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Especialistas apontam soluções para driblar enchentes em SP

Conheça os problemas crônicos que provocam inundações na capital paulista e o que pode ser feito para saná-los

Área inundada no bairro do Jardim Pantanal, na várzea do Rio Tietê, Zona Leste de SP.  (Agliberto Lima/ Veja São Paulo/VEJA)

Área inundada no bairro do Jardim Pantanal, na várzea do Rio Tietê, Zona Leste de SP. (Agliberto Lima/ Veja São Paulo/VEJA)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 17 de fevereiro de 2011 às 16h36.

São Paulo - Os estragos provocados por quase quatro horas de chuva intensa na tarde desta quarta (15) fizeram os paulistanos reviver um antigo e conhecido problema, mas não menos suportável: as avassaladoras enchentes de verão. O fenômeno natural, que se repete todo ano, nos meses de janeiro e fevereiro, deixa a cidade num estado de 'curto-circuito', com vias congestionadas e centenas de pontos de alagamento, que causam danos materiais e colocam a população em risco. Não precisava ser assim.

Segundo especialistas ouvidos por EXAME.com, o caos que se instala na capital paulista em períodos de chuva acima da média reflete a combinação nociva entre décadas de planejamento urbano ineficiente e um poder público de punho insuficientemente forte para implementar medidas preventivas contra desastres dessa natureza. Eles são categóricos ao apontar a impermeabilização do solo e a ocupação irregular como os principais causadores dos alagamentos que atingem a região metropolitana. Algumas mudanças estruturais, entretanto, podem livrar a cidade dessa sina.

1 - Limpeza do Tietê e programas de drenagem
No começo de janeiro, uma forte chuva foi responsável pelo transbordamento do maior rio de SP, o Tietê. De acordo com o professor titular de engenharia civil e ambiental da Politécnica da USP Benedito Braga, o rio já está em sua capacidade máxima de vazão, sem possibilidade de ampliação (a última obra de aprofundamento na calha foi feita em 2006)."Por conta disso, quando o volume de chuva é maior que a vazão, o Tietê transborda", explica.

Congestionamento e inundação na Marginal do Rio Tietê, em 1991. (Antônio Milena/Veja)

Segundo Braga, para dar conta dessas tempestades, só mesmo construindo mais piscinões e investindo em dragagens. "Mas não bastam apenas as obras, é preciso manutenção", acrescenta. "Programas de desassoreamento também são importantes para retirar do fundo dos leitos dos rios toda a sujeira urbana carregada pelas chuvas", destaca. Diante da emergência no mês passado, o governo estadual anunciou a construção de piscinões e investimentos de 800 milhões de reais para evitar novas enchentes.

2 - Encostas e ocupação ordenada

Para a geógrafa Kátia Canil, do Laboratório de Riscos Ambientais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), as ocupações irregulares de encostas, um problema antigo agravado pela complacência de sucessivas administrações, tornam mais desastrosos os efeitos da chuva. "É preciso melhorar as condições de infraestrutura dessas regiões, e onde isso não for possível, a população deve ser removida, mesmo que seja necessário o uso do poder da polícia", afirma. Segundo um mapeamento realizado pelo IPT a pedido da Prefeitura de São Paulo, a cidade tem 407 zonas de risco de deslizamentos em 26 subprefeituras.


3 - Mais verde e menos lixo nas ruas
Em São Paulo, a imensa área impermeabilizada transforma em bolsões os locais onde a água consegue se acumular. Segundo especialistas, as cidades deveriam ter pelo menos 12 m² de área verde por habitante - São Paulo tem em média apenas 4m².

Mas não há espaço verde que resista ao acúmulo de lixo nas ruas. Nem bueiros. Numa cidade como São Paulo, que produz 17 mil toneladas de resíduos, diariamente, o sistema de limpeza urbana precisa ser impecável para evitar transtornos com a chuva. A responsabilidade pela limpeza da cidade é do poder público, mas os paulistanos também podem ajudar evitando jogar lixo nas ruas, que, quando arrastados pelas tempestades, entopem os bueiros.

4 - Planos de emergência e sistemas de alerta
Grandes metrópoles localizadas em regiões sujeitas a intempéries climáticas também não podem abrir mão de um plano de emergência para momentos de crise, nem de sistemas de alerta. "Em uma situação como a de SP, sem previsão de solução a curto prazo, a população não pode ficar a mercê dos caprichos da natureza", ressalta Benedito Braga. O professor da USP afirma que a cidade está bem munida de centros para monitoramento do tempo e do nível dos rios, mas "o que falta é essa informação chegar à pessoas".

Só tecnologia não é suficiente. Segundo o especialista, a vulnerabilidade da população depende também de uma ação oficial bem coordenada quando o caos se instala. "Se as autoridades municipais e estaduais não acordarem a respeito da necessidade de controle sobre a ocupação do solo urbano e de medidas preventivas, a situação vai ficar inviável", avalia. "Vai ser impossível viver em São Paulo".

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