O Parlamento iraquiano aprovou a expulsão das tropas americanas após o assassinato do general iraniano (Tamir Kalifa/Getty Images)
AFP
Publicado em 10 de janeiro de 2020 às 17h42.
Última atualização em 10 de janeiro de 2020 às 17h44.
Os Estados Unidos recusaram nesta sexta-feira (10) o requerimento do Iraque para começar a discutir a retirada de seus 5.200 soldados mobilizados no país, após a morte de um alto general iraniano em Bagdá, em um ataque realizado pelos próprios americanos.
Incomodados pelo assassinato, visto como uma violação da soberania iraquiana e como uma maneira de voltar a mergulhar o país numa guerra, o primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdel Mahdi, pediu ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que envie uma delegação para começar os preparativos para a retirada das tropas.
O Departamento de Estado respondeu que está pronto para "uma conversa", mas não para retirar seus soldados.
"Nesse momento, qualquer delegação enviada ao Iraque discutiria a melhor maneira de revalidar nossa parceria estratégica, mas não discutiria uma retirada de tropas", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus.
"Queremos ser amigos e parceiros de um Iraque soberano, próspero e estável", acrescentou a porta-voz, referindo-se aos Estados Unidos como "uma força para o bem".
O presidente Donald Trump considerou que a invasão do Iraque em 2003 foi um erro e, no passado, afirmou que o envio de tropas naquele país e em outros lugares é um desperdício.
No entanto, o presidente respondeu com enfado aos pedidos do Iraque para remover as tropas americanas do país, mesmo ameaçando com sanções um país que considera um parceiro americano.
Pompeo disse à imprensa que a missão dos militares dosEstados Unidos no Iraque "é muito clara", e está relacionada ao treinamento das forças militares locais e à luta contra o grupo extremista do Estado Islâmico.
O Parlamento do Iraque votou no domingo a retirada de tropas estrangeiras do país, motivado pela revolta pelo ataque de drones ordenado pelos Estados Unidos em 3 de janeiro passado em Bagadá, no qual foi assassinado o general iraniano Qassem Soleimani.
Milhares de iraquianos foram às ruas nesta sexta-feira para protestar contra a influência dos Estados Unidos e do Irã na política interna, já que a tensão entre os dois países ameaça mergulhar o Iraque numa nova guerra.
Na Praça Tahrir de Bagdá, assim como em várias cidades do sul do Iraque, milhares de iraquianos marcharam aos gritos de "Não ao Irã! Não à América", em passeatas de escala sem precedentes em semanas, constataram jornalistas da AFP.
Há vários dias, nas redes sociais, chamadas foram feitas para relançar o movimento social iniciado em 1º de outubro nesta sexta-feira, 10 de janeiro.
Desde a noite de quinta, confrontos foram registrados entre manifestantes e policiais em Kerbala (sul), enquanto militantes foram presos em Basra (sul), informaram correspondentes da AFP.
Há mais de três meses, os iraquianos denunciam seus líderes, acusados de serem "incompetentes" e "ladrões" no décimo segundo país mais corrupto do mundo, segundo a organização Transparência Internacional.
A classe dominante está em apuros há semanas e não consegue chegara a um acordo para nomear um substituto para o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi e seu governo.
"Ao relançar as manifestações, mostramos nosso apego às demandas da revolução de outubro: que nossos líderes parem de monopolizar os recursos de nosso país", disse à AFP Haydar Kazem em Nassiriya (sul).
A invasão americana que derrubou o ditador Saddam Hussein causou um derramamento de sangue em todo o país e permitiu uma influência crescente do inimigo de Saddam, o Irã, que, como o Iraque, tem uma maioria muçulmana xiita.
Após uma retirada ordenada pelo ex-presidente Barack Obama, as tropas dos Estados Unidos foram convidadas em 2014 pelo Iraque a ajudar a derrotar o grupo extremista EI.
Mas durante o governo Trump, o Iraque se tornou cada vez mais um campo de batalha entre os Estados Unidos e o Irã, que também lutou contra o EI.
Milícias xiitas apoiadas pelo Iraque e apoiadas pelo Irã lançaram mísseis esta semana contra bases americanas no Iraque, enquanto o governo dos EUA está tentando pressionar o Irã com pesadas sanções econômicas.
Trump pediu que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se envolvesse mais no Oriente Médio, um movimento para aumentar o apoio internacional a suas ações contra o governo iraniano.
Sem dar mais detalhes, Pompeo disse que uma delegação da Otan estava conversando nesta sexta-feira em Washington sobre "a distribuição de responsabilidades na região".