Washington/Luhansk - O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, acusou agentes e forças especiais russas nesta terça-feira de fomentar tumultos separatistas no leste da Ucrânia, dizendo que Moscou pode estar tentando se preparar para uma ação militar como a da Crimeia.
Manifestantes armados pró-Moscou ainda ocupavam nesta terça-feira edifícios do governo ucraniano em duas cidades no leste, cuja maioria da população é russófona, embora a polícia tenha encerrado uma terceira ocupação em uma operação-relâmpago noturna.
O serviço de segurança da Ucrânia disse que os separatistas que ocupam seu quartel-general em Luhansk plantaram bombas no prédio e que têm até 60 reféns. Os ativistas no local negaram ter explosivos ou reféns, mas disseram ter tomado um arsenal repleto de rifles automáticos.
O governo da Ucrânia diz que as ocupações que começaram no domingo são parte de um plano liderado pela Rússia para desmembrar o país, e Kerry declarou temer que Moscou possa repetir sua operação na Crimeia.
"Está claro que agentes e forças especiais russas foram o catalisador do caos das últimas vinte e quatro horas", disse ele em Washington, acrescentando que "isto tem o aspecto de um pretexto elaborado para uma intervenção militar, como vimos na Crimeia".
Moscou anexou a península do mar Negro no mês passado depois de um referendo realizado quando as tropas russas já tinham tomado o controle da região.
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1. Vida nova com Vladimir Putin
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1/13 (REUTERS/Thomas Peter)
São Paulo – Depois de um polêmico referendo, a região da
Crimeia é, para todos os efeitos, parte da
Rússia. Assim, saem as leis ucranianas e entram as leis russas. Não são apenas bandeiras e simbolismos que irão mudar na vida das 2,5 milhões de pessoas que ali vivem. Algumas leis mudarão pequenas coisas. Outras, trarão para a Crimeia grandes mudanças – a mentalidade radical e conservadora na Rússia de
Vladimir Putin. Conheça a seguir 11 dessas leis:
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2. 1. A lei contra a "propaganda gay" passará a valer
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2/13 (REUTERS/Neil Hall)
O povo da Crimeia se submeterá a uma recente - e polêmica - lei russa, que proíbe a "propaganda gay". Um casal gay se beijando em público se encaixaria na lista de práticas ilegais, por exemplo. A Ucrânia já tinha uma lei similar, mas ainda estava em análise no Parlamento.
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3. 2. Novo fuso horário
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3/13 (Artur Bainozarov/Reuters)
A Crimeia passará a adotar os fusos horários de Moscou. Assim, colocará a Crimeia duas horas na frente da Ucrânia em boa parte do ano; e três horas na frente em alguns meses do ano.
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4. 3. Visto será obrigatório para estrangeiros
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4/13 (Vasily Fedosenko/Reuters)
Nos últimos anos, a Ucrânia não pedia vistos de turistas internacionais da maioria das nações desenvolvidas. Isso deu um impulso para a economia local. Já a Rússia faz questão de exigir o visto e os obriga a passar por um burocrático e longo processo de requerimento. A nova política linha-dura deve afastar muitos turistas europeus da região.
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5. 4. Sem bebida depois das 23h
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5/13 (David Mdzinarishvili/AFP)
Desde 2013, os russos não podem comprar bebidas alcoolicas nas lojas depois das 23h, em uma tentativa de diminuir os casos de alcoolismo e abuso de bebida. Na Ucrânia, não havia restrições do tipo.
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6. 5. Exames universitários? Só se falar russo
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6/13 (Andrey Smirnov/AFP)
Na Ucrânia, onde várias línguas são faladas - ucraniano, língua tártara, russo - os exames para entrar nas universidades permitem diferentes expressões. Na Rússia, onde também há diversas línguas, as universidades aceitam apenas o russo. É o que deve acontecer na Crimeia (onde se fala russo, principalmente, mas também ucraniano e língua tártara)
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7. 6. O serviço militar será obrigatório
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7/13 (Baz Ratner/Reuters)
Desde 2013, a Ucrânia não exigia mais o serviço militar de seus cidadãos. Na Rússia, ele continua obrigatório. Para os jovens da Crimeia que não esperavam servir, o futuro agora é certo: alistamento. E para defender a Rússia, não a Ucrânia.
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8. 7. Para comprar um chip de celular, mostre o passaporte
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8/13 (Photobucket / meme_168)
Para comprar um simples chip SIM de celular na Rússia, exige-se o passaporte. Assim será na nova Crimeia. Antes de cair, o presidente ucraniano Viktor Yanukovych tentou criar a mesma lei no país - uma maneira de controlar e vigiar mais facilmente a população e os manifestante.
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9. 8. Problemas para combater a Aids
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9/13 (Marcelo Camargo/ABr)
Desde o fim da União Soviética, russos e ucranianos viveram um rápido crescimento de casos de Aids - principalmente, por conta do uso de drogas injetáveis. Na Ucrânia, medidas do governo ajudaram a controlar a epidemia. Na Rússia, os esforços contra a doença nunca foram tão intensos. O combate à doença na Crimeia pode piorar se as medidas e campanhas de saúde russas passarem a vigorar.
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10. 9. Nova moeda
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10/13 (REUTERS/Vasily Fedosenko)
A Crimeia usava a moeda ucraniana, o hryvnia. Agora, usará o rublo, a moeda russa. Líderes da Crimeia estão planejando um período de transição, com as duas moedas sendo aceitas.
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11. 10. ONGs locais perderão força
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11/13 (AFP/Getty Images)
Em 2012, a Rússia fechou a torneira de fundos das ONGs locais. Putin aprovou uma lei que submetia as organizações a um rigoroso processo de investigação para liberar verbas. Na realidade, era uma maneira de descobrir o que Putin chamada de "agentes estrangeiros" - espiões. O ex-presidente ucraniano Yanukovych tentou criar lei semelhante, sem sucesso. Agora, as ONGs da Crimeia passarão pelo pente fino russo.
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12. 11. A internet será censurada
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12/13 (Getty Images)
Na Rússia, há uma lista de sites proibidos desde 2012. Sites que não podem ser acessados de dentro do país. Segundo o governo, estão bloqueados sites de pornografia infantil, drogas e suicídio. Na realidade, a medida serve para bloquear sites de oposição ao governo. Agora o povo da Crimeia também não poderá acessar determinados sites.
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13. Agora veja quem poderia entrar em uma briga com a Rússia
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13/13 (REUTERS/Baz Ratner)
Mais cedo, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, desqualificou as acusações ocidentais de que Moscou está desestabilizando a Ucrânia, dizendo que a situação só pode melhorar se Kive levar em conta os interesses das regiões de fala russa.
Tiros foram disparados, uma granada atirada e 70 pessoas detidas quando as autoridades ucranianas encerraram a ocupação da cidade de Kharkiv durante uma ação "antiterrorismo" de 18 minutos, informou o ministério do Interior.
Mas em outras partes do coração industrial do leste ucraniano, ativistas armados com fuzis Kalashnikov protegidos por barricadas de arame farpado prometeram não voltar atrás em sua exigência -- uma votação para voltar ao controle de Moscou.
Na cidade de Luhansk, um homem vestido com uniforme camuflado disse a uma multidão do lado de fora do edifício de segurança estatal ocupado: "Queremos um referendo sobre o status de Luhansk e a volta do russo como língua oficial".
O impasse do Kremlin com o Ocidente derrubou a confiança dos investidores na economia russa, e nesta terça-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua previsão de crescimento russo no ano para 1,3 por cento, menos da metade dos três por cento que tinha projetado inicialmente.
A Grã-Bretanha teme que a Rússia queira interromper os preparativos para a eleição presidencial do mês que vem na Ucrânia, que vem sendo administrada por um governo interino desde a deposição do presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou, em fevereiro.
A Ucrânia, que foi controlada por Moscou até o colapso da ex-União Soviética mais de duas décadas atrás, está mergulhada no caos desde o final do ano passado, quando Yanukovich rejeitou relações mais estreitas com a União Europeia e reaproximou o país da Rússia, o que provocou protestos em massa nos quais mais de 100 pessoas foram mortas pela polícia e que fizeram Yanukovich deixar o cargo, levando à perda do controle de Kiev sobre a Crimeia.
Em Kiev, o ministro do Interior, Arsen Avakov, atribuiu parte de responsabilidade pela ocupação de Kharkiv ao presidente russo, Vladimir Putin. "Tudo isso foi inspirado e financiado pelo grupo Putin-Yanukovich", disse.