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EUA anunciam novas sanções ao programa nuclear iraniano antes de negociações

Departamento do Tesouro americano declarou a imposição de sanções a cinco entidades, incluindo a Organização de Energia Atômica do Irã

Novas sanções ao Irã: EUA impõem restrições à energia nuclear iraniana antes de negociação indireta com o regime de Teerã (Jalaa Marey/AFP)

Novas sanções ao Irã: EUA impõem restrições à energia nuclear iraniana antes de negociação indireta com o regime de Teerã (Jalaa Marey/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 9 de abril de 2025 às 15h48.

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Os Estados Unidos anunciaram novas sanções nesta quarta-feira contra entidades e uma pessoa ligadas ao programa nuclear do Irã, dias antes do início das negociações sobre este tema entre os dois países. O Departamento do Tesouro informou a imposição de sanções a cinco entidades e um indivíduo por seu apoio a “grupos que gerenciam ou supervisionam o programa nuclear do Irã”.

“A busca irresponsável do regime iraniano por armas nucleares continua sendo uma grave ameaça aos EUA, à estabilidade regional e à segurança mundial”, disse o secretário do Tesouro, Scott Bessent, citado em nota.

No anúncio, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), responsável pela aplicação de sanções internacionais, afirmou que dos cinco alvos das medidas, três estão ligados à Organização de Energia Atômica do Irã e dois à Companhia de Tecnologia de Centrífugas do Irã, duas instituições já incluídas na lista de entidades sancionadas. O indivíduo citado está ligado a uma empresa acusada de fornecer peças à Companhia de Tecnologia de Centrífugas.

Em outro comunicado, Tammy Bruce, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou que "os Estados Unidos continuarão a responsabilizar aqueles que buscam apoiar o programa nuclear do Irã, incluindo suas atividades de enriquecimento de urânio sensíveis à proliferação".

Negociações nucleares: encontros indiretos e a possibilidade de um acordo

O anúncio veio dois dias depois do presidente Donald Trump revelar, de forma surpreendente e durante a visita do premier israelense, Benjamin Netanyahu, à Casa Branca, que seu governo negociava de forma direta com o Irã sobre o programa nuclear e que uma reunião de “alto nível” estava planejada para sábado, apesar da ausência de relações diplomáticas entre os dois países há 45 anos.

""Acho que todos concordam que fazer um acordo seria preferível a fazer o óbvio. E o óbvio não é algo com que eu queira me envolver, ou francamente, com que Israel queira se envolver, se puder evitar"" — afirmou Trump na segunda-feira, ao lado do premier de Israel, aparentemente se referindo à opção militar para resolver o impasse.

A posição do Irã e o desafio da confiança mútua

O Irã afirma que desenvolve um programa nuclear para fins civis, especialmente a geração de eletricidade e fins médicos. As alegações são questionadas há mais de duas décadas por governos ocidentais, que acusam Teerã de desenvolver um programa clandestino de armas nucleares, algo rejeitado pela República Islâmica.

O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, confirmou a reunião de sábado em Omã, mas no formato indireto, com representantes se sentando em salas diferentes e as mensagens sendo trocadas por um intermediário. Segundo o diplomata, “é tanto uma oportunidade quanto um teste”, e “a bola está na quadra dos EUA”. Se esse passo for avaliado positivamente, o Irã estaria disposto a passar para as conversas diretas. Ele não indicou se as novas sanções influenciarão as conversas — segundo compilado do site Castellum, há hoje 5.475 medidas contra o Irã, sendo que a maioria aplicada pelos Estados Unidos.

Histórico de tensões e o impacto das sanções

Desde 2015, quando foi firmado o acordo internacional sobre o programa nuclear (rasgado por Trump em 2018), representantes dos governos dos Estados Unidos e do Irã não se sentam na mesma sala — durante o governo de Joe Biden (2021-2025), uma fracassada tentativa de reavivar o acordo, que estipulava limites às atividades nucleares iranianas em troca do alívio de sanções, foi realizada de maneira indireta.

Após sua adoção, naquele ano, inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) puderam ter acesso a instalações como a central de Natanz, monitorando o cumprimento de determinações como o limite ao enriquecimento de urânio a 3,67%, o veto a centrífugas mais avançadas e o limite de material enriquecido armazenado no país.

Mas para Trump, o acordo era benéfico demais aos iranianos, e em 2018 ele retirou os EUA do plano de forma unilateral, impondo novas medidas punitivas. O resultado, na visão de analistas, não poderia ser pior: o Irã deixou de cumprir suas obrigações, elevando o grau de enriquecimento — hoje perto de 60% —, desenvolvendo novas centrífugas e reduzindo o acesso aos inspetores internacionais. Para ser usado militarmente, o urânio precisa ser enriquecido acima de 90%.

A decisão também levou ao empoderamento de setores mais radicais do Estado iraniano e da Guarda Revolucionária, e serviu de incentivo para o fortalecimento do programa de desenvolvimento de mísseis balísticos. Estimativas apontam que se Teerã decidisse ter um arsenal nuclear, se tornando o segundo país do Oriente Médio a ter essas armas — Israel hoje é a única nação na região com ogivas operacionais —, seriam necessárias poucas semanas até que alertas soassem pelo mundo.

Apesar da possibilidade da retomada de um diálogo direto, o que não acontece entre americanos e iranianos desde 2015, as décadas de rivalidade e desconfiança entre os dois lados ainda falam mais alto. Poucos em Teerã acreditam na disposição de Trump em firmar um novo acordo com termos aceitáveis para a liderança local, especialmente Ali Khamenei — o presidente americano parece concordar com a ideia apresentada por Netanyahu de que o programa nuclear iraniano deve ser completamente desmantelado, o que soaria como uma derrota para o regime.

Ao mesmo tempo, Washington deixa claro que o prazo para um acerto, seja ele qual for, é curto. Em carta enviada a Khamenei no mês passado, Trump deu dois meses até que fosse produzido um novo acordo, acenando com a possibilidade de lançar ataques contra o país. Além da retórica, os EUA fortaleceram suas posições no Oriente Médio, com um segundo porta-aviões a caminho do Golfo Pérsico, vindo do Pacífico, a presença de ao menos seis bombardeiros B-2 na base de Diego Garcia, no Oceano Índico, e a instalação de sistemas de defesa aérea em Israel e em bases militares na região.

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