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Entenda o que acontece com o estoque de armas químicas de Assad após queda do regime na Síria

Uso do armamento pelo ditador sírio marcou o início da guerra civil, e há dúvidas sobre o volume restante no seu arsenal hoje apesar dos esforços para destruí-lo

Agência o Globo
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Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 07h47.

Última atualização em 13 de dezembro de 2024 às 07h49.

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Após rebeldes tomarem o controle da capital da Síria no domingo, pondo fim ao regime de mais de 50 anos do clã Assad, o grupo — que já teve vínculos com o Estado Islâmico e com a al-Qaeda — agora poderá ter acesso ao que restou do arsenal de armas químicas que o ex-presidente usou para matar milhares de pessoas durante a guerra civil, que afetou o país nos últimos 13 anos.

Qual é o histórico da Síria com armas químicas?

O uso de armas químicas por Bashar al-Assad em membros de grupos rebeldes e civis foi uma característica marcante nos primeiros dias da guerra civil da Síria, tanto que, em 2012, o então presidente dos EUA, Barack Obama, alertou que o uso contínuo dessas armas cruzaria uma “linha vermelha” que justificaria uma intervenção militar dos EUA.

Assad ignorou o aviso e, em 21 de agosto de 2013, lançou um ataque com gás sarin em Ghouta, um subúrbio próximo a Damasco, matando mais de 1,4 mil civis, incluindo centenas de crianças.

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Sob a ameaça de retaliação dos EUA, Assad concordou com um acordo russo-americano para eliminar o programa de armas químicas de seu país — que até então ele negava ter — e aderir a um tratado internacional de proibição de armas químicas.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), um órgão de monitoramento internacional, recebeu a tarefa de destruir os estoques de armas químicas da Síria em 2013, um empreendimento que a ajudou a ganhar o Prêmio Nobel da Paz daquele ano.

Nos nove meses seguintes, a Opaq desmantelou e destruiu cerca de 1,1 mil toneladas de agentes de gás sarin, VX e mostarda e seus mecanismos de distribuição, e certificou, em junho de 2014, que todas as armas declaradas da Síria haviam sido removidas.

Qual o motivo da preocupação agora?

A palavra-chave na certificação da Opaq sobre a destruição das armas químicas da Síria foi que elas eram as armas que haviam sido originalmente “declaradas” pela Síria como parte de seu arsenal. Mas o inventário da Síria não estava completo

Mesmo naquela época, as autoridades dos EUA e da Opaq suspeitavam que Assad havia escondido alguns de seus estoques e instalações de armas químicas dos inspetores, uma suspeita confirmada três anos depois, quando mais de 80 civis foram mortos em um bombardeio químico pelas forças sírias em Khan Sheikhoun.

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"Sempre soubemos que não tínhamos obtido tudo, que os sírios não tinham sido totalmente receptivos em sua declaração", disse Antony Blinken, então vice-secretário de Estado de Obama, ao The New York Times na época.

Cerca de um ano após o ataque em Khan Sheikhoun, quase 50 pessoas foram mortas em 7 de abril de 2018 em outro ataque com agente químico perto de Damasco.

Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França responderam bombardeando três instalações de armazenamento e pesquisa de armas químicas administradas pelo governo perto de Damasco. Mas as autoridades do Departamento de Defesa dos EUA reconheceram que, ainda assim, o governo sírio provavelmente manteve parte de seu arsenal de armas químicas.

Quantas armas químicas ainda restam e onde estão agora?

Na semana passada, as agências de inteligência dos EUA estavam monitorando de perto os locais suspeitos de armazenamento de armas químicas na Síria, procurando indicações de que as forças do governo poderiam estar se preparando para usar os estoques restantes como forma de impedir que os rebeldes tomassem a capital. Agora que o governo de Assad caiu, existe a preocupação de que as armas possam ser roubadas ou usadas.

Em 9 de dezembro, Israel confirmou que havia realizado ataques aéreos contra supostos estoques de armas químicas e mísseis na Síria para impedir que as armas caíssem “nas mãos de extremistas”, disse o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar.

Ralf Trapp, consultor independente sobre desarmamento de armas químicas e biológicas que acompanhou de perto o destino do programa de armas químicas da Síria e seu desmantelamento, disse que suspeita que o que resta do arsenal de armas químicas do governo é pequeno, dado o uso limitado por Assad e as poucas vezes que ele as utilizou depois de 2014.

"Você não viu os ataques maciços de foguetes com gás sarin", disse ele sobre os incidentes de 2017 e 2018. — Estamos falando de um pequeno número de granadas. Portanto, não me surpreenderia se estivéssemos falando de uma quantidade bastante limitada.

Com que facilidade as armas químicas poderiam ser usadas?

Não é fácil. As armas químicas não são armazenadas em um formato pronto para uso. Os precursores químicos do gás sarin são voláteis e só podem ser combinados na ogiva pouco antes do lançamento — horas ou, no máximo, dias, disse Trapp.

"A menos que eles saibam qual é a receita, como misturá-los e como fazer isso com segurança sem se matar, eu ficaria cético quanto à possibilidade de um grupo armado encontrar esse tipo de estoque e conseguir convertê-lo em uma arma eficaz", acrescentou.

O que pode ser feito para manter o arsenal seguro?

A Opaq anunciou na segunda-feira que tem monitorado de perto os recentes acontecimentos na Síria, bem como a segurança e a integridade de todos os locais declarados de pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenamento e testes de armas químicas do país. Assim que um novo governo for estabelecido, Trapp disse que a Opaq tentará trabalhar com a nova liderança para destruir o que resta.

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