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Escassez de comida desespera moradores de Mosul

A ONU esperava que até 200 mil pessoas fugissem de Mosul depois de deflagrada a ofensiva em outubro, mas até agora apenas 70 mil deixaram a localidade

Mosul: para as organizações humanitárias, é prioritário ter acesso à população dos bairros sob controle do Exército

Mosul: para as organizações humanitárias, é prioritário ter acesso à população dos bairros sob controle do Exército

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AFP

Publicado em 25 de novembro de 2016 às 18h23.

Um saco de arroz quase vazio foi o único item que sobrou das provisões estocadas por Racha para sua família, sitiada na cidade iraquiana de Mosul, onde os combates fazem grandes estragos.

"Não sei o que vai acontecer quando acabar. Estamos nas mãos de Deus", suspira.

Ao seu lado, Yunes, seu filho de cinco anos, brinca com uma arma de plástico fabricada por seu pai.

Não longe dali, no bairro de Aden, as forças especiais iraquianas avançam, rua a rua, para tentar expulsar os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) dessa grande cidade do norte do país, transformada em reduto desses radicais em 2014.

Racha, seu marido e seus três filhos fazem parte dos milhares de habitantes dos bairros reconquistados pelas tropas do governo, no leste da cidade.

A ONU esperava que até 200.000 pessoas fugissem de Mosul depois de deflagrada a ofensiva em meados de outubro, mas até agora apenas 70.000 civis deixaram a localidade. Os que ficaram, frequentemente por medo, estão em perigo e na penúria.

"Três obuses de morteiro já alcançaram nosso telhado", declara Racha.

"Tenho muito medo por meus três filhos", desabafou.

Toque de queda

A energia elétrica foi cortada, e a água potável está perto do fim. O mesmo começa a acontecer com o gás, tão necessário para aquecer as casas, em especial à noite, quando as temperaturas do lado d fora chegam a ficar abaixo de zero.

Não há como se abastecer de víveres. A família depende dos sacos de pão e das garrafas de água que as unidades de elite iraquianas distribuem de vez em quando.

Tentar chegar aos acampamentos de deslocados dos arredores da cidade é ainda pior do que viver nessas precárias condições, desabafa Racha. "Pelo menos temos um teto", afirma ela, resignada.

Para as organizações humanitárias, é prioritário ter acesso à população dos bairros sob controle do Exército.

A ONU conseguiu entregar alimentos para cerca de 37.000 pessoas, mas apenas nos subúrbios do leste dessa cidade sitiada.

"Nossos dois grandes desafios são a segurança e o acesso", explica Inger Marie Vennize, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PAM) no Iraque.

"Estamos muito preocupados, porque sabemos que as pessoas precisam de ajuda alimentar", completou.

As ONGs não se cansam de pedir às forças iraquianas a abertura de corredores humanitários, ou autorização para o lançamento por via aérea de produtos de primeira necessidade. Em vão.

Há pouca margem de manobra, alegam os militares.

Os extremistas "usam carros-bomba e suicidas, usam civis como escudos humanos. Isso complica as coisas", explica o comandante das unidades de elite antiterroristas Maan al-Saadi.

Na quinta-feira (24), o Exército decretou toque de recolher nos bairros sob seu controle e proibiu a reabertura de lojas, além do retorno dos moradores para suas casas.

Antes disso, quer verificar as identidades das pessoas que vivem nas zonas reconquistadas para distinguir entre residentes e membros do EI.

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