Mundo

Entenda o conflito entre israelenses e palestinos

Conflito entre israelenses e palestinos remonta ao início do século passado e vive atualmente um processo de intensificação


	Soldado israelense em um tanque que se dirige à fronteira com a Faixa de Gaza
 (Menahem Kahana/AFP)

Soldado israelense em um tanque que se dirige à fronteira com a Faixa de Gaza (Menahem Kahana/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2014 às 17h23.

Rio de Janeiro - Nos últimos dias, o mundo tem acompanhado a intensificação do conflito entre israelenses e palestinos, na Faixa de Gaza. Até o momento, mais de 260 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas na sequência dos ataques iniciados em julho.

A nova espiral de violência foi desencadeada após o sequestro e homicídio, em junho, de três jovens judeus na Cisjordânia (um ataque que Israel atribuiu ao Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza) seguido da morte de um jovem palestino queimado em Jerusalém por extremistas judeus. A partir daí, tiveram início os lançamentos de foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel.

O conflito entre israelenses e palestinos remonta ao início do século passado. Entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20, uma migração em massa de judeus de vários países para a Palestina provocou uma mudança na demografia local. Majoritariamente árabe, a região - que até 1917 pertencia ao Império Otomano e depois, até 1948, foi um protetorado britânico - passou a ter uma população judaica cada vez maior.

Nos primeiros anos de mandato britânico na Palestina, houve confrontos entre árabes e judeus. Começou-se então a discutir o que fazer diante daquela situação. Em 1947, pouco antes da retirada dos britânicos, a Organização das Nações Unidas (ONU) pôs em prática um plano de divisão do território em duas partes: uma para os judeus e outra para os árabes. A insatisfação em torno do mapa definido pela ONU gerou uma guerra civil entre os dois povos.

Com a saída dos britânicos, em 1948, países árabes vizinhos tentaram invadir o recém-criado Estado de Israel. Mas, ao término do conflito, os israelenses mantiveram seu território e os palestinos perderam a chance de criar seu próprio Estado, já que Israel ocupou parte do território destinado aos palestinos pela ONU, o Egito passou a controlar a Faixa de Gaza e a Jordânia ficou com a Cisjordânia.

Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF) Gisele Chagas, é uma visão simplista dizer que judeus e árabes “sempre se odiaram e sempre viverão em guerra”. Segundo ela, um dos principais pontos de discordância entre os dois povos, no início dos conflitos, era a existência de projetos nacionalistas diferentes. Os povos discordavam sobre o que fazer com uma Palestina independente: uma Palestina árabe ou uma Israel judaica?

“São dois projetos políticos distintos. São dois projetos políticos nacionais que vão disputar o mesmo território, que vão querer criar um tipo de comunidade política em que o outro projeto não está incluído”, afirma a pesquisadora.

Gaza e Cisjordânia se mantiveram sob ocupação estrangeira árabe até 1967, quando uma nova guerra, a Guerra dos Seis Dias, entre Israel e as nações vizinhas, resultou na ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia (incluindo a parte oriental de Jerusalém).

A partir daí, Israel assumiu uma política de colonização de Gaza e da Cisjordânia com judeus, por meio de assentamentos. Por vários anos, a ONU considerou a ocupação dos territórios palestinos ilegal e determinou que Israel retornasse às fronteiras pré-1967, o que tem sido ignorado pelo governo israelense.

“A guerra de 1967 é o núcleo da problemática mais recente. E é o núcleo dificultador da solução de dois Estados [Israel e Palestina]. Se você olhar as fronteiras de 67, Jerusalém oriental teria que pertencer aos palestinos, que a querem como capital. E esse parece que é um dos pontos menos negociáveis por parte de Israel, que tem uma população decidida a ter Jerusalém como capital”, diz o coordenador do Laboratório de Estudos Asiáticos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leonardo Valente.

Apenas em 2005, Israel decidiu retirar seus colonos e militares da Faixa de Gaza, entregando sua administração à Autoridade Nacional Palestina (ANP). Apesar disso, Israel continuou a controlar as fronteiras e o acesso marítimo a Gaza.

 

Na Cisjordânia, pouco mudou já que a política de assentamentos judaicos e a ocupação militar do território continuaram. Ainda hoje, grande parte desse território palestino tem sua administração civil e militar concentrada nas mãos de Israel.

Apesar da devolução de Gaza aos palestinos, o território passou a ser o principal foco de problema do conflito israelense-palestino, já que, em 2006, o Hamas, movimento fundamentalista islâmico, venceu as eleições parlamentares palestinas. Em seguida, o Hamas rompeu com o Fatah, organização política e militar palestina, tomando o controle de Gaza, enquanto seu rival político mantinha o controle sobre a Cisjordânia.

Visto como um grupo terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e por países europeus, o Hamas sofreu uma série de sanções por parte desses países. O governo israelense ampliou a vigilância sobre Gaza, aumentando seu controle sobre as fronteiras e restringindo a circulação de produtos e pessoas entre os dois territórios. Desde então, houve uma série de confrontos abertos entre as duas partes: o governo israelense e o Hamas.

“Há uma dificuldade de Israel aceitar certos grupos palestinos, entre eles o Hamas. E o Hamas tem uma dificuldade muito grande de negociar e até reconhecer Israel. A partir de 2006, a situação se deteriorou muito na Faixa de Gaza”, destaca Valente.

Em geral, os confrontos envolvem o lançamento de foguetes pelo Hamas a cidades de Israel e ataques de Israel a Gaza, por meio de bombardeios e ofensivas terrestres (quando militares israelenses entram no território palestino).

Além dos confrontos abertos que resultaram em centenas de mortes (na maioria, de palestinos), a relação entre israelenses e palestinos nas últimas décadas tem sido marcada por atentados, conflitos entre militares israelenses e civis palestinos, intifadas (revoltas populares) e tentativas de acordos de paz que sempre são emperradas por algum motivo.

Entre os pontos de desacordo estão a divisão de Jerusalém, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente.

Repórter do jornal Alghad, com sede em Amã, a jordaniana Taghreed Risheq cobre o conflito há quatro anos e não tem esperanças de que a questão seja resolvida logo.

“Se os dois lados quiserem viver em paz, eles precisam se submeter às leis internacionais. Em primeiro lugar, Israel deveria se retirar das terras ocupadas [na Cisjordânia, a partir de 1967], de acordo com resoluções da ONU. Eles deveriam concordar em assuntos como a divisão de Jerusalém, entre palestinos [leste] e israelenses [oeste], questões de segurança, fronteiras e direito ao retorno [dos refugiados palestinos]”, disse.

A opinião de que não há solução para o conflito em um futuro próximo é partilhada pela jornalista libanesa Paula Astih, correspondente, em Beirute, do jornal inglês publicado em língua árabe Asareq el Awsat.

“O conflito israelense-palestino se torna mais complexo a cada ano. Palestinos querem sua terra de volta e os esforços políticos para consegui-la parecem ser em vão. É por isso que muitos palestinos acreditam em resistência. Sem falar nos milhões de refugiados [palestinos] que vivem hoje no Líbano, na Jordânia, na Síria e por todo o globo, e nos outros que ocuparam as terras [dos refugiados] há anos e não vão querer devolvê-la. Haverá apenas guerras, com algumas tréguas, mas não a paz”, ressaltou a jornalista.

Na opinião da pesquisadora Gisele Chagas, para que um processo de paz tenha início, é preciso, entre outras coisas, que as fronteiras pré-1967 sejam respeitadas e que haja uma solução para os refugiados palestinos. “É preciso acabar com a perspectiva israelense de colonização da Cisjordânia, resolver o problema dos refugiados e ter a ideia de um Estado palestino soberano, com fronteiras bem definidas e controle de seus próprios recursos naturais”, disse.

Acompanhe tudo sobre:Al FatahCisjordâniaConflito árabe-israelenseFaixa de GazaHamasIsraelONUPalestina

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru