invasão" resultou em "banhos de sangue". Na Síria acontece algo parecido, completou.
Também pediu à coalizão liderada pelos Estados Unidos que enfrente os países "que apoiam o terrorismo financeira e militarmente".
O xeque admitiu, no entanto, que "não se deve ignorar nossa própria responsabilidade no surgimento do extremismo, que fez emergir organizações como a Al-Qaeda e outros grupos armados".
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1. O poder dos radicais
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1/22 (Reuters)
São Paulo -- Os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (
EIIL) vêm exibindo uma variedade impressionante de armas. Muitas foram capturadas do próprio exército iraquiano, que os extremistas derrotaram em diversas batalhas no norte do país. Veja alguns equipamentos bélicos que já foram vistos em poder do EIIL.
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2. Tanques T-55
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2/22 (John Harwood / Wikimedia Commons)
Os T-55 são tanques russos que os extremistas teriam capturado das forças iraquianas. Seguem o desenho básico do T-54, tanque soviético desenvolvido logo após a Segunda Guerra Mundial. Há variantes do T-55 com mira a laser, controle de tiro computadorizado, sistemas avançados de radiocomunicação e armadura explosiva, que repele projéteis antitanques.
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3. Tanque M-1 Abrams
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3/22 (D. W. Holmes II / US Navy / Wikimedia Commons)
Os americanos já enviaram centenas de tanques M1 Abrams ao Iraque. Segundo
relatos, o EIIL teria capturado alguns deles. O Abrams pesa quase 70 toneladas e é movido por uma potente turbina a gás. É um tanque avançado, com uma rede de sensores que alimentam um computador de bordo capaz de calibrar os disparos com precisão.
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4. Canhão 59-1
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4/22 (Lance Lanham / US Army / Wikimedia Commons)
Há relatos de EIIL teria canhões do tipo 59-1, capturados do exército iraquiano. Trata-se da cópia chinesa de um canhão russo desenvolvido logo após a Segunda Guerra Mundial. O original tinha alcance superior a 27 quilômetros. Durante muitos anos, foi o canhão rebocável com maior alcance no mundo.
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5. Canhão antiaéreo ZU-23-2
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5/22 (Serge Serebro / Vitebsk Popular News / Wikimedia Commons)
O ZU-23-2 é um canhão antiaéreo duplo projetado no final da década de 1950 na União Soviética. Dispara balas de 23 milímetros de diâmetro a até 2,5 km de distância. Pode derrubar aviões e helicópteros ou atingir alvos terrestres. O exército iraquiano tem unidades fabricadas na Bulgária e na Polônia. Segundo relatos, algumas delas foram parar nas mãos do EIIL.
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6. Canhão antiaéreo tipo 65/74
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6/22 (Joe Mabel / Wikimedia Commons)
Um vídeo de propaganda do EIIL mostra um canhão antiaéreo que especialistas dizem ser uma arma chinesa tipo 65 ou 74 (o 74 é uma versão aperfeiçoada do 65). É um canhão de 37 milímetros com dois canos, derivado de um antigo projeto soviético. A versão original disparava 60 balas por minuto a até 8,5 km de distância.
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7. Mísseis terra-ar
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7/22 (US Army / Wikimedia Commons)
Combatentes do EIIL foram vistos com pequenos mísseis terra-ar conhecidos como MANPADS. Eles são disparados de um lançador tubular portátil, que é apoiado no ombro do soldado, e podem derrubar helicópteros voando baixo. Há inúmeras variantes dessas armas. Muitas não são guiadas, mas as mais avançadas são orientadas por raios infravermelhos ou por laser.
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8. Míssil antitanque Hongjian-8
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8/22 (Kizilsungur / Wikimedia Commons)
O míssil Hongjian-8 (ou HJ-8) é um projeto chinês dos anos 80. É fabricado na China e no Paquistão. O míssil é disparado de um lançador tubular e guiado por um fio até o alvo. É capaz de destruir as blindagens ativas de tanques, que usam explosivos para defletir projéteis. Tem sido usado ocasionalmente na guerra civil Síria.
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9. Lança-foguetes RPG-7
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9/22 (Kenneth Lane / US Marine Corps / Wikimedia Commons)
O lança-foguetes russo RPG-7 é uma das armas antitanque mais usadas no mundo. É apreciado no campo de batalha por ser confiável e relativamente fácil de usar. É disparado apoiado sobre o ombro do soldado. A munição é uma granada-foguete não guiada, capaz de atingir alvos a até 200 metros de distância.
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10. Metralhadora DShK
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10/22 (Erwin Franzen / Wikimedia Commons)
A DShK é uma peça de museu, mas é mortal. Foi desenvolvida pela União Soviética no final da década de 1930 e chegou a ser usada na Segunda Guerra Mundial. Essa metralhadora pesada dispara 600 balas de 12,7 mm de diâmetro por minuto. Segundo relatos, o EIIL teria algumas delas montadas em caminhões.
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11. Metralhadora M240
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11/22 (Eric Powell / US Navy / Wikimedia Commons)
A M240 é uma metralhadora de médio porte projetada na Bélgica e usada pelas forças armadas americanas desde o final dos anos 70. Dispara entre 750 e 950 balas por minuto e tem alcance de até 1,8 km. É comum vê-la montada em tanques e outros veículos de combate.
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12. Metralhadora M60
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12/22 (US Department of Defense / Wikimedia Commons)
A M60 é usada desde 1957 pelas forças armadas americanas. Mas é capaz de fazer estragos. Ela dispara mais de 500 balas (de 7,62 mm de diâmetro) por minuto e atinge alvos a mais de 1 quilômetro de distância. Em geral, é operada por dois ou três soldados. Enquanto um puxa o gatilho, os outros vigiam os alvos e municiam a arma.
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13. Fuzil M16
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13/22 (Bradley Rhen / US Army / Wikimedia Commons)
O M16, fuzil automático leve do exército americano, é uma das armas vistas nas mãos dos combatentes do EIIL. É derivado do AR-15, projetado em 1956. Estima-se que 8 milhões de unidades do M16 já tenham sido fabricadas. Dessas, 90% seguem em uso em mais de 80 países. Com 1 metro de comprimento, o fuzil pesa 4 kg e é capaz de matar alguém a mais de 500 metros de distância.
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14. Carabina M4
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14/22 (James Harper Jr. / US Army / Wikimedia Commons)
A carabina M4 é a versão mais curta (84 cm) e mais leve (3,4 kg quando carregada com 30 balas) do fuzil M16. Foi adotada pelo exército americano em 1994 e é muito usada para combate em áreas urbanas. Tem coronha telescópica, o que permite encolhê-la para 76 cm.
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15. Lança-granadas M203
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15/22 (Exército da Austrália / Wikimedia Commons)
O M203 é um lança-granadas que funciona acoplado sob o cano de um fuzil ou carabina. Ao invadir uma casa, por exemplo, o soldado pode disparar a granada para explodir a porta ou a parede e, depois, matar as pessoas com o fuzil. O acessório pesa1,36 kg.
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16. Caminhões MRAP
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16/22 (US Marine Corps / Wikimedia Commons)
Os chamados MRAPs (sigla de “mine-resistant ambush protected”, resistente a minas e emboscadas) são caminhões capazes de suportar explosões de minas e artefatos improvisados. Também resistem a tiros de armas leves. Foram extensamente usados para transporte de tropas durante a Guerra do Iraque. E parece que o EIIL conseguiu obter alguns.
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17. Carro blindado M113
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17/22 (Jason McCree / USAF / Wikimedia Commons)
O carro blindado M113 é outro projeto antigo. Foi muito usado em combates no Vietnã. Em conflitos mais recentes, como a Guerra do Iraque, foi empregado para transporte de soldados e feridos. É um veículo anfíbio com blindagem leve, capaz de resistir a tiros de armas de mão. Alguns são equipados com uma ou mais metralhadoras na parte superior.
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18. Humvees
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18/22 (Eric Harris / US Air Force / Wikimedia Commons)
O Humvee é a versão moderna do jipão militar. Pode carregar uma variedade de armas, como metralhadoras e lança-granadas. O exército iraquiano possui muitos desses veículos que também foram usados pelos americanos na região. O EIIL divulgou fotos de Humvees que o grupo teria apreendido e enviado à Síria.
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19. Uniformes high tech
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19/22 (Brandon Aird / U.S. Army / Wikimedia Commons)
O EIIL divulgou vídeos de soldados usando uniformes e coletes à prova de balas americanos. São roupas com proteções feitas de Kevlar KM2, um compósito extremamente resistente. Não se sabe quantas unidades os jihadistas possuem.
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20. Visão noturna
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20/22 (US Department of Defense / Wikimedia Commons)
Vídeos do EIIL também mostram soldados com dispositivos de visão noturna AN/PVS-7. Esses equipamentos, desenvolvidos nos Estados Unidos nos anos 80, amplificam a luz entre 30 mil e 50 mil vezes, permitindo que o soldado enxergue no escuro. Não se sabe quantas unidades estão nas mãos dos extremistas e nem se elas estão em condições de uso.
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21. UH-60 Black Hawk
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21/22 (Suzanne Jenkins / USAF / Wikimedia Commons)
Segundo alguns relatos, quando os extremistas tomaram o aeroporto de Mossul, no Iraque, havia helicópteros americanos Black Hawk lá. Nenhum foi visto voando depois da captura. É possível que tenham sido danificados. Mas alguns especialistas afirmam que eles não voam porque o EIIL não tem pessoas treinadas para pilotá-los.
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22. Agora veja uma amostra do poderio bélico americano:
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22/22 (US Air Force)