Mundo

Equador acusa instituto dos EUA de vender DNA indígena

DNA de nativos amazônicos foi vendido para 8 países, inclusive o Brasil, afirmou nesta sexta-feira uma fonte do governo

Nativos huaoranis são vistos no parque nacional Yasuni, no Equador (Rodrigo Buendia/AFP)

Nativos huaoranis são vistos no parque nacional Yasuni, no Equador (Rodrigo Buendia/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2014 às 17h40.

Quito - O Equador, que pretende processar entidades dos Estados Unidos por extraírem, sem consentimento, o sangue de indígenas huaorani para fins de pesquisa, destaca que o Instituto Coriell vendeu DNA desses nativos amazônicos para outros países, inclusive o Brasil, afirmou nesta sexta-feira uma fonte do governo.

O Brasil estaria entre os destinos do sangue coletado junto com Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Índia, Itália, Japão e Cingapura, de acordo com a Secretaria Nacional de Educação Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (Senescyt, com status de ministério), que investigou o caso a pedido do governo após a denúncia do povo huaorani em 2010.

Com sede em Nova Jersey, nordeste dos Estados Unidos, o Instituto Coriell "vende a uma série de outros pesquisadores e instituições. O ponto é que Coriell acaba vendendo isso pelo menos para oito países", disse à AFP a vice-secretária (ministra) de Educação Superior, Maria del Pilar Troya.

O caso dos huaorani também envolve a petroleira Maxus, que deixou de operar no Equador nos anos 1990, e a Escola de Medicina da Universidade de Harvard, ambas americanas.

Em meados de junho, o Instituto Coriell informou à AFP que em 1991 havia recebido de um cientista não identificado "um único tubo" que continua uma "linhagem celular linfoblastoide, estabelecida a partir de uma amostra de sangue de um indivíduo huaorani".

A amostra foi entregue por um pesquisador de Harvard, segundo a Senescyt.

"Entre 1994 e 2008, diante de pedidos de cientistas de oito países, Coriell distribuiu sete culturas celulares e 36 amostras de DNA desta linha para propósito exclusivo de pesquisa científica", informou o organismo, segundo o qual "não teve benefícios relacionados com a recepção, o armazenamento ou a distribuição" da amostra.

O Instituto Coriell acrescentou que a amostra foi cultivada para produzir as células, das quais foi extraído o DNA, antes de ser retirada em 2010, razão pela qual não está disponível para pesquisas.

No entanto, a vice-secretária enfatizou que "essa (linhagem celular) foi vendida com fins científicos".

"Detectou-se que desde o fim desde os anos 1960 até a atualidade, no total havia 3.500 procedimentos (de tomada de amostras) de diferente nível", disse.

Segundo a funcionária, "os huaorani tiveram extraídas amostras de sangue. Em alguns casos, também de tecidos e apenas 20% assinaram algum tipo de consentimento".

O caso foi denunciado pelo Equador em 2012. Há duas semanas, o presidente Correa disse que "não existe nenhuma lei federal dos Estados Unidos que provê um fundamento jurídico para a demanda em tribunais contra Coriell, Maxus e cientistas" de Harvard.

No entanto, Correa enfatizou que o Equador persiste em sua decisão de abrir a ação.

O presidente afirmou que o sangue foi submetido a "experimentos", devido a que os huaorani, que até algumas décadas atrás não mantinham contato com a civilização, são "imunes a algumas doenças".

A nação huaorani atualmente é integrada por 3.000 pessoas, segundo organizações indígenas. Dela, sobrevivem os clãs taromenane e tagaeri, os dois únicos povos nômades ainda em isolamento voluntário que se movem em uma ampla zona de selva.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaEquadorEstados Unidos (EUA)IndígenasPaíses ricos

Mais de Mundo

Venezuela liberta 10 detidos durante protestos pós-eleições

Zelensky quer que guerra contra Rússia acabe em 2025 por 'meios diplomáticos'

Macron espera que Milei se una a 'consenso internacional' antes da reunião de cúpula do G20

Biden e Xi Jinping se reúnem antes do temido retorno de Trump