Rajoy: o presidente espanhol afirmou que os crimes cometidos pelo ETA não ficaram impunes (REUTERS/Sergio Perez/Reuters)
AFP
Publicado em 4 de maio de 2018 às 11h55.
O chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, prestou homenagem nesta sexta-feira (4) às vítimas do ETA, cuja dissolução era concluída oficialmente de forma paralela em Cambo-les-Bains, no País Basco francês.
"Devemos lembrar e prestar homenagem a todas as vítimas assassinadas. A elas, suas famílias e às centenas de espanhóis que sobreviveram à violência terrorista, mas que continuam a sofrer as sequelas da crueldade" do ETA, declarou Mariano Rajoy.
"As investigações sobre os crimes do ETA vão continuar, seus crimes continuarão a ser julgados e as condenações continuarão a ser executadas", advertiu ele.
Rajoy também prestou homenagem aos policiais, guardas civis, magistrados, jornalistas e associações que colaboraram na luta contra o ETA.
Pessoas dessas áreas compuseram a maior parte das 853 pessoas, segundo contas do governo espanhol, mortas pelo ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou "País Basco e Liberdade") na sua campanha pela independência do País Basco e Navarra.
"Hoje, os protagonistas não podem ser os assassinos, mas as vítimas" do ETA, disse Mariano Rajoy, sem mencionar diretamente a "conferência" realizada na França para concluir o processo de dissolvição do ETA, criado em 1959.
O ETA desistiu da luta armada em 20 de outubro de 2011 e anunciou que iria depor suas armas em 8 de abril de 2017.
A dissolução da organização separatista basca deve levar à "reconciliação" - considerou nesta sexta-feira um membro do Grupo Internacional de Contato pela Paz no País Basco, no ato realizado na localidade francesa de Cambo-les-Bains.
"Hoje é um dia de celebração", declarou o advogado sul-africano Brian Currin, ao inaugurar o encontro internacional "para avançar na resolução do conflito no País Basco", um dia depois de o ETA anunciar o desmantelamento de todas as suas estruturas.
"Mas não acabou", acrescentou.
A autodissolução do ETA também é "um compromisso para participar do processo democrático" na Espanha, o que implica "a necessidade de reconciliação", explicou.
O fim do grupo "mostra que o diálogo político pode existir, ainda que falte muito a ser feito para curar as feridas", estimou, por sua vez, o ex-secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan.
O ex-dirigente do partido republicano norte-irlandês Sinn Fein Gerry Adams, outro mediador junto com o mexicano Cuauhtémoc Cárdenas e com o uruguaio Alberto Spectorovsky, advertiu que "a ira não é uma política, a vingança não é uma solução".
"Construir a paz é muito mais difícil do que fazer a guerra" e o "ponto de partida tem que ser o diálogo", acrescentou, lembrando o processo seguido pelo Sinn Fein no Ulster.
Após quatro décadas de atentados, sequestros e extorsões, o ETA proclamou na quinta-feira (3) o "final de sua trajetória" em uma declaração lida pelo veterano dirigente Josu Ternera, foragido desde 2002 e suspeito de cometer um atentado que deixou 11 mortos em 1987.
Vários oradores em Cambo-les-Bains lamentaram a ausência de qualquer representante dos governos francês e espanhol, e Gerry Adams pediu a Madri "sinais positivos em favor dos prisioneiros bascos".
Os separatistas bascos exigem um relaxamento das condições de detenção dos cerca de 300 "etarras" presos, principalmente na França e na Espanha, e que sejam transferidos para prisões no País Basco, mais perto de suas famílias.
Diante dessas reivindicações, Madri continuou a se fazer de surdo.
"O governo não vai mudar sua política penitenciária", declarou o porta-voz do governo espanhol, Iñigo Méndez de Vigo.
"Os terroristas não conseguiram nada matando, nem parando de matar há alguns anos, e não conseguirão nada anunciando sua dissolução (...) Não haverá impunidade", martelou Mariano Rajoy.
O Coletivo de Vítimas do Terrorismo (Covite) exige que o ETA ajude a esclarecer, segundo seus números, 358 crimes ainda não elucidados. Também pede que condene o terror e pare de prestar homenagem a seus militantes.
Em um comunicado divulgado em 20 de abril, o ETA disse lamentar "os erros cometidos", mas pediu perdão apenas às vítimas que não fizeram parte do conflito, sugerindo que as demais eram alvos legítimos.
A União Europeia também comemorou o fim do último grupo armado em seu território.
"Não há lugar na UE para terrorismo, armas e fuzis. A UE é baseada no Estado de Direito", declarou o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.