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Estupros disparam nos EUA por cultura do futebol americano

A cultura de futebol americano universitário está causando centenas de estupros relatados a cada ano, indica novo estudo

Líderes de torcida sentadas: relatos de agressores universitários estuprando vítimas universitárias aumentam em 58 % em dia de competições locais de futebol americano (Thinkstock)

Líderes de torcida sentadas: relatos de agressores universitários estuprando vítimas universitárias aumentam em 58 % em dia de competições locais de futebol americano (Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 21h56.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2019 às 17h08.

A cultura de futebol americano universitário está causando centenas de estupros relatados a cada ano, indica novo estudo.

As principais descobertas:

  • Estupros relatados crescem em 41% em dia de jogos de futebol americano universitário.
  • Relatos de agressores universitários estuprando vítimas universitárias aumentam em 58 % em dia de competições locais de futebol americano.
  • Registros de estupros em que a vítima não conhece o agressor aumentam em 61% no dia de campeonatos locais.
  • Os jogos de futebol americano podem estar ligados a 770 estupros na rede universitária por ano.

Jogos locais nas principais universidades que mantém o futebol americano são um terreno fértil para abusos sexuais e são diretamente responsáveis por centenas de estupros adicionais em áreas próximas ao evento a cada ano, de acordo com um novo estudo publicado no (National Bureau of Economic Research) Agência Nacional de Pesquisa Econômica.

E existe uma razão pouco comum por trás do aumento dos estupros: Pessoas que as vítimas não conhecem.

Os pesquisadores descobriram que os estupros relatados por vítimas entre 17 e 24 anos aumentam em 28% em dias de jogos de futebol americano nas universidades que abrigam os melhores times de futebol americano nas universidades. Relatos de estupro aumentam ainda mais em dias de competições locais, aumentando em 41%.

O estudo usou informações criminais do FBI coletadas entre 1991 e 2012 de 138 departamentos de polícia locais e em campus universitários para comparar o número de estupros relatados em dias de jogos com o número de registros em dias em que não havia jogos.

A pesquisa contabilizou o número de relatos de estupro que geralmente ocorrem em um dia específico da semana ou um horário do ano, o que parece corroborar com boa parte da temporada de futebol americano que ocorre durante a conhecida "Red Zone" entre o inicio das aulas e o Dia de Ação de Graças, quando mulheres universitárias do primeiro ano estão particularmente suscetíveis ao abuso.

Em total, os pesquisadores foram capazes de analisar 96 escolas de futebol americano da Primeira Divisão – 55 delas eram escolas FBS (elite da NCAA, a liga universitária) e 41 eram escolas da Subvisão do Championship (FCS).

“O que nós realmente queremos fazer neste estudo é quantificar até que ponto as festas e consumo de álcool são responsáveis causando esses relatos de estupro e é por isso que nós decidimos investigar os efeitos dos jogos de futebol americano da Primeira Divisão", disse Jason Lindo, professor associado de economia na Universidade do Texas A&M e um dos coautores do estudo.

Até agora a estimativa oscila para as duas direções dependendo o quanto você atribui o aumento de casos de estupro ao afluxo de pessoas na área em dia de jogos – mais pessoas podem apenas significar maiores chances de estupro -- ou uma mudança de comportamento associado ao consumo de álcool e uma cultura de festa.

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O aumento é mais expressivo entre adultos em idade universitária, entre 17 e 24 anos. Os pesquisadores estimaram que os estupradores nessa idade aumentaram em 58% no dia de competições locais. E embora exista mais evidência de um aumento em vítimas de estupro entre os 25 e 28 anos, quase nenhuma das vítimas estavam entre 13 e 16.

Lisa Maatz, vice-presidente de relações governamentais da American Association Of University Women (Associação Americana de Mulheres Universitárias), não ficou tão surpresa com as descobertas desse importante relatório, mas com outro fato: os responsáveis pelo aumento de estupros em dias de jogos são agressores que as vítimas não conhecem.

Os pesquisadores descobriram que os estupros relatados envolvendo um agressor que a vítima não conhecia aumentaram em 61% em dias de competições locais e 29% durante jogos fora.

Esses números representam um alarmante aumento em estupros por agressores desconhecidos, já que estudos anteriores mostraram que pelo menos 9 de 10 mulheres vítimas de abuso em idade universitária conheciam o agressor. Esse tipo de estupro menos comum parece predominar muito mais em dias de jogos.

Os pesquisadores apontaram outros sinais que indicam que os estupros estão diretamente associados à cultura de futebol americano nas universidades.

Os jogos contra rivais pareciam indicar um aumento abrupto nos casos de estupros relatados, como o caso de vitórias em viradas (notavelmente em escolas que não tinham tido um aumento significativo de casos relatados de estupros quando o oponente ganhava em uma virada). E embora os jogos fora que eram televisados aparentassem causar um número bem menor, mas ainda assim notável, de aumento de estupros relatados, isso não ocorria em jogos que não tinham sido transmitidos na TV.

Os efeitos também foram sentidos bem menos em escolas fora da elite do futebol americano universitário, onde o esporte é um aspecto menos relevante entre os estudantes. Nesses casos, os jogos locais sugerem um aumento de 31% em estupros relatados enquanto os jogos fora de casa não tiveram nenhum efeito. Os jogos da II Divisão e da III Divisão pareciam não ter nenhum efeito no número de estupros relatados.

Embora a evidência seja alarmante, Maatz foi enfático em dizer que este não é só um problema universitário ou um problema do futebol americano, mas um problema americano.

"[O problema] está na cultura de estupro no geral e isso não é exclusivo de campus universitários”, disse Maatz. “É uma importante área de pesquisa, mas não resolve o problema nem responde todas as questões”.

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