Catalunha: "Serão 2.315 colégios eleitorais, 207 deles em Barcelona e 6.949 mesas de votação", informou porta-voz (Susana Vera/Reuters)
AFP
Publicado em 29 de setembro de 2017 às 18h43.
A dois dias do referendo de autodeterminação proibido pela Justiça espanhola, os dirigentes separatistas da Catalunha explicaram nesta sexta-feira (29) como será realizada a votação diante do aparato policial e judicial em torno de sua organização.
Após cinco anos pedindo a consulta sobre a independência dessa região de 7,5 milhões de habitantes, reiteradamente rejeitada pelo governo espanhol de Mariano Rajoy, o presidente catalão Carles Puigdemont decidiu levá-la adiante, desobedecendo as proibições judiciais.
Em coletiva de imprensa, o governo regional deu alguns detalhes sobre a organização da votação, para a qual estão convocados 5,3 milhões de cidadãos de uma região que representa 19% do PIB espanhol.
"Serão 2.315 colégios eleitorais, 207 deles em Barcelona e 6.949 mesas de votação", informou o porta-voz Jordi Turull, um número similar aos 2.700 instalados nas eleições regionais de 2015.
Alguns serão instalados em espaços pouco habituais, como banheiros públicos, ou praças, nos quais o governo regional pretende montar barracas para realizar a votação, explicou o porta-voz.
As lideranças separatistas mostraram pela primeira vez as urnas que serão usadas e que são, há semanas, procuradas pelos corpos de segurança: caixas de acrílico com uma tampa preta e abertura para introdução das células.
A consulta permanece cercada de incertezas, porém: uma grande quantidade de material eleitoral foi apreendida, departamentos-chave para sua organização estão sendo controlados de perto pela Polícia, o órgão de supervisão eleitoral teve de ser dissolvido, e a Justiça ordenou o fechamento das sedes de votação.
"Sabemos que no dia 1º de outubro haverá muitas dificuldades, mas também sabemos que, diante de cada dificuldade, haverá duas soluções", tentou tranquilizar Puigdemont, em declarações na quinta-feira.
As incógnitas são muitas.
O organismo criado para supervisionar o sufrágio foi dissolvido quando seus membros receberam multas diárias de 12.000 euros por desobedecer ao Tribunal Constitucional, e o departamento governamental encarregado de contar os votos foi revistado na semana anterior pela Polícia.
Além disso, uma juíza, que investiga o governo regional por desobediência, desfalque e prevaricação, ordenou na quarta-feira às polícias na região o fechamento dos diferentes espaços (escolas, clubes e até centros de saúde) designados como pontos de votação.
A Polícia regional catalã se mostrou reticente a cumprir esta instrução, alegando o "mais que previsível risco de alterações na ordem pública que poderia derivar" dessa ação.
O Ministério do Interior espanhol, que coordena o dispositivo de segurança para a votação, insiste na necessidade de atuação da Polícia catalã, força que é subordinada ao governo regional. De qualquer modo, o Ministério conta com milhares de policiais federais e com guardas civis, enviados como reforço para essa região.
A crise econômica e a decisão parcial, por parte do Tribunal Constitucional, de um estatuto regional aprovado em referendo em 2006 dando mais autonomia à Catalunha fizeram crescer exponencialmente o sentimento separatista na região.
Na última pesquisa do governo regional, em julho passado, 41,1% dos entrevistados queriam a independência contra 49,4% que eram contrários, ou que ainda não sabiam se participariam da votação ilegal e pouco transparente, a qual sequer teve campanha eleitoral.
"Prefiro ficar com o que já conheço do que com o que está por vir, porque pode ser muito bom, ou muito ruim", justificou a fisioterapeuta Lorena Torrecillas, de 27 anos, de Barcelona, ainda indecisa.
A firme oposição de Madri à votação parece ter mobilizado alguns votantes. Segundo uma pesquisa do jornal digital eldiario.es, a participação de domingo deve chegar a 63,3% contra os 52,9% previstos há duas semanas.