Alemanha: Manifestação da extrema-direita reuniu mil pessoas no último sábado e teve que ser contida com força policial (picture alliance/Getty Images)
AFP
Publicado em 27 de abril de 2020 às 09h51.
Até agora elogiada por sua resposta à epidemia do novo coronavírus, a chanceler alemã, Angela Merkel, começa a criticada pela opinião pública de seu país, que deseja uma flexibilização das medidas drásticas adotadas na crise de saúde.
A chanceler defende um "desconfinamento" progressivo e critica a falta de paciência da população, que sofre restrições há um mês e meio e teme as consequências econômicas das medidas.
Até o momento, a estratégia adotada pela Alemanha permite ao país registrar uma taxa de letalidade inferior a de seus principais vizinhos, o que garantiu a Merkel o apoio de grande parte da opinião pública.
A situação provocou um aumento expressivo da popularidade da chanceler, que há poucos meses era considerada uma política com prazo de validade. Seu movimento conservador CDU/CSU ganhou 10 pontos em dois meses nas pesquisas e atingiu 38% das intenções de voto.
O clima político está mudando, porém, as críticas surgem agora dentro de seu próprio partido, a União Democrata-Cristã.
O presidente da Câmara dos Deputados, Wolfgang Schäuble, uma figura política muito respeitada, advertiu contra restrições prolongadas dos direitos fundamentais dos cidadãos. "Quando escuto que qualquer outra consideração deve ceder à proteção da vida, acredito que este absolutismo não é justificado", afirmou no fim de semana ao jornal Tagesspiegel.
Outro líder do partido CDU, Armin Laschet, candidato à sucessão de Angela Merkel e presidente da poderosa região da Renânia do Norte-Westfália, iniciou um debate com a chanceler e defende o fim acelerado do confinamento. "Claro que se trata de um assunto de vida ou morte", declarou ao canal ARD, "mas também devem ser considerados os danos que o confinamento provoca, por exemplo, nas crianças que estão trancadas em suas casas há seis semanas".
Laschet criticou as previsões pessimistas, em sua opinião, dos virologistas que são ouvidos pela chanceler - que tem formação científica - e destacou que, em sua região, "40% dos leitos de UTI estão vazios".
O jornal Bild, o mais lido da Alemanha, intensificou as críticas na edição desta segunda-feira e em um editorial pediu à chanceler o "fim de sua teimosia".
Até agora discreta, a oposição também começou as críticas. O presidente do partido liberal FDP, Christian Lindner, acaba de decretar "o fim da grande unidade" nacional sobre o coronavírus.
O FDP está preocupado com o impacto econômico nas pequenas e médias empresas. Também critica as restrições às liberdades individuais impostas pelas autoridades. Esta opinião é repetida por vários movimentos extremistas.
No sábado (25), em Berlim, quase mil pessoas da extrema-direita, mas também da direita identitária, reuniram-se para defender a "resistência democrática" ante um Estado autoritário sob o pretexto do confinamento. Mais de 100 pessoas foram detidas, e uma nova manifestação foi convocada para 1º de maio.
A extrema direita, principal força de oposição na Câmara dos Deputados, também expressou críticas. "O confinamento generalizado poderia ter sido evitado, e agora não conseguimos sair dele com êxito", afirmou um dos líderes do partido Alternativa para Alemanha (AfD) Sebastian Münzenmaier. "Todas as lojas deveriam ser reabertas. A população deve ter sua liberdade devolvida", completou.
A AfD não consegue mais aproveitar o tema imigração, assunto relegado a segundo plano na crise atual, mas seu momento pode chegar. "O partido pode aproveitar as consequências a longo prazo da pandemia, com um exasperado coquetel de recessão, aumento do desemprego e falências de pequenas empresas", alertou a revista Die Zeit.