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Da Redação
Publicado em 15 de março de 2012 às 19h18.
Assunção - O Instituto da Terra (Indert) do Paraguai criticou nesta quinta-feira o fato de o Estado não poder entrar em suas próprias terras, durante a apresentação de um relatório sobre a região produtora de soja de Ñacunday, epicentro do conflito entre os chamados 'brasiguaios' e camponeses sem-terra.
O novo interventor do Indert, Emilio Camacho, expôs em entrevista coletiva diversas irregularidades cometidas na concessão de terras nos anos 1970, durante a ditadura de Alfredo Stroessner, enquanto permanecem as tensões envolvendo os 'brasiguaios' - brasileiros estabelecidos no Paraguai, sobretudo produtores rurais.
Em Ñacunday, região fronteiriça com o Brasil, 70% das terras estão cobertas de cultivos mecanizados de soja e o restante pertence ao Estado, de acordo com os dados divulgados.
Segundo Camacho, citado pela agência de notícias estatal 'IP Paraguay', os lotes entregues estão agora 'totalmente unificados', o que torna muito difícil para o Indert identificar limites e proprietários atuais e até se as estradas internas são públicas ou privadas.
'Não exagero quando digo que se brinca com o destino da pátria nas terras de Ñacunday. Temos um Estado que não pode entrar em suas terras. Essa é a magnitude da desapropriação que se cometeu', declarou o interventor.
A tensão nessa região produtora de soja se refletiu em janeiro passado, quando os camponeses voltaram a ameaçar ocupar as terras do latifundiário 'brasiguaio' Tranquilo Favero, o maior produtor individual de soja do Paraguai.
Após a intervenção do governo, os sem-terra se estabeleceram temporariamente em um parque natural, à espera de serem assentados em propriedades do Banco Nacional de Fomento.
Mas, segundo Camacho, se repete 'a mesma história que em Ñacunday', que denunciou que o Indert encontrou cultivos de 'outras pessoas' nas terras do Banco.
O interventor lamentou a falta de colaboração da Justiça nesta crise recorrente no Paraguai, um país onde um terço das terras produtivas foi distribuído de maneira irregular.
Segundo relatório de 2008 elaborado pela Comissão da Verdade e Justiça (CVJ), durante a ditadura Stroessner, quase 6,75 milhões de hectares foram adjudicados irregularmente e outro 1 milhão nos 15 anos seguintes de governo do Partido Colorado, o que representa 64,1% do total de terras entregues a colonos.