Simpatizantes da Frente Ampla carregam bandeiras: Vázquez receberia entre 52% e 55% dos votos (Daniel Caselli/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2014 às 15h35.
Montevidéu - A esquerda uruguaia está pronta para comemorar: o candidato e ex-presidente Tabaré Vázquez é o grande favorito para vencer as eleições de domingo contra o candidato de centro-direita Luis Lacalle Pou.
No total, 2,6 milhões de uruguaios estão registrados para votar e escolher o sucessor de José Mujica no segundo turno. Todas as pesquisas apontam o triunfo de Vázquez, que receberia entre 52% e 55% dos votos, contra algo entre 37% e 40% para o candidato do Partido Nacional (PN), Lacalle Pou.
Com muita empolgação, os simpatizantes da Frente Ampla (FA) celebraram na quinta-feira em um parque de Montevidéu o ato de encerramento da campanha. Vázquez se comprometeu a "melhorar, avançar e aprofundar o programa e o projeto político da esquerda".
Para várias pessoas que compareceram ao comício, a vitória parece assegurada.
Antes do primeiro turno, as pesquisas apontavam uma eleição disputada e que a FA perderia a maioria parlamentar, mas a votação deixou Vázquez muito perto da vitória.
Com 47,8% dos votos, a FA conquistou a maioria das cadeiras de deputados e deu um grande passo para derrotar Lacalle Pou, que recebeu 30,9% dos votos.
Vinte e cinco anos depois de ser o primeiro político de esquerda a vencer uma eleição municipal (Montevidéu) no país, Vázquez foi cauteloso e advertiu na quinta-feira que nada estava garantido.
Ele convocou os eleitores a desafiar a chuva prevista para domingo e confirmar a decisão nas urnas.
A história se repete
Se a vitória da FA for concretizada, em 1º de março de 2015 Mujica devolverá a faixa presidencial que Vázquez entregou em 2010, depois de concluir o primeiro mandato de esquerda na história do pequeno país sul-americano.
O socialista, oncologista, maçom e ativista contra o cigarro receberá o governo do ex-guerrilheiro de 79 anos, que à frente do país ganhou fama mundial por seus discursos a favor da paz, contra o consumismo e pela promoção de leis como a polêmica regulamentação do mercado de maconha.
Assim como Vázquez ao fim do mandato, Mujica chega aos últimos meses de seu governo com um índice de aprovação superior a 60%. Apenas 17% dos uruguaios desaprovam o desempenho de 'Pepe' como presidente, segundo uma pesquisa da 'Equipos Consultores'.
Mujica, no entanto, deixará para o sucessor algumas tarefas pendentes, como a implementação da venda de maconha em farmácias, medida prevista pela lei que o Congresso aprovou em dezembro de 2013 e que ainda precisa ser concretizada.
Outro tema defendido por Mujica - e que assim como a legalização da maconha provoca críticas de parte da população -, a possível chegada de seis presos de Guantánamo na condição de refugiados, ficaria nas mãos de Vázquez.
Com uma personalidade oposta à do verborrágico Mujica, Vázquez concentrou a campanha em viagens ao interior do país com a intenção de ter um diálogo "lado a lado com a população" e deixou em segundo plano o contato com a imprensa, limitando as aparições a entrevistas pontuais concedidas antes do primeiro turno.
Uma década de expansão
Vázquez, de 74 anos, chegará ao poder como o líder de uma força política que consolidou o crescimento econômico do país, já que o Uruguai fechará 2014 com o 12º ano consecutivo de expansão, depois de uma alta de 4,4% em 2013.
Com uma economia baseada no setor agroexportador e no turismo, o Uruguai soube aproveitar o vento favorável para a região do aumento dos preços das commodities, como soja e carne, para elevar seu Produto Interno Bruto (PIB).
O crescimento e a aplicação de políticas sociais e trabalhistas levaram o índice de desemprego a um resultado mínimo histórico, por volta de 6%, e provocaram uma redução considerável da pobreza.
Com as contas em ordem e o reconhecimento dos organismos de crédito internacional e das agências, que devolveram ao país o grau de investimento que havia sido perdido na crise de 2001-2002, a economia uruguaia resistiu à crise de 2008 e prosseguiu em alta.
Vázquez, porém, terá que lidar com um déficit fiscal alto, 3% nos 12 meses encerrados em setembro, e uma inflação acima da meta do governo (3% a 7%), que em outubro chegou a 8,11%.
A votação, obrigatória, começará às 8H00 locais (9H00 de Brasília) e prosseguirá até 19H30 (20H30 de Brasília).