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EUA busca 'cessar-fogo político' com o Irã para evitar escalada nuclear no Oriente Médio

Tentativa de um acordo não escrito visa evitar um novo conflito de grandes proporções no mundo, em meio à guerra na Ucrânia, e diminuir ameaça nuclear

O Irã acelerou seu programa nuclear meses depois que o ex-presidente Donald Trump se retirou do acordo e impôs uma série de novas sanções ao país em 2018 (Morteza Nikoubazi/Getty Images)

O Irã acelerou seu programa nuclear meses depois que o ex-presidente Donald Trump se retirou do acordo e impôs uma série de novas sanções ao país em 2018 (Morteza Nikoubazi/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 16 de junho de 2023 às 06h39.

Última atualização em 16 de junho de 2023 às 06h41.

O governo Biden tem negociado discretamente com o Irã para limitar o programa nuclear do país e libertar americanos presos, segundo autoridades de três países, como parte de um esforço maior dos Estados Unidos para aliviar as tensões e reduzir o risco de um confronto militar com a República Islâmica.

O objetivo dos EUA é chegar a um acordo informal e não escrito, que algumas autoridades iranianas chamam de “cessar-fogo político”. O objetivo seria evitar uma nova escalada em um relacionamento hostil de longa data, que se tornou ainda mais tenso à medida que Teerã acumula um estoque de urânio altamente enriquecido próximo ao nível de pureza para construir uma bomba, fornece à Rússia drones para uso na Ucrânia e reprime brutalmente protestos políticos domésticos.

As linhas gerais das negociações foram confirmadas por três graduados funcionários israelenses, uma autoridade iraniano e uma dos EUA. As autoridades americanas não detalharam os esforços para obter a libertação de prisioneiros em detalhes, somente os descrevendo como uma prioridade urgente dos EUA.

As negociações indiretas, algumas ocorrendo nesta primavera no estado árabe do Golfo de Omã, refletem uma retomada da diplomacia entre os EUA e Irã após o colapso de mais de um ano de negociações para restaurar o acordo nuclear de 2015. Esse acordo limitou drasticamente as atividades do Irã em troca do alívio de sanções.

O Irã acelerou seu programa nuclear meses depois que o ex-presidente Donald Trump se retirou do acordo e impôs uma série de novas sanções ao país em 2018.

Como será esse acordo?

Sob um novo pacto – que duas autoridades israelenses chamaram de “iminente” –, o Irã concordaria em não enriquecer urânio além de seu atual nível de produção de 60% de pureza. Isso está próximo, mas abaixo dos 90% de pureza necessários para fabricar uma arma nuclear, um nível que os Estados Unidos alertaram que forçaria uma resposta severa.

O Irã também interromperia os ataques letais contra americanos na Síria e no Iraque por seus representantes na região, expandiria sua cooperação com inspetores nucleares internacionais e se absteria de vender mísseis balísticos para a Rússia, disseram autoridades iranianas.

Em troca, o Irã esperaria que os EUA evitassem endurecer as sanções que já sufocam sua economia; que não apreendessem petroleiros estrangeiros com petróleo, como fez recentemente em abril; e não buscassem novas resoluções punitivas nas Nações Unidas ou na Agência Internacional de Energia Atômica contra o Irã por sua atividade nuclear.

" Nada disso tem como objetivo chegar a um acordo inovador — disse Ali Vaez, diretor do Irã para o International Crisis Group, uma organização de prevenção de conflitos. Em vez disso, disse ele, o objetivo é “coibir qualquer atividade que basicamente cruze uma linha vermelha ou coloque qualquer uma das partes em posição de retaliar de uma forma que desestabilize o status quo”.

" O objetivo é estabilizar as tensões, criar tempo e espaço para discutir a futura diplomacia e o acordo nuclear — disse Vaez.

O Irã também espera que os Estados Unidos descongelem bilhões de dólares em ativos iranianos, cujo uso seria limitado a fins humanitários, em troca da libertação de três prisioneiros iraniano-americanos que os EUA dizem ter sido detidos injustamente. As autoridades americanas não confirmaram tal ligação entre os prisioneiros e o dinheiro, nem qualquer conexão entre prisioneiros e questões nucleares.

No que pode ser um sinal de um acordo em desenvolvimento, os EUA emitiram uma renúncia na semana passada permitindo que o Iraque pague US$ 2,76 bilhões (R$ 13,2 bilhões) em dívidas de energia com o Irã. O dinheiro seria restrito ao uso de fornecedores terceirizados aprovados pelos EUA para alimentos e remédios para cidadãos iranianos, de acordo com o Departamento de Estado.

Isso poderia dissipar as preocupações de que o governo Biden está colocando bilhões nas mãos de um regime autoritário implacável que mata manifestantes, apoia o esforço de guerra da Rússia na Ucrânia e financia representantes anti-israelenses como o Hamas e o Hezbollah. Os republicanos criticaram o governo Obama por liberar bilhões em dinheiro iraniano congelado, que eles disseram permitir o subsídio de atividades terroristas.

As autoridades iranianas também tentam reivindicar cerca de US$ 7 bilhões (R$ 33,7 bilhões) em pagamentos de compra de petróleo mantidos na Coreia do Sul, que vincularam à libertação de presos americanos. Esse dinheiro também seria restrito para uso humanitário e mantido em um banco do Catar, de acordo com uma autoridade iraniana e várias outras pessoas familiarizadas com as negociações.

O foco renovado dos EUA no programa nuclear do Irã ocorre em meio à crescente preocupação do governo Biden de que o Irã possa precipitar uma crise aumentando ainda mais seu enriquecimento de urânio.

" Os EUA parecem deixar claro ao Irã que, se o país chegar a 90%, pagará um preço muito alto — disse Dennis Ross, que ajudou a elaborar a política do Oriente Médio para vários presidentes dos EUA e falou de Israel, onde se reuniu com autoridades de segurança familiarizadas com as negociações recentes."

Ao mesmo tempo, disse Ross, o governo Biden não tem apetite para uma nova crise.

" Eles querem que a prioridade e o foco permaneçam na Ucrânia e na Rússia — disse ele. — Ter uma guerra no Oriente Médio, onde se sabe como começa, mas não como termina, é a última coisa que querem.

Falando em uma entrevista coletiva na quarta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Matt Miller, disse que os rumores sobre um acordo nuclear – provisório ou não – são "falsos ou enganosos”.

" Nossa política número 1 é garantir que o Irã nunca obtenha uma arma nuclear, então é claro que observamos as atividades de enriquecimento nuclear do Irã — acrescentou Miller. — Acreditamos que a diplomacia é o melhor caminho para ajudar a conseguir isso, mas nos preparamos para todas as opções e contingências possíveis.

A negação dos EUA de um “acordo nuclear” pendente pode depender da semântica, no entanto, se o resultado equivaler ao entendimento informal descrito por vários funcionários. Tal entendimento também evitaria a necessidade de aprovação de um Congresso dos EUA profundamente hostil ao Irã.

Em uma inesperada mudança retórica, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse na quarta-feira que poderia endossar um acordo com o Ocidente se a infraestrutura nuclear do Irã fosse mantida intacta, segundo relatos da mídia estatal. Khamenei também disse que o Irã deveria manter pelo menos alguma cooperação com inspetores nucleares internacionais.

Israel e Irã

Israel alertou que o Irã pode sofrer consequências terríveis por produzir urânio útil para a produção de uma bomba.

— Se o Irã enriquecer a um nível de armamento, de 90%, seria um grande erro e o preço seria alto — disse o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em maio.

Mesmo que o Irã usasse suas centrífugas de alta velocidade para purificar urânio a um nível adequado para fabricar uma arma nuclear, ainda levaria tempo para construir tal bomba. Em março, o presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark A. Milley, disse a um subcomitê da Câmara que o processo pode levar “vários meses”.

— Os militares dos Estados Unidos desenvolveram várias opções para nossa liderança nacional considerar, se ou quando o Irã decidir desenvolver uma arma nuclear — acrescentou Milley.

Um alto funcionário da defesa israelense disse que Israel estima que o Irã levará muito mais tempo — pelo menos um ano e talvez mais de dois anos — para fabricar uma bomba e disse que os comentários de Milley refletem um esforço dos EUA para transmitir a urgência de fechar um novo acordo com o Irã. O mais breve possível.

O Irã há muito insiste que seu programa nuclear é para fins pacíficos, apesar das evidências de que pesquisou capacidades militares nucleares.

Em uma declaração ao The New York Times, a missão do Irã nas Nações Unidas se recusou a abordar detalhes das negociações, mas disse que “é importante criar uma nova atmosfera e avançar a partir da situação atual”.

As negociações renovadas incomodaram algumas autoridades israelenses, que temem que a implementação de novos entendimentos possa reduzir a pressão econômica ocidental sobre o Irã e até mesmo levar a um acordo nuclear mais amplo que, teme Israel, possa lançar uma tábua de salvação para a economia do Irã sem descarrilar suficientemente suas atividades nucleares

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