“Todo ano perdemos uma área de floresta do tamanho da Nicarágua”, alertou André de Freitas, diretor executivo do Conselho de Manejo Florestal (Ana Cotta/ CreativeCommons)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2012 às 15h44.
Rio de Janeiro - “Alguém pode imaginar um mundo sem uma árvore?” A pergunta foi feita por Julia Marton-Lefevre, diretora-geral do International Union for Conservation of Nature. A ambientalista juntou-se a outros especialistas para debater o tema “Florestas” nos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável da Rio+20.
Entre as dez recomendações pré-selecionadas pelos organizadores, reduzir o desmatamento mundial a zero até 2020 foi a mais votada pelos internautas que participaram da votação online e também um consenso entre os debatedores. “Todo ano perdemos uma área de floresta do tamanho da Nicarágua”, alertou André de Freitas, diretor executivo do Conselho de Manejo Florestal. “Nossa sociedade ainda não valoriza a floresta. Há países, como o Brasil, onde ainda hoje o desmatamento é legal”.
A presidente mundial do World Wide Fund for Nature (WWF), Yolanda Kakabadse lembrou que 50% da flora e fauna que conhecemos residem nas florestas tropicais. As florestas absorvem 1/5 das emissões de poluentes do planeta. “As florestas guardam a nossa segurança hídrica e energética”, afirmou. “A floresta é um bem público”.
Yolanda falou ainda que essas áreas verdes contribuem para a economia das comunidades locais, já que são fonte de serviços e trabalho. Bertha Becker, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em florestas, disse que é preciso agregar valor aos produtos produzidos nessas regiões para incluir socialmente essas populações marginalizadas.
Justamente por trabalhar com a mão de obra de seringueiros e ribeirinhos e utilizar matéria prima originária da floresta, a empresa brasileira de cosméticos Natura é uma grande interessada na preservação das matas.
“Há uma interdependência entre tudo e todos. A floresta está na base da sustentabilidade”, afirmou Guilherme Leal, fundador e CEO da empresa. “Precisamos de objetivos grandiosos. Não podemos sair do Rio sem isso”. Leal também concorda que não há como falar em preservação ou restauração se o desmatamento não acabar.
Assim como a Natura, outras companhias já assumiram compromissos ambientais no processo de produção. Unilever e Walmart não aceitam desmatamento como parte da cadeia produtiva. Representante da marca sueca Ikea, uma gigante mundial no setor de bens de consumo, Anders Hildeman revelou que apesar de 60% dos produtos vendidos pela loja usarem madeira, a empresa faz questão de influenciar e trabalhar as questões sustentáveis junto a cadeia de fornecedores.
Mas esclarece que isso não basta. “O consumidor precisa entender também o conceito da sustentabilidade”. A mesma opinião tem a chinesa Lu Zhi, diretora do Center for Nature and Society da Universidade de Beijing, que prega uma relação mais estreita entre consumo e preservação.
A importância das florestas não é mais tópico de discussão. São componentes mais emblemáticos dos recursos naturais, vitais para o ecossistema. “A floresta é o tema que está mais ligado com a agenda do clima, da biodiversidade”, disse Guilherme Leal, da Natura.
E o problema não parece ser o estabelecimento de metas, mas como e quando colocá-las em prática. Recomendou-se a criação de uma agenda em que sejam priorizados a captação de recursos, investimento em pesquisa e tecnologia e governança, através de políticas integradas.
A presidente da WWF elogiou o que foi feito no Brasil, onde o desmatamento no estado do Acre foi reduzido em 70% e deu-se maior valor aos produtos florestais. Durante o debate foi anunciado que o estado do Pará irá assinar um compromisso na Rio+20 para acabar totalmente com os desmatamentos até 2020.