Zika: os pesquisadores afirmam ser improvável que uma nova epidemia de zika de larga escala ocorra nos próximos 10 anos, embora possam surgir surtos menores (Alvin Baez / Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2016 às 16h31.
São Paulo - De acordo com um artigo publicado na revista Science por cientistas britânicos, a epidemia de zika na América Latina provavelmente desaparecerá sozinha dentro de, no máximo, três anos.
Os pesquisadores do Imperial College London afirmam ser improvável que uma nova epidemia de zika de larga escala ocorra nos próximos 10 anos, embora possam surgir surtos menores.
A explicação para o fim da epidemia é o fato de que as pessoas ficam imunes ao vírus após a primeira infecção.
Isso produz um fenômeno conhecido como "imunidade de rebanho": cada vez mais gente produz anticorpos e a epidemia atinge um estágio no qual o número de pessoas suscetíveis à infecção é tão pequeno que a transmissão não se sustenta em larga escala.
De acordo com os autores do estudo, depois do fim da atual epidemia, levará 10 anos para que surja uma nova geração de pessoas que nunca foram infectadas. O estudo foi liderado por Neil Ferguson, da Escola de Saúde Pública do Imperial College London.
"Esse estudo usa todos os dados disponíveis para fornecer uma compreensão de como a doença vai se desdobrar - e nos permite avaliar a ameaça em um futuro iminente. Nossa análise sugere que não é possível conter o avanço da zika, mas que a epidemia vai acabar sozinha em dois ou três anos", disse Ferguson.
No artigo, os cientistas também afirmam que a epidemia não poderá ser controlada com as medidas usadas atualmente para combatê-la. Eles alertam que combater o mosquito em larga escala, como os governos estão fazendo, tem efeito limitado - como ficou demonstrado no caso da dengue - e pode até mesmo ser contraproducente.
"Retardar a transmissão entre as pessoas faz com que a população leve mais tempo para atingir o nível de 'barreira de rebanho' necessário para que a epidemia cesse. Além disso, combater o mosquito pode fazem com que a janela entre as epidemias - que estimamos ser de 10 anos - acabem ficando mais curtas", explicou Ferguson.
Segundo Ferguson, as experiências do combate ao mosquito Aedes aegypti para conter as epidemias de dengue já mostraram que essas medidas têm impacto limitado.
"O vírus (da zika) é muito semelhante ao da dengue e é transmitido pelo mesmo mosquito. Mas experiências prévias com a dengue mostram que controlar seu alastramento é incrivelmente difícil. Além disso, os esforços para conter a epidemia precisariam ter sido implementados muito antes na epidemia de zika para que tivessem efeito - mas quando se notou a escala do problema já era tarde demais", disse.
Tarde para as vacinas
Segundo os cientistas, se as projeções estiverem certas, os casos de zika já terão uma redução substancial no fim de 2017, ou antes.
"Isso significa que quando as vacinas estiverem prontas para serem testadas, talvez não tenhamos casos de zika suficientes na comunidade para fazer os ensaios clínicos", disse o cientista.
Para fazer o estudo, os pesquisadores usaram todas as informações disponíveis sobre as epidemias de zika e dengue no continente latino-americano e, a partir daí, montaram um modelo matemático que representa a atual epidemia e futuras ondas de transmissão.
"Usando nosso modelo, previmos que a transmissão de larga escala não vai recomeçar por pelo menos dez anos - até que surja uma nova geração da população que não foi exposta ao vírus zika. Isso espelha outras epidemias, como a de chikungunya, nas quais vimos um surto explosivo seguido por longos períodos com poucos novos casos", disse Ferguson.