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Espanhóis recorrem aos jogos de azar para esquecer a crise

Loteria de natal do país vai distribuir mais de 2,5 bilhões de euros e se tornou a esperança para os desempregados do país

Pessoas fazem fila para comprar o bilhete da loteria de Natal na casa "Dona Manolita" (Pierre-Philippe Marcou/AFP)

Pessoas fazem fila para comprar o bilhete da loteria de Natal na casa "Dona Manolita" (Pierre-Philippe Marcou/AFP)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2011 às 17h10.

Madri - A fila segue por dezenas de metros. Apesar da crise, na Espanha, os supersticiosos preferem arriscar um pouco de suas magras economias num palpite, na tradicional loteria de Natal, o famoso "Gordo de Navidad".

Na casa lotérica "Doña Manolita" em Madri, Ester Rubio, de 21 anos, diz que as pessoas sempre têm a esperança de que a sorte as escolha. A moça faz parte de uma triste estatística: no país, um em cada dois jovens estão desempregados.

Na pequena rua central de Madri, as pessoas esperam, pacientemente, durante horas para poder comprar, por 20 euros, seu precioso bilhete.

"Passei o ano economizando para isto. Compro precisamente por causa da crise e será mais do que no Natal passado", explica Julia García, de 65 anos, que pretende gastar "pelo menos 80 euros".

Vou distribuir o prêmio "com meus cinco filhos", comenta. "Se tiver um dinherinho a mais, ficaremos bem melhor", ilude-se, enquanto espera sua vez.

"Doña Manolita" é considerada mítica, uma vez que a loja já teve vários ganhadores do "Gordo", o prêmio tradicional criado há mais dois séculos.

"A loteria de Natal está no DNA dos espanhóis", destaca Juan Antonio Gallardo, diretor da Empresa Nacional de Loterias.

"Não há nada igual em nenhuma parte do mundo", afirma. "As vendas no ano passado chegaram a 2,7 bilhões de euros, não há nenhum outro sorteio no mundo que possa vender tanto", assegura, destacando que a loteria "está enraizada na sociedade espanhola".

Todos na Espanha conhecem o ritmo monótono das vozes dos meninos do colégio San Ildefonso, estudantes de um antigo orfanato de Madri, encarregados de cantar os números premiados nos dias 22 de dezembro.

O ritual é compartilhado, também, pelas famílias, os amigos, os colegas ou os fregueses mais assíduos dos cafés, que preferem fazer um 'bolão", jogando o mesmo número para dividir, depois, o dinheiro, se tiverem sorte de ganhar.


Para este ano, o "Gordo" de Natal teve sua dotação aumentada para 400.000 euros (530.000 dólares) por bilhete ganhador.

Apesar da crise, quatro em cada cinco espanhóis vão tentar a sorte e seu gasto médio supera os 60 euros.

Uma quantia importante para os bolsos castigados por mais de três anos de crise, mas não custa sonhar com o prêmio, que vai repartir 2 bilhões e 520 milhões de euros (3 bilhões e 335 milhões de dólares).

Em meio às expectativas, a loteria espera aumentar a arrecação para 3 bilhões e 600 milhões de euros, 70% dos quais serão, como sempre, para os jogadores, o que o converte no sorteio mais "generoso" do mundo, destaca Gallardo.

O consumo caiu em picado na Espanha, mas os espanhóis parecem decididos a afastar as perspectivas econômicas sombrias, pelo menos no Natal.

Vão gastar, em média, 668 euros, isto é, 13 euros a mais que no Natal de 2010, segundo estudo realizado pela agência Deloitte.

"Aproveitar" as festas e "evitar pensar na crise" são os principais motivos mencionados pelos compradores.

"Você tem o direito de sonhar com o 'Gordo', o maior da história", proclama em letras garrafais sobre um fundo de praia paradisíaca um cartaz colado nos quiosques de venda lotérica na Puerta del Sol, perto de "Doña Manolita".

Agora, um aviso: os bilhetes terminados por 13, já estão esgotados. Mas as fantasias têm formas mais razoáveis.

"Liquidar a hipoteca", respondem, em coro, Marta Rodríguez e Jaime González, ambos de 25 anos, que se comprometeram a pagar, durante mais de 30 anos, por um pequeno apartamento de 100.000 euros, num subúrbio de Madri.

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