Usina de Fukushima: especialistas esperam que radiação vá para o Oceano Pacífico (AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2011 às 15h03.
Tóquio - O acidente nuclear em Fukushima, provocado pelo terremoto e tsunami de 11 de março que devastaram o nordeste do Japão, representa muitas perguntas sobre os riscos para a população e perigos futuros.
A seguir as opiniões de três especialistas franceses: Jacques Repussart, diretor geral do Instituto de Radioproteção e Segurança Nuclear (IRSN), Philippe Jamet, comissário da Autoridade de Segurança Nuclear (ASN), e Bernard Bigot, administrador-geral do Comissariado de Energia Atômica (CEA).
AFP: Qual é a situação na central nuclear de Fukushima? A fusão do combustível foi detida a tempo?
Jacques Repussart: O estado da central continuará sendo problemático durante muito tempo, mas não se esperam mais fenômenos muito violentos nos próximos dias. Portanto, há uma situação que está a ponto de ser resolvida. Aparentemente, a fusão do combustível foi detida pelo risco.
É urgente retirar a água que foi contaminada depois das operações, pois gera uma radioatividade ambiente que impede os trabalhos nesta instalação. É preciso bombear, tratá-la ou, na pior das hipóteses, jogá-la no mar para diluição.
Também é preciso continuar molhando, pois se as piscinas que contêm combustível usado forem esvaziadas, seriam registrados incêndios e radiações importantes.
Bernard Bigot: Começará a etapa de controle das instalações quando entrarem em funcionamento os sistemas habituais de resfriamento, a prioridade atual da operadora Tokyo Electric Power (Tepco).
AFP: A Agência Internacional de Energia Atômica recomenda ao governo japonês a ampliação da zona de segurança, além de 20 km ao redor da central. O que você pensa?
Jacques Repussard: Há resíduos radioativos em forma de aerossol além da zona de segurança, sobretudo porque choveu... Estes depósitos representam um risco para os alimentos.
Mas é possível ter uma contaminação significativa em uma parte do território sem que isto obrigue um deslocamento da população, uma operação que tem impactos humanos, sentimentais e financeiros. Não se deve ignorar esta contaminação, e sim levá-la em consideração, sobretudo no que diz respeito à cadeia alimentar. Ao invés de afastar as pessoas, é possível afastar os alimentos contaminados para reduzir as doses absorvidas.
Philippe Jamet: Os moradores não retornarão às casas a dois quilômetros da central e também existirão restrições alimentares em longo prazo.
AFP: O que acontece com a contaminação da água do mar?
Jacques Repussart: Para proteger a população é melhor que a radiação vá para o Oceano Pacífico do que para o ar sobre o Japão. A radioatividade que está na água marinha não segue para a atmosfera. Vai se diluir, serão encontrados vestígios a milhares de quilômetros, mas sem grandes consequências.
AFP: Quais as lições de alcance internacional da catástrofe atual?
Philippe Jamet: Serão necessários vários anos para compreender e saber como evitar que se reproduza um acidente desta gravidade.
Bernard Bigot: Um dos temores está vinculado ao fato de que a instalação se tornou muito frágil pelo terremoto e tsunami. Portanto ficou mais vulnerável.