Agência de notícias
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 07h45.
O subsecretário de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, afirmou na quarta-feira, 31, que o candidato oposicionista na Venezuela, Edmundo González, recebeu mais votos do que o presidente, Nicolás Maduro, na eleição ocorrida no domingo, com base em atas divulgadas pela oposição. A declaração foi a mais contundente vinda de uma autoridade de Washington, e deve colocar ainda mais pressão sobre as autoridades venezuelanas, que declararam Maduro o vencedor.
"Está claro que Edmundo González Urrutia derrotou Nicolás Maduro por milhões de votos", disse Nichols, durante reunião na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.
No discurso, o diplomata, o principal do governo de Joe Biden para a América Latina e Caribe, considerou válidas as atas divulgadas pela oposição desde domingo, que apontam para uma diferença considerável a favor de González. O números têm sido divulgados pela internet, apesar das tentativas de bloqueio organizadas pelo regime. O Brasil afirmou que não aceitará contagens paralelas.
"A tabulação destes resultados detalhados mostra claramente uma verdade irrefutável: Edmundo Gónzalez Urrutia venceu com 67% desses votos, em comparação com 30% de Maduro — disse o Nichols, citando números divulgados pelos oposicionistas. E simplesmente não há votos suficientes nos restantes registos de recontagem para superar tal diferença".
O diplomata não sinalizou se a aceitação das atas divulgadas pela oposição é um prelúdio para um eventual reconhecimento de González como presidente eleito, ou se o Departamento de Estado e a Casa Branca poderão adotar outras formas de pressão contra Caracas, incluindo sanções.
Na véspera da fala de Nichols, Biden conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e, segundo a Casa Branca, ambos "concordaram sobre a necessidade de divulgação imediata de dados de votação completos, transparentes e detalhados no nível de seção eleitoral pelas autoridades eleitorais venezuelanas"
"Os dois líderes compartilharam a perspectiva de que o resultado da eleição venezuelana representa um momento crítico para a democracia no hemisfério e prometeram permanecer em estreita coordenação sobre o assunto", dizia o comunicado.
Anunciada no domingo e referendada na segunda-feira, a vitória de Nicolás Maduro foi reconhecida por poucos países, incluindo Irã, Rússia e China, mas questionada por boa parte da comunidade internacional. O Peru chegou, na terça-feira, a reconhecer o oposicionista como o "presidente eleito", mas outros governos, incluindo Brasil, Colômbia e México, tentam convencer Caracas a divulgar as atas individuais das seções, o que, alega a oposição, comprovaria que o chavista foi derrotado.
Maduro prometeu entregar as atas, mas sem especificar quando, ao mesmo tempo em afirmou que
os líderes opositores que denunciam fraude "devem estar atrás das grades".
"Ou sabem que os resultados reais mostram que Edmundo González venceu claramente as eleições e não querem compartilhar os resultados. Ou sabem que os resultados reais mostram que Edmundo González venceu claramente as eleições e a CNE de Maduro precisa de tempo para preparar resultados falsificados para apoiar sua declaração falsa", disse Nichols na OEA.
Desde o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de que Maduro havia vencido a disputa com 51,2% dos votos, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra os resultados, com o apoio de lideranças de oposição, incluindo María Corina Machado, inabilitada por 15 anos. O Ministério Público afirma que 1.062 pessoas foram presas desde segunda-feira, e a ONG Foro Legal afirma que 13 pessoas morreram, um número não confirmado pelo governo.
Além do discurso de Brian Nichols, a reunião da OEA foi marcada pela rejeição de uma resolução para exigir transparência ao governo da Venezuela sobre as eleições do último domingo. A proposta exigia, entre outras coisas, que o CNE "publicasse imediatamente os resultados das eleições presidenciais de cada centro de votação", bem como "uma verificação integral dos resultados na presença de observadores internacionais para garantir a transparência, credibilidade e legitimidade" do pleito.
Apesar de receber 17 votos a favor, o texto não obteve os 18 necessários no plenário para ser aprovado — não houve votos contrários, mas 11 nações se abstiveram, incluindo Brasil e Colômbia. Cinco países não compareceram à reunião, incluindo a própria Venezuela.
"Depois nos perguntamos por que nossos cidadãos, principalmente nossos jovens, não acreditam nos políticos", declarou o representante do Peru na OEA, Javier González-Olaechea. — Todos aqui, incluindo os ausentes e os que se abstiveram, votaram a favor da Carta Democrática [da OEA], instrumento pensado para abortar os regimes que querem se perpetuar no poder.