Primavera Árabe: em março passado, milhares de representantes locais levantaram sua voz para defender o estabelecimento de uma Líbia federativa (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2012 às 15h46.
Trípoli - Os líbios passam um dia de reflexão na véspera das históricas eleições legislativas deste sábado, as primeiras em quase meio século, com esperança, inquietação e, alguns, especialmente no leste do país, com certa decepção e raiva.
"Votarei para fazer uso do meu direito natural a decidir o destino da Líbia. Para sentir a liberdade que nos tiraram", disse à Agência Efe a especialista em recursos humanos Gada Abdel Salam, em referência aos 42 anos de ditadura de Muammar Kadafi, nos quais os partidos eram proibidos e as eleições vetadas.
Gada mostrou seu desejo de que nas eleições, o Conselho Nacional Geral, que substituirá o atual Conselho Nacional Transitório, apresente "as pessoas mais capazes para acertar as bases do Estado líbio".
Além disso, se mostrou convencida que nada deterá a marcha do país, apesar da grande fraqueza do Estado, obrigado em muitas ocasiões a negociar com as milícias que surgiram durante o levante popular que no ano passado acabou com o regime de Kadafi, para garantir a segurança no país.
"A revolução de 17 de Fevereiro está protegida por Alá e estou convencida que na Líbia quem deseja a estabilidade é maioria", ressaltou.
As autoridades não descartam que aconteçam ataques ou agressões durante a jornada eleitoral, por isso que a presença de soldados se multiplicou, visíveis nos principais lugares da capital, e por isso que foi decretado o estado de alerta.
Para o ativista defensor da liberdade de expressão Abdel Karim al Raqui, o sábado "marcará um antes e um depois" na história da Líbia.
Ao contrário de Gada, Abdel se mostra preocupado com o que possa acontecer e confessa que "as eleições representam um difícil teste para o país, que a Líbia pode superar ou não".
Este ativista também não se sente satisfeito com muitos dos candidatos a ocupar as 200 cadeiras da nova assembleia legislativa. Segundo Raqui, parece que todos se apresentam para ser designados presidentes e não para se transformar em legisladores.
Além disso, expressou suas dúvidas sobre as capacidades dos futuros legisladores "para levar o país pelo caminho adequado".
Neste sentido, ainda se mostrou mais pessimista o engenheiro Murad al Rais, para quem muitos dos que concorrem ocupavam cargos de responsabilidade durante o antigo regime.
Por sua vez, o professor universitário Nouri Ali al Hajj, que também expressou seu descontentamento, em seu caso por considerar que não houve tempo para que o povo se familiarize com os candidatos, refletiu seu desejo de que as eleições representem "o início rumo à construção da Líbia do futuro".
"Votarei para participar da construção do país e para que não se perca o esforço e a entrega das vítimas que morreram no levante contra o antigo regime", acrescentou Hajj.
Além disso, não descartou que possam ocorrer erros no futuro porque segundo disse "Líbia avança sem experiência".
Mas além das esperanças e inquietações mostradas por estes cidadãos, as posturas se inclinam, em muitos casos, para a rejeição quase total, segundo se avança rumo ao leste do país.
Assim, Benghazi, a segunda maior cidade líbia, e que se erigiu como capital rebelde durante os oito meses que a guerra durou, se sente agora esquecida e exige um maior protagonismo na vida política.
Em março passado, milhares de representantes locais levantaram sua voz para defender o estabelecimento de uma Líbia federativa, dividida em três estados: um com Benghazi como capital, outro em torno de Trípoli e um terceiro com Sebha, no sul, como cidade principal.
Além disso, várias vozes pediram que Benghazi se torne a capital econômica do país, e inclusive, nesta quinta-feira, um grupo de manifestantes armados forçou o fechamento de vários poços petrolíferos no leste para exigir uma divisão mais equitativa na nova assembleia entre estas três regiões líbias.