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Entenda o confronto entre potências nucleares que deixou o mundo em alerta

Pela 1ª vez em décadas, Índia e China entraram em um confronto que registrou mortes, aumentando a temperatura em uma região altamente militarizada

Protestos contra a China na Índia, após embate entre soldados na fronteira do Himalaia (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Protestos contra a China na Índia, após embate entre soldados na fronteira do Himalaia (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 17 de junho de 2020 às 17h00.

Última atualização em 17 de junho de 2020 às 22h06.

O mundo recebeu mais uma notícia preocupante nesta semana, além da situação da pandemia do novo coronavírus: na madrugada da última terça-feira, 16, Índia e China entraram em um confronto direto na conflituosa região do Himalaia. O incidente deixou 20 militares indianos mortos, mas também teria feito vítimas do lado chinês, segundo os indianos, e foi o primeiro a registrar mortes em 45 anos.

Os acontecimentos elevaram a temperatura entre os dois países, potências nucleares e donas das maiores populações do planeta. Índia e China disputam há décadas essa região e entraram em guerra em razão disso em 1962. O local do embate é conhecido como Linha de Controle Real e fica no vale de Galwan (Ladakh). Faz parte da Caxemira, uma área altamente militarizada e disputada, e é uma fronteira comum de cerca de 3.500 quilômetros.

“As fronteiras dessa região foram muito mal demarcadas. A briga entre os países sempre existiu, mas as mortes agravaram a situação”, explicou Fausto Godoy, coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM. “O cessar-fogo de 1962 estabelecia que Índia e China nunca mais trocassem tiros e o que vimos nessa semana foi uma briga de socos, militares caindo montanha abaixo”, explicou Godoy, que é diplomata e serviu como embaixador do Brasil no Paquistão e Afeganistão.

O que entre Índia e China nesta semana?

É bem verdade que a tensão entre tropas chinesas e indianas já vinha aumentando há alguns meses e incidentes são comuns, embora há anos não tenham resultado em fatalidades. Em 2017, os países passaram 72 dias em confronto na área de Doklam, na fronteira entre China, Índia e Butão. Há cerca de dois meses, no entanto, passaram a militarizar ainda mais a região.

Nesta semana, a situação explodiu. De acordo com informações do jornal Financial Times, o confronto aconteceu em uma passagem estreita, íngreme e de alta altitude. A violência envolveu o uso de armas improvisadas. Segundo autoridades indianas, 20 dos seus militares foram mortos e alegam, também, que há vítimas do lado chinês, o que Pequim não confirma.

Do lado chinês, os soldados indianos são acusados de terem cruzado a fronteira por duas vezes. Já entre os indianos, esses alegam que apenas se defenderam das agressões inimigas. Oficialmente, no entanto, tanto o governo de Xi Jinping (China) quanto o de Narendra Modi (Índia) falam na busca de uma resolução pacífica para a questão.

Godoy chama a atenção para mais um componente que pode ajudar a explicar o aumento da tensão na região, o geopolítico. “Ambos países tem uma agenda comum no Brics e no G20. No entanto, hoje concorrem por influência na Ásia, querem se posicionar como líderes no mundo pós-Estados Unidos que está chegando”, explicou o diplomata. De um lado, portanto, está a China, potência econômica.  Do outro, a Índia, uma potência tecnológica.

Quais as chances de um conflito maior entre as potências?

Para Godoy, as chances de um conflito maior e uma deterioração ainda mais severa dos laços entre os países não é provável. “Acredito que teremos um bate-boca inflamado, mas haverá um momento de sensatez”, explicou o diplomata. Nesse sentido, é possível que uma mediação conduzida por outra potência próxima da região, como a Rússia, poderia ajudar acalmar os ânimos. “Ninguém tem interesse que ocorra um conflito dessa gravidade”, notou.

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