Apoiadores do premiê turco e candidato à Presidência, Tayyip Erdogan, durante comício em Istambul (Murad Sezer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de agosto de 2014 às 21h56.
Istambul - A multidão nas arquibancadas vibrou quando o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, marcou seu terceiro gol em uma partida de futebol de celebridades em comemoração à inauguração de um estádio em Istambul.
Ela usava uma camisa com o número 12, um lembrete da ambição do premiê de se tornar o 12º presidente na primeira eleição popular da Turquia para um chefe de Estado em 10 de agosto.
Depois de dominar a política turca durante mais de uma década, poucos duvidam que Erdogan irá derrotar seu principal rival, Ekmeleddin Ihsanoglu, um diplomata de pouco destaque na política nacional, ou Selahattin Demirtas, esperança da população curda.
Mas os adversários de Erdogan dizem se tratar de uma disputa injusta, acusação que o premiê rejeita.
Uma vitória de Erdogan concentraria mais poder nas mãos de um homem que dividiu a sociedade turca em facções seculares e religiosas e despertou a desconfiança de aliados ocidentais da Turquia.
Enquanto seus oponentes financiaram suas campanhas principalmente com doações, Erdogan transformou suas aparições públicas, algumas com dinheiro do Estado, em demonstrações de força, desde a inauguração do terceiro aeroporto de Istambul em junho ao lançamento de um trem de alta velocidade no fim de julho.
Ele cruzou o país no jato de primeiro-ministro para se encontrar com seus apoiadores, começando sua campanha de fato bem antes de 11 de julho, data oficial estabelecida pelo comitê eleitoral.
O porta-voz de Erdogan disse que o premiê deixou de usar o avião e o carro oficiais desde que restrições mais severas para as campanhas entraram em vigor em 31 de julho.
Uma fonte da sede de campanha declarou que Erdogan é a figura política mais forte da Turquia e “não precisa de nenhum financiamento estatal” na sua corrida presidencial, acrescentando não ser nem antiético nem ilegal sua participação em cerimônias inaugurais.
No mês passado, o comitê eleitoral rejeitou um recurso do principal partido de oposição, o CHP, pedindo que Erdogan entregasse o cargo para poder concorrer à Presidência.
Erdogan menciona as campanhas eleitorais do presidente norte-americano, Barack Obama, e da chanceler alemã, Angela Merkel, que concorreram exercendo a função.
“Os impostos que nós, cidadãos, pagamos devem ser gastos com benefícios públicos. Usar o avião na campanha obviamente é contra certos valores éticos”, disse Sami Selcuk, acadêmico e ex-juiz da Corte de Apelações.
Várias delegações que visitaram a Turquia para observar a campanha ecoaram os comentários de Selcuk, incluindo a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).