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Erdogan volta a atacar Europa e denuncia "fascismo desenfreado"

Ao mesmo tempo, várias contas do Twitter certificadas foram atacadas por hackers com mensagens em turco comparando a Holanda e a Alemanha ao regime nazista

Erdogan: a Turquia suspendeu as relações de alto nível com a Holanda e bloqueou a entrada do embaixador holandês (Murad Sezer/Reuters)

Erdogan: a Turquia suspendeu as relações de alto nível com a Holanda e bloqueou a entrada do embaixador holandês (Murad Sezer/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de março de 2017 às 15h38.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, voltou a atacar violentamente nesta quarta-feira a Europa, onde, segundo ele, "o espírito do fascismo está desenfreado", e acusou diretamente a Holanda de ser responsável pelo massacre de Srebrenica.

A crise diplomática se estendeu às redes sociais. Várias contas do Twitter certificadas, entre elas as da Anistia Internacional, BBC e do ministério francês da Economia, foram atacadas por hackers com mensagens em turco comparando a Holanda e a Alemanha ao regime nazista.

O Twitter confirmou ter sofrido um ataque de grande envergadura.

"A Holanda não tem nada a ver com civilização, nem com o mundo moderno, foram eles que massacraram mais de 8.000 bósnios muçulmanos na Bósnia Herzegovina, durante o massacre de Srebrenica" em 1995, acusou Erdogan em um discurso.

Srebrenica era um enclave sob proteção dos capacetes azuis holandeses da ONU. Em julho de 1995, durante o conflito iugoslavo, as forças sérvias da Bósnia mataram homens e meninos muçulmanos, na pior matança cometida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Uma história que continua a atormentar a Holanda, onde uma investigação provocou a renuncia do governo em 2002 e onde, em setembro de 2013, depois de um veredito de um tribunal holandês, o país se transformou no primeiro Estado do mundo considerado responsável pelos atos de seus soldados sob mandato da ONU.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, considerou na terça-feira como uma "falsificação nauseante da História" as críticas em relação a Srebrenica.

O conflito diplomático começou no sábado, quando a Holanda decidiu anular os comícios turcos em favor de um referendo, a ser realizado no dia 16 de abril, sobre uma reforma constitucional que concede maiores poderes à figura presidencial.

Para obter maior apoio na consulta, os ministros turcos planejaram viagens por toda a Europa para incentivar os eleitores turcos em outros países.

Em seu discurso, Erdogan também declarou, em alusão aos nazistas, que "os judeus foram tratados da mesma maneira no passado".

Neste contexto, a Turquia suspendeu as relações de alto nível com a Holanda e bloqueou a entrada do embaixador holandês.

E, numa atitude inesperada, a associação de produtores de carne vermelha turca ordenou nesta quarta a consignação de gado holandês para que seja reenviado à Holanda, afirmando que já não deseja criar este gado devido à crise diplomática entre os dois países.

Alemanha nazista

Em paralelo, no Twitter, muitas foram as contas hackeadas.

"Alemanha nazista #Holanda nazista. Aqui uma pequena bofetada otomana para vocês. #Nos vemos em 16 de abril. Querem saber o que escrevi? Aprendam turco", afirmava uma mensagem em turco enviada às 7H00 GMT (4H00 de Brasília), que também foi publicada nas contas de Javi Martínez, espanhol que joga no Bayern de Munique, e do ex-tenista alemão Boris Becker, entre outros.

A mensagem era acompanhada por um vídeo com trechos de um discurso do presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

"Estamos cientes do problema que afeta várias contas", declarou um porta-voz da rede social, antes de acrescentar que a fonte do ataque foi rapidamente localizada e que procede de um "aplicativo".

O aplicativo em questão, o Twitter Counter, iniciou uma investigação sobre o ataque do qual foi vítima e que permitiu a ação de pirataria, afirmou à AFP seu presidente, Omer Ginor.

O ataque cibernético é uma nova escalada na crise diplomática entre a Turquia e vários países europeus, num contexto de eleições marcadas pelo avanço dos movimentos extremistas.

Este é o caso da Holanda, que realiza eleições legislativas nesta quarta-feira, e na qual o partido do deputado islamofóbico Geert Wilders poderia terminar em segundo lugar.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse nesta quarta-feira estar escandalizado com as declarações da Turquia comparando alguns países europeus, como Holanda e Alemanha, ao regime nazista de Adolf Hitler.

"Fiquei chocado com o que a Turquia disse sobre Holanda, Alemanha e outros. Nunca aceitarei esta comparação entre os nazistas e os governos" atuais, declarou Juncker ante o Parlamento Europeu em Estrasburgo (nordeste da França).

O resultado do referendo turco parece apertado e, na terça-feira, Erdogan disse que a vitória seria a melhor resposta para os "inimigos" da Turquia.

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