Em frente à emissora Televisa, estudantes protestam contra cobertura tendenciosa das eleições presidenciais do México (John Moore/Getty Images/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2012 às 22h23.
Cidade do México - A esquerda mexicana pediu nesta terça-feira às autoridades eleitorais que ''limpem'' o pleito presidencial realizado no domingo passado por meio da recontagem total dos votos, tal ''como estabelece a lei'', mas esclareceu que não reivindica a anulação do processo.
''Pelo bem da democracia, pelo bem do país, devem ser incluídos todos os votos para que não restem dúvidas'', afirmou Andrés Manuel López Obrador, que foi candidato presidencial de uma aliança de três partidos esquerdistas nas eleições do domingo.
''Vamos fazer uso do direito que temos de conformidade com a lei para pedir que se limpe a eleição, com transparência'', disse o político em entrevista coletiva na sede do comitê de sua campanha, onde exortou as autoridades eleitorais a assumir ''sua responsabilidade''.
Ricardo Monreal, que foi chefe de campanha de López Obrador, disse que entregou nesta terça-feira ao Instituto Federal Eleitoral (IFE) uma ''solicitação formal'' para a realização de uma ''nova apuração e cômputo das 143.132 urnas que foram instaladas para a eleição presidencial''.
Ele disse que há fundamento legal para a solicitação, pois, segundo Monreal, já foram detectadas ''algumas inconsistências'' em 113.855 mesas eleitorais, sobre as quais já informaram no documento entregue nesta terça-feira ao titular do IFE, Leonardo Valdés, e a seis conselheiros do organismo.
No entanto, o chefe da campanha de López Obrador destacou que ''ainda se está trabalhando'' nos demais postos de votação para ''documentar outras inconsistências técnicas''.
Monreal afirmou que os representantes do organismo disseram que a solicitação estava de acordo com a legislação e que haverá nesta quarta-feira uma sessão extraordinária para responder ao pedido do Movimento Progressista.
Acrescentou que distritos eleitorais estão promovendo a mesma solicitação. A contagem oficial nos distritos mexicanos começará nesta quarta-feira e se prolongará por vários dias. A esquerda pretende pedir a presença de representantes dos partidos na nova apuração.
''Não é pedir nenhum favor, é solicitar que se cumpra o que está na lei'', afirmou López Obrador, que ficou em segundo lugar no pleito presidencial de domingo, segundo os resultados preliminares do IFE.
''Estamos agindo de maneira responsável, de acordo com a legalidade'', insistiu o dirigente, que fez um apelo para ''não se continuem cometendo violações na eleição''.
O líder da esquerda acusou o candidato vencedor nos resultados preliminares, Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), de agir de uma forma ''totalmente imoral''.
López Obrador acusou a campanha do PRI de ter comprado ''milhões de votos''. ''Foram gastos bilhões de pesos para comprar votos que claramente ultrapassaram em muito o limite estabelecido (por lei)''.
No entanto, o conselheiro eleitoral Marco Antonio Baños disse nesta terça-feira em entrevista coletiva que tinham certeza que a eleição foi ''absolutamente limpa'', ''transparente'' e ''crível'', e que assim será demonstrado na ''etapa dos cômputos de distrito'', que começa nesta quarta-feira.
No evento, realizado antes do anúncio da esquerda mexicana, o IFE informava que entre 45 mil e 50 mil mesas eleitorais das cerca de 143 mil que foram instaladas ''seriam eventualmente abertas'' para proceder à apuração de sufrágios.
As razões que podem motivar a nova apuração de votos de algumas urnas incluem uma diferença igual ou menor a 1% entre o ganhador e o segundo lugar, erros nas urnas ou que os votos nulos sejam maiores à diferença entre o ganhador e o segundo lugar.
No entanto, a decisão final de recontar os votos, esclareceu o IFE, depende dos conselhos eleitorais dos 300 distritos do país, que deverão decidir quais são as mesas de votação onde será necessária a apuração.
Esta é a primeira vez que, por causa da reforma eleitoral de 2007-2008, a apuração de votos pode ser feita na eleição presidencial. Isso aconteceu no pleito legislativo de 2009, quando foram recontados os sufrágios de mais de 40 mil mesas de votação.