A coalizão de esquerda na França acusou, nesta quinta-feira, 22, o presidente de centro-direita, Emmanuel Macron, de "grave inação" por não nomear um novo primeiro-ministro quase dois meses após as eleições legislativas antecipadas, que venceram sem maioria absoluta.
"Como em todas as democracias parlamentaristas, a coalizão líder deve ser capaz de formar governo e começar a trabalhar", escreveram em uma "Carta aos franceses" os líderes da Nova Frente Popular (NFP) e sua candidata a primeira-ministra, Lucie Castets.
"Até quando vamos continuar como se nada tivesse acontecido no início do verão? (...) A inação do presidente é grave", afirmam os signatários da carta, às vésperas da primeira reunião de Macron com as diferentes forças políticas.
O presidente de 46 anos chocou a França ao anunciar de forma inesperada a antecipação das eleições legislativas previstas para 2027 em 30 de junho e 7 de julho, para pedir um "esclarecimento" aos eleitores, após a vitória da extrema direita nas eleições europeias.
Mas o resultado levou a um bloqueio: o NFP obteve 193 deputados na Assembleia (câmara baixa), seguido pela aliança de Macron (166) e pelo partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (142), longe da maioria absoluta de 289 assentos.
Diante do limbo político e a poucas semanas dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, Macron pediu um julho que seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, continuasse no cargo "por enquanto" para "garantir a estabilidade"
'Ampla e estável'
A segunda maior economia da União Europeia (UE) nunca havia experienciado uma situação de bloqueio desde que a Quinta República francesa foi estabelecida em 1958, sobretudo quando o seu sistema eleitoral favorece a criação de maiorias parlamentares claras.
No entanto, aumenta a pressão sobre Macron, cujo mandato termina em 2027 e que compartilha o poder Executivo com o governo, entre acusações de atrasar a nomeação para continuar no poder.
"O presidente está do lado dos franceses, das instituições e, sobretudo, da expressão de seu voto no dia 7 de julho", defendeu a Presidência nesta quinta-feira, véspera do início das consultas.
A rodada começará com os líderes do NFP, sucedidos pela aliança de Macron e o partido de direita Os Republicanos (LR), antes da vez das figuras ultradireitistas Marine Le Pen e Jordan Bardella.
A Presidência confirmou que, após as reuniões, nomeará um primeiro-ministro que alcance "a maioria mais ampla e estável" possível, rejeitando implicitamente o pedido da esquerda de nomear Castets como o primeiro bloco na Assembleia.
A ameaça de uma moção de censura por parte do partido no poder e da extrema direita já paira sobre um eventual governo Castets, mas nenhuma alternativa ganhou força neste momento, dada a recusa do LR em formar uma coalizão com as forças de Macron.
"Não existe um plano B para Lucie Castets", disse a líder ambiental Marine Tondelier, membro do NFP. Contudo, enquanto aguardam uma decisão, a coalizão está se partindo devido a divergências com a sua ala radical, que propôs a renúncia do presidente francês
Macron não pode dissolver novamente a Assembleia até julho de 2025, mas a apresentação do orçamento para o próximo ano, que deve chegar ao Parlamento em outubro, fixa um prazo para substituir o atual governo em exercício.
"Quem for nomeado primeiro-ministro será bloqueado" e "em qualquer caso, a França estará em um estado de paralisia", disse nesta terça-feira a deputada de extrema direita Edwige Diaz, assegurando que seu partido já se prepara para novas eleições.
-
1/10
De acordo com os primeiros números, o vencedor do pleito foi a aliança Nova Frente Popular (NFP), formada pelos quatro maiores partidos da esquerda francesa, seguida da coalizão de centro-direita
(De acordo com os primeiros números, o vencedor do pleito foi a aliança Nova Frente Popular (NFP), formada pelos quatro maiores partidos da esquerda francesa, seguida da coalizão de centro-direita)
-
2/10
Apoiadores da aliança Nova Frente Popular (NFP) comemoram números iniciais que indicam a vitória da esquerda nas eleições
(Apoiadores da aliança Nova Frente Popular (NFP) comemoram números iniciais que indicam a vitória da esquerda nas eleições)
-
3/10
Segundo turno das eleições legislativas ficou marcado por um recorde de participação, sendo o maior índice desde 1981
(Segundo turno das eleições legislativas ficou marcado por um recorde de participação, sendo o maior índice desde 1981)
-
4/10
As primeiras projeções mostram que uma ampla coalizão de esquerda estava liderando uma apertada eleição legislativa francesa, à frente tanto dos centristas do Presidente quanto da extrema direita, sem que nenhum grupo tivesse conquistado a maioria absoluta
(As primeiras projeções mostram que uma ampla coalizão de esquerda estava liderando uma apertada eleição legislativa francesa, à frente tanto dos centristas do Presidente quanto da extrema direita, sem que nenhum grupo tivesse conquistado a maioria absoluta)
-
5/10
Manifestantes em Nantes levantavam placas contrárias às propostas da extrema-direita
(Manifestantes em Nantes levantavam placas contrárias às propostas da extrema-direita)
-
6/10
Em Nantes, manifestante levanta a placa: Racismo não é opinião, é ofensa
(Em Nantes, manifestante levanta a placa: Racismo não é opinião, é ofensa)
-
7/10
Participantes reagem enquanto ouvem o anúncio dos resultados projetados do segundo turno das decisivas eleições legislativas da França durante um comício em Nantes, oeste da França
(Participantes reagem enquanto ouvem o anúncio dos resultados projetados do segundo turno das decisivas eleições legislativas da França durante um comício em Nantes, oeste da França)
-
8/10
A estimativa da IFOP para a emissora TF1 é de que a Nova Frente Popular poderia ganhar 180-215 assentos no parlamento no segundo turno de votação, enquanto uma pesquisa Ipsos para a France TV projetou 172-215 assentos para o bloco de esquerda
(A estimativa da IFOP para a emissora TF1 é de que a Nova Frente Popular poderia ganhar 180-215 assentos no parlamento no segundo turno de votação, enquanto uma pesquisa Ipsos para a France TV projetou 172-215 assentos para o bloco de esquerda)
-
9/10
Um homem entra em uma cabine de votação para votar no segundo turno das eleições legislativas da França em um local de votação em Le Touquet, norte da França, em 7 de julho de 2024. A França vota nas eleições legislativas em 7 de julho de 2024, que serão decisivas para determinar seu futuro político e podem ver a extrema direita se tornar o maior partido no parlamento pela primeira vez
(Um homem entra em uma cabine de votação para votar no segundo turno das eleições legislativas da França em um local de votação em Le Touquet, norte da França, em 7 de julho de 2024. A França vota nas eleições legislativas em 7 de julho de 2024, que serão decisivas para determinar seu futuro político e podem ver a extrema direita se tornar o maior partido no parlamento pela primeira vez. (Foto de MOHAMMED BADRA / POOL / AFP))
-
10/10
O presidente da França, Emmanuel Macron (à direita), acompanhado por sua esposa Brigitte Macron (no centro), deposita seu voto no segundo turno das eleições legislativas da França em um local de votação em Le Touquet, norte da França, em 7 de julho de 2024
(O presidente da França, Emmanuel Macron (à direita), acompanhado por sua esposa Brigitte Macron (no centro), deposita seu voto no segundo turno das eleições legislativas da França em um local de votação em Le Touquet, norte da França, em 7 de julho de 2024)