Mundo

Mísseis e captura de navio elevam tensões entre EUA e Coreia do Norte

A embarcação transportava carvão e maquinaria pesada para a Coreia do Norte

De acordo com o FBI, o cargueiro era usado para transportar de maneira ilícita carvão produzido na Coreia do Norte (Leah Millis/Reuters)

De acordo com o FBI, o cargueiro era usado para transportar de maneira ilícita carvão produzido na Coreia do Norte (Leah Millis/Reuters)

E

EFE

Publicado em 9 de maio de 2019 às 14h56.

Última atualização em 9 de maio de 2019 às 18h54.

Washington — Os Estados Unidos apreenderam um dos principais cargueiros da Coreia do Norte, o Wise Honest, por violar as sanções impostas pela comunidade internacional ao país.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a embarcação estava sendo utilizada para o transporte de carvão e maquinaria pesada, o violando as sanções impostas ao regime de Kim Jong-un.

"A ação civil de hoje é a primeira apreensão de um cargueiro norte-coreano por violar as sanções internacionais", afirmou o promotor do Distrito Sul de Nova York, Geoffrey Berman, em comunicado divulgado pelo Departamento de Justiça.

O Wise Honest é um dos principais cargueiros do país e, segundo o governo americano, era usado para transportar de maneira ilícita carvão produzido pelas indústrias norte-coreanas e para trazer de volta maquinaria pesada para abastecer o regime de Kim Jong-un.

A captura aconteceu depois de Pyongyang lançar pelomenos dois mísseis, e o presidente Donald Trump perguntar abertamente sobre a vontade de Kim Jong Un de negociar seriamente a desnuclearização da península.

O lançamento de dois projéteis — identificados como mísseis de curto alcance pelo Exército sul-coreano —, coincidiu com a visita a Seul de um enviado dos Estados Unidos para tentar desbloquear as negociações sobre a crise nuclear entre Washington e Pyongyang.

Em Nova York, procuradores federais anunciaram que o "Wise Honest" -um dos maiores navios cargueiros norte-coreanos, segundo os Estados Unidos- foi retido por violar as sanções internacionais ao exportar carvão e importar maquinaria.

Na Casa Branca, Trump disse que observa o lançamento de mísseis "muito seriamente" e criticou este passo dado por Pyongyang.

"Eram mísseis pequenos, de curto alcance. Ninguém está contente com isso", disse opresidente a jornalistas.

"A relação continua. Mas vamos ver o que acontece. Sei que querem negociar, falam sobre isso. Mas não penso que estão prontos para negociar", destacou.

Na reunião em Cingapura, em junho de 2018, o líder norte-coreano se comprometeu com Trump a "trabalhar pela desnuclearização completa da península coreana".

Sobre a captura do cargueiro, o Departamento de Justiça não esclarece onde a operação de captura ocorreu, mas afirma que a embarcação está sendo levada para águas sob o domínio dos Estados Unidos.

"O FBI tem o compromisso de garantir que a Coreia do Norte preste contas pelo patente menosprezo das leis americanas", disse no diretor-adjunto da Divisão de Contraespionagem do FBI, John Brown.

A nota afirma que, em abril do ano passado, outro país interceptou o mesmo cargueiro, sem dar mais detalhes sobre o caso.

Advertência sul-coreana

Mas as conversações emperraram após o fracasso do segundo encontro entre os dois chefes de Estado em fevereiro passado no Vietnã. Nesta reunião, Kim pediu o fim das sanções contra seu país, em troca do início do processo de desnuclearização, uma proposta considera muito tímida por Trump

O lançamento de mísseis desta quinta-feira ocorre dias depois de o Exército norte-coreano ter realizado um exercício, no qual vários projéteis foram lançados, incluindo um míssil de curto alcance.

"O Norte disparou o que poderiam ser dois mísseis de curto alcance" da província de Pyongan do Norte, informou nesta quinta o chefe do Estado Maior sul-coreano em um comunicado.

Ele acrescentou que os mísseis, que percorreram 270 e 420 quilômetros, estão sendo analisados pelos militares sul-coreanos e seus aliados americanos.

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, considerou que os disparos poderiam complicar as discussões com os Estados Unidos. "Seja quais forem as intenções da Coreia do Norte, alertamos que esse ato poderia tornar as negociações mais difíceis", declarou à televisão.

Garantias de segurança

Horas antes, o enviado especial dos Estados Unidos para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, desembarcou em Seul para discutir com as autoridades sul-coreanas a abordagem a ser adotada nas negociações nucleares com Pyongyang.

É a primeira visita de Biegun a Seul desde que o presidente americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong Un encerraram sem acordo uma segunda cúpula em Hanói, em fevereiro.

A base de mísseis Sino-ri, de onde teriam partido os disparos, existe a décadas e fica 75 quilômetros a noroeste da capital Pyongyang. O local abriga o equivalente a um regimento e é equipado com mísseis Nodong-1 de médio alcance, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos Internacionais.

Qualquer lançamento realizado a partir de Sino-ri em direção a leste deveria atravessar a península coreana antes de cair no oceano, segundo especialistas.

EUA dizem que seguirão com diplomacia

O secretário de Defesa em exercício dos Estados Unidos, Patrick Shanahan, afirmou nesta quinta-feira que o país seguirá recorrendo à diplomacia em relação à Coreia do Norte, mesmo depois de Pyongyang lançar o que aparentam ser dois mísseis de curto alcance.

"Vamos nos ater à nossa diplomacia e, como todos vocês sabem, não mudamos nossas operações ou nossa postura, e continuaremos gerando a prontidão necessária em caso de a diplomacia falhar", disse Shanahan a repórteres, no lado externo do Pentágono.

Agenda não revelada

Biegun se reuniu com seu colega sul-coreano Lee Do-hoon durante um café da manhã, mas sua agenda política não foi divulgada.

Sabe-se que o emissário americano deve se reunir na sexta-feira com os ministros sul-coreanos das Relações Exteriores e da Reunificação.

Os dois países aliados - Washington tem 28.500 militares posicionados no Sul para fazer frente a possíveis ameaças de seu vizinho do Norte - trabalham juntos na estratégia de negociação com Pyongyang.

Com os disparos desta quinta-feira, "a Coreia do Norte está enviando uma clara mensagem de que não ficará satisfeita com uma ajuda humanitária" de Seul, segundo Hong Min, pesquisador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional.

Pyongyang "diz: 'queremos garantias de segurança em troca de um processo de desnuclearização'", acrescenta.

No encontro histórico com Donald Trump, em junho de 2018, em Singapura, Kim Jong Un prometeu "trabalhar pela completa desnuclearização da península coreana".

Mas o ceticismo aumentou com a falta de avanços concretos e com o fracasso da última reunião entre os dois líderes, em fevereiro passado, em Hanói.

Na ocasião, Kim pediu que as sanções sofridas por seu país fossem suspensas, em troca de iniciar uma desnuclearização que o presidente americano considerou muito tímida.

Na semana passada, Pyongyang alertou os Estados Unidos para o risco de um "resultado indesejável", se o país não ajustar sua posição até o final do ano, depois de três meses de paralisia nas negociações sobre o programa balístico e nuclear da Coreia do Norte.

Acompanhe tudo sobre:Coreia do NorteDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Kim Jong-unSanções

Mais de Mundo

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história

RFK Jr promete reformular FDA e sinaliza confronto com a indústria farmacêutica