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Especialistas criticam ignorância em torno do fim do mundo

Muitas pessoas interpretaram que a mudança de era que começou no ano 3.114 antes de Cristo em um ciclo do calendário maia significa uma "profecia" sobre o fim do mundo


	Fim do mundo: o arqueólogo Matos lembrou que em muitas religiões existe a gênese do mundo e de tudo que nos rodeia, mas também prevê um final
 (Wikimedia Commons)

Fim do mundo: o arqueólogo Matos lembrou que em muitas religiões existe a gênese do mundo e de tudo que nos rodeia, mas também prevê um final (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2012 às 16h37.

Cidade do México - A euforia e a incerteza alimentadas pelo mito de uma suposta profecia maia sobre o fim do mundo na próxima sexta-feira surgem de uma excessiva credulidade, ignorância, sensacionalismo e um desmedido afã por lucro, disseram especialistas consultados pela Agência Efe.

"Estas versões apocalípticas derivam de uma ignorância, mas em algumas ocasiões também de um afã por um lucro desmedido do qual se aproveitam para escrever livros, fazer filmes ou outras formas de expressão", comentou o arqueólogo Eduardo Matos.

Por sua parte, Alfredo López Austin, um historiador especialista em religião mesoamericana e em povos indígenas do México, explicou que "se a um dado curioso do calendário maia é acrescentado o sensacionalismo, o mercantilismo dos meios de comunicação, um notável nível de ingenuidade generalizada e muita vontade de aceitar o inexplicável e o catastrófico, se forma um coquetel complexo".

Matos afirmou que o "pensamento religioso sempre se nutriu de fábulas ou mitos por meio dos quais se tenta explicar diversos fenômenos para os quais o homem, em sua ignorância, não tem resposta".

Muitas pessoas interpretaram que a mudança de uma era que começou no ano 3.114 antes de Cristo em um ciclo do calendário maia significa uma "profecia" sobre o fim do mundo; no entanto, esta ideia é "completamente alheia e estranha ao pensamento maia antigo", declarou o arqueólogo.

Este mito, detalhou, "só pode ser compreendido no marco de nossa própria concepção apocalíptica ocidental, de nossos próprios temores e superstições, assim como de ideologias ecléticas pós-modernas que não carecem de interesses de lucro comercial".

López Austin, por sua parte, assinalou que a maioria das pessoas admira os maias como uma civilização notável, mas "ignoram sua história e boa parte de seu pensamento".


"A admiração mais o desconhecimento generalizado conduzem facilmente à fantasia. Quando algo não sabe, é mais fácil imaginar que ir às fontes de conhecimento", advertiu.

O arqueólogo Matos lembrou que em muitas religiões existe a gênese do mundo e de tudo que nos rodeia, mas também prevê um final.

Acrescentou que as ideias religiosas do Apocalipse estão presentes no pensamento cristão e abriram passagem ao milenarismo ocidental que se manifesta em muitos campos, onde o tempo se apresenta de uma maneira linear e sem repetições.

Em outras culturas, como as mesoamericanas, se aprecia uma visão cíclica, repetitiva do tempo, devido principalmente a sua observação da natureza e do movimento dos astros, indicou.

Matos ressaltou que a ciência avançou muito em elucidar diversos aspectos do surgimento do universo, da vida, da morte e outros mistérios, mas sempre permanecem crenças sem sustentação que as religiões, em geral, mantêm.

Por sua vez, López Austin insistiu que para os que se regem por crenças e não pelo exercício do pensamento crítico, "as falhas de uma crença podem ser substituídas pelas promessas de outra; as crenças velhas e inúteis são simplesmente substituídas pelas inovadoras e promissoras".

Salientou que no dia seguinte, ao comprovar que a profecia não se cumpriu, os adeptos a este tipo de crença assegurarão que "a profecia não foi plenamente realizada", que há "outras explicações ou esperarão que alguém lhes sirva outro prato com uma nova profecia".

Além disso, apontou que os "meios de comunicação sensacionalistas não fazem mais que aproveitar a situação para fomentá-la e lucrar".

López Austin considerou que "é falso" pensar que no século 21 o mundo vive em uma era científica, e assinalou que não se deve confundir a ciência com a técnica.

"Vivemos uma época obscura, supersticiosa, acrítica", lamentou o historiador. 

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