Aedes aegypti: "o estudo usa os dados disponíveis para proporcionar uma compreensão de como a doença se desenvolverá e calcular a ameaça no futuro", afirma autor da pesquisa (Alvin Baez / Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2016 às 19h44.
Washington - A atual epidemia de zika que afeta muitos países da América Latina poderia terminar no prazo de dois a três anos, segundo uma nova pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela revista "Science".
O trabalho, realizado por cientistas do Imperial College de Londres, assegura além disso que a epidemia não será contida com as medidas de controle aplicadas até agora e que a crise pela doença acabará por si só.
"Este estudo usa todos os dados disponíveis para proporcionar uma compreensão de como a doença se desenvolverá e nos permite calcular a ameaça em um futuro próximo", afirma no artigo o autor principal da pesquisa, o professor Neil Ferguson.
"Nossa análise sugere que a propagação da zika não é controlável, mas também que a epidemia acabará por si só dentro de dois ou três anos", acrescentou.
A equipe de cientistas, que utilizou os dados existentes de transmissão do vírus da zika em toda a América Latina, também diz que é improvável que a próxima epidemia em grande escala aconteça nos próximos dez anos, embora exista a possibilidade de surtos menores.
No estudo, os pesquisadores combinaram a informação sobre a zika na América Latina com dados sobre vírus similares, como os da dengue e chicungunha, para gerar um modelo matemático representativo e prever sua evolução e novas ondas de transmissão.
Um dos elementos levados em conta é o fato de que é pouco provável que as pessoas sejam infectadas pelo vírus da zika duas vezes, o que leva a um fenômeno chamado "imunidade de grupo".
"Dado que o vírus não é capaz de infectar a mesma pessoa duas vezes - graças aos anticorpos gerados pelo sistema imunológico para matá-lo - a epidemia chega a uma etapa na qual sobram poucas pessoas que possam ser infectadas para que a transmissão seja sustentável", explicou Ferguson.
"Graças a este modelo, podemos prever que não se repetirá uma transmissão em grande escala por pelo menos dez anos, quando na população houver uma nova geração que não tenha sido exposta ao vírus da zika", acrescentou o cientista.
No caso do chicungunha, um vírus similar ao da zika, "vimos epidemias explosivas seguidas por longos períodos com poucos casos novos", indicou Ferguson.
Sobre o controle da doença, Ferguson advertiu que começou tarde demais para que tivesse um efeito significativo e que, de fato, "qualquer esforço para conter a propagação do vírus pode prolongar a epidemia atual".
"A desaceleração da transmissão entre pessoas significa que a população terá mais tempo para chegar ao nível de imunidade de grupo necessário para que se contenha a transmissão" e a frequência entre epidemias, ao invés de ser de mais de dez anos, poderia ser de períodos mais curtos, apontou o especialista.
O cientista assegura no estudo que se suas projeções estiverem corretas, os casos de zika "cairão substancialmente" no final do próximo ano, se não antes, e pode ser que quando for desenvolvida uma vacina "talvez não haja casos suficientes de zika na comunidade para testar sua eficácia".