Kerry conversa com o colega sul-coreano, em Seul: "seria um grande erro de sua parte, já que isolaria ainda mais o país", disse (Paul J. Richards/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2013 às 12h13.
Seul - O secretário americano de Estado, John Kerry, advertiu a Coreia do Norte, nesta sexta-feira, sobre um eventual disparo de míssil, que seria um grande erro, no mesmo dia em que Pyongyang ameaçou o Japão com um ataque nuclear caso o país se envolva no conflito.
John Kerry expressou o pleno apoio dos Estados Unidos ao seu aliado sul-coreano, classificou de inaceitável a retórica belicista da Coreia do Norte e também encorajou a China a apaziguar seu vizinho, do qual é sua única aliada e apoio econômico.
"Se Kim Jong-Un decidir lançar um míssil, seja sobre o mar do Japão ou em qualquer outra direção, estará escolhendo obstinadamente ignorar toda a comunidade internacional", disse Kerry aos jornalistas em Seul durante uma coletiva de imprensa por ocasião da primeira escala de seu giro asiático.
"Seria um grande erro de sua parte, já que isolaria ainda mais o país", disse Kerry.
Kerry pediu mais uma vez à China que exerça sua influência sobre a Coreia do Norte.
Os líderes norte-coreanos "devem se preparar para viver segundo as obrigações e os critérios internacionais que eles aceitaram", declarou John Kerry. A China tem "um enorme potencial para fazer a diferença sobre este tema", acrescentou.
O secretário de Estado viajará no sábado a Pequim e no domingo irá ao Japão.
Nesta sexta-feira, as autoridades americanas e sul-coreanas se esforçaram para atenuar as alegações de um representante republicano dos Estados Unidos, segundo as quais a Coreia do Norte teria a capacidade para miniaturizar uma carga nuclear e armá-la em um míssil.
Em um editorial publicado na noite desta sexta-feira pela agência oficial norte-coreana KCNA, Pyongyang ameaçou o Japão com "chamas nucleares". Classificou de provocantes as declarações de Tóquio que disse que poderia interceptar um míssil lançado por Pyongyang que ameaçasse o território japonês.
O regime norte-coreano advertiu que tal gesto correria o risco de afundar o Japão em "chamas nucleares". E acrescentou: "O Japão está na mira de nosso exército revolucionário e, se o Japão fizer o menor gesto, a centelha da guerra tocará primeiro" este país.
O ministério japonês da Defesa não quis comentar estas declarações, mas indicou que tomará "todas as medidas necessárias para responder a qualquer tipo de cenário".
De maneira preventiva ao disparo de mísseis de médio alcance que pode ocorrer muito em breve, talvez na segunda-feira, aniversário do nascimento do fundador da dinastia comunista, Tóquio deu a autorização formal às Forças de Autodefesa (nome oficial do exército japonês) de destruir qualquer míssil norte-coreano que ameace o território japonês.
Neste sentido, Tóquio anunciou a instalação de baterias de mísseis Patriot no centro da capital japonesa e em seus arredores. Também comunicou sobre a mobilização de destróieres no mar do Japão equipados com o sistema de radar Aegis e com meios de interceptação.
Na quinta-feira, o representante republicano do Colorado (oeste), Doug Lamborn, citou parte de um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA) americana, afirmando que Pyongyang seria capaz de miniaturizar uma carga nuclear e armá-la em um míssil balístico, embora com uma confiabilidade que seria muito fraca.
Mas os Estados Unidos não acreditam que a Coreia do Norte esteja em condições de lançar um míssil nuclear, declarou pouco depois à AFP um funcionário de alto escalão do governo americano.
Dúvidas compartilhadas pelo Pentágono, assim como por Seul.
Segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, "seria inexato sugerir que a Coreia do Norte testou, desenvolveu ou demonstrou completamente as capacidades nucleares referidas" no polêmico relatório da inteligência.
Para o ministério sul-coreano de Defesa, "a Coreia do Norte realizou três testes nucleares, mas continua sendo duvidoso que a Coreia do Norte tenha fabricado uma ogiva nuclear suficientemente pequena e leve para ser colocada em um míssil".
Mas o Norte "se dirige a esta etapa", declarou à imprensa o porta-voz Kim Min-Seok.
Durante a coletiva de imprensa, Kerry também ressaltou que os Estados Unidos apoiam a visão do novo governo sul-coreano a favor da construção de um vínculo de confiança com a Coreia do Norte.
Durante sua campanha eleitoral, a nova presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, se distanciou da intransigência que caracterizava a política em relação à Coreia do Norte do então presidente, Lee Myung-Bak, que havia suspendido a ajuda humanitária a Pyongyang.
Mas a chegada oficial de Park à frente da Coreia do Sul (no fim de fevereiro) coincidiu com a brusca escalada de tensões na península.
Por sua vez, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, declarou nesta sexta-feira que é favorável à organização de negociações na Suíça com a Coreia do Norte, como propôs Berna durante a reunião do chanceler suíço Didier Burkhalter em Neuchatel com seu colega russo.
Participaria o grupo de seis países (Estados Unidos, Japão, Rússia, China e as duas Coreias) que mantiveram seis reuniões entre 2003 e 2007 pelo programa nuclear norte-coreano. Em 2009, Pyongyang anunciou que se retirava deste processo devido às sanções da ONU por suas atividades nucleares.