Dallas - Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) informaram que irão assumir os cuidados da primeira enfermeira do Estado do Texas diagnosticada com ebola, e congressistas criticaram a reação do governo ao vírus no país.
Nina Pham, a primeira enfermeira a contrair o ebola depois de tratar de um homem que morreu da doença, será transferida no final desta quinta-feira de Dallas para uma unidade de isolamento do NIH, localizado nos arredores de Washington, para tratamento, declarou o doutor Anthony Fauci aos legisladores em uma audiência do Congresso sobre a maneira como o governo está lidando com a febre hemorrágica no território norte-americano.
“Iremos lhe proporcionar cuidados de última geração em nossas instalações de contenção de alto nível”, afirmou Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas do NIH.
Ele anunciou a decisão de transferir Pham, cuja condição é estável, no momento em que os congressistas repreendiam as autoridades por sua resposta ao ebola no país e pelas falhas nos esforços para deter sua disseminação em suas fronteiras.
Pham era parte da equipe de agentes de saúde que cuidaram do liberiano Thomas Eric Duncan, o primeiro paciente diagnosticado com ebola nos Estados Unidos e que faleceu no dia 8 de outubro.
O doutor Daniel Varga, clínico-chefe e vice-presidente sênior da rede hospitalar Texas Health Resources, declarou na audiência que foram cometidos erros no diagnóstico de Duncan e no fornecimento de informações ao público, e que “lamentava profundamente”.
Ele disse não ter havido treinamento de pessoal para o ebola antes da internação do primeiro paciente. A Texas Health administra hospitais e instalações de saúde no norte do Texas, inclusive aquela na qual Duncan foi tratado.
O doutor Thomas Frieden, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) em Atlanta, é o médico mais graduado supervisionando a reação dos EUA ao ebola e tem recebido críticas duras e pedidos de renúncia pelos lapsos na contenção da doença em solo norte-americano.
Em seu testemunho ao conselho de supervisão do Congresso, ele ressaltou haver muito medo em relação ao vírus, que já matou quase 4.500 pessoas em Serra Leoa, Libéria e Guiné este ano.
“Como diretor do CDC, uma das coisas que temo no tocante ao ebola é que ele pode se propagar ainda mais amplamente na África. Se isso acontecesse, poderia se tornar uma ameaça ao nosso sistema de saúde e ao tratamento que oferecemos durante muito tempo”, afirmou Frieden.
A transmissão do ebola para Pham e Amber Vinson – outra enfermeira de Dallas que cuidou de Duncan no hospital Texas Health Presbyterian – e revelações de que Vinson viajou de avião ligeiramente febril levaram Frieden a voltar atrás em comentários anteriores sobre sua confiança na capacidade das autoridades de saúde dos EUA para conter a doença.
“Seria um eufemismo dizer que a reação ao primeiro paciente com ebola no país foi incompetente, causando risco a dezenas de pessoas a mais”, afirmou a congressista Diana DeGette, principal democrata no subcomitê congressional de Energia e Comércio, que realizou a audiência.
Pelo menos dois parlamentares pediram a renúncia de Frieden. Outros, inclusive o presidente da Câmara dos Deputados, John Boehner, exortaram a adoção de restrições de viagens aos países do oeste africano mais atingidos pelo ebola.
Escolas Fechadas
Em Ohio, onde Amber Vinson visitou familiares, duas escolas de Solon, no subúrbio da cidade de Cleveland, foram fechadas nesta quinta-feira porque um funcionário pode ter viajado no mesmo avião da enfermeira, embora em um voo diferente, e três escolas texanas adotaram a mesma medida porque dois alunos estavam no mesmo voo.
A empresa áerea, Frontier Airlines, informou ter dado licença a seis tripulantes “por excesso de cautela”.
O departamento de saúde de Ohio declarou que o CDC está enviando pessoal para ajudar a coordenar as ações para conter a propagação do vírus.
Frieden afirmou ser improvável que passageiros que viajaram com Vinson tenham sido infectados, porque ela não vomitou nem sangrou durante o voo, mas que ela não deveria ter embarcado.
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1. Descoberta
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1/20 (Domínio Público/Wikimedia)
O vírus ebola foi descoberto por cientistas em 1976. Naquela ocasião, houve dois surtos da doença em diferentes locais da África. Um deles em Nzara, no Sudão. O outro em Yambuku, na República Democrática do Congo. A segunda localidade ficava perto do Rio Ebola, que terminou dando nome à doença causada pelo vírus. As informações são da Organização Mundial da Saúde (
OMS).
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2. Contágio
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2/20 (Rodger Bosch/AFP)
Para ser infectada pelo vírus ebola, uma pessoa precisa entrar em contato com sangue, suor, saliva ou outros fluidos corporais de pessoas ou animais contaminados. "Ebola não é uma doença transportada ou transmitida pelo ar", explicou em entrevista a EXAME.com Fredi Quijano, epidemiologista da
Universidade de São Paulo.
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3. Sintomas
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3/20 (AFP)
A doença causada pelo vírus ebola é caracterizada por febre, fraqueza intensa e dores musculares, de cabeça e de garganta. "Isso é seguido de vômitos, diarreia e perda da função dos rins e do fígado", afirmou em entrevista a EXAME.com Fredi Quijano, epidemiologista da Universidade de São Paulo. Segundo ele, os pacientes também apresentam quadros de hemorragia interna e externa em alguns casos.
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4. Tratamento
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4/20 (Christopher Black/AFP)
O tratamento oferecido a pessoas infectadas por ebola deve consistir em reidratação intravenosa ou por via oral. A recomendação é da OMS. Além disso, a organização afirma que é positivo o tratamento dos sintomas específicos da doença – como febre e dor. "Nenhum tratamento licenciado até o momento se mostrou eficaz em neutralizar o vírus", afirma a OMS em seu site.
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5. Mortalidade
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5/20 (WHO/Tarik Jasarevic/Divulgação via Reuters)
A OMS afirma que o nível médio de mortalidade registrado nos surtos de ebola registrados até hoje é de cerca de 50%. Porém, há registros de epidemias com níveis de mortalidade menores (na casa dos 25%) e maiores (perto de 90%) do que isso.
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6. Transmissão
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6/20 (Pascal Guyot/AFP)
"Há pouca chance de transmissão de ebola enquanto o paciente não manifeste os sintomas", afirmou em entrevista a EXAME.com Otília Luz, médica infectologista ligada à Fiocruz. De acordo com a OMS, uma pessoa infectada pelo vírus pode demorar até 21 dias para manifestar os primeiros sintomas.
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7. Surtos
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7/20 (Dominique Faget/AFP)
Da descoberta do vírus ebola até hoje, a OMS contabiliza mais de 15 surtos da doença. Em geral, eles aconteceram em vilas isoladas perto de florestas tropicais na África Central. Entretanto, o atual surto da doença (que começou a ser monitorado pelo órgão no fim de março) acontece tanto em regiões rurais quanto zonas urbanas da costa oeste da África.
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8. 2014
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8/20 (Pierre-Philippe Marcou/AFP)
O número de casos e mortes causados por ebola em 2014 supera a quantidade de ocorrências do tipo registradas em todos os outros surtos da doença desde sua descoberta em 1976. De acordo com a OMS, Guiné, Libéria e Serra Leoa foram os países mais afetados pela epidemia até o momento. Também registraram casos da doença o Senegal, a Nigéria e outros países – como Espanha e Estados Unidos.
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9. Diagnóstico
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9/20 (Pornchai Kittiwongsakul/AFP)
Atualmente, o diagnóstico de contaminação pelo vírus ebola depende da manifestação de sintomas pelo paciente – que pode demorar até três semanas. Por conta disso, o Pentágono desenvolveu um novo método para confirmar os casos da doença. Baseado na análise de amostras sanguíneas, a técnica é capaz de identificar um caso de ebola em cerca de quatro horas.
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10. Vacina
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10/20 (Steve Parsons/Pool/Reuters)
A multinacional britânica GlaxoSmithKline (GSK) desenvolve em parceria com órgãos do governo americano uma vacina para tentar conter o atual surto de ebola. Criado há cerca de uma década, o projeto teve seu andamento acelerado em função da epidemia.
Material genético e uma versão enfraquecida do vírus são os componentes da vacina. Juntos, eles estimulam o corpo a produzir anticorpos para a doença. O medicamento foi testado com sucesso em macacos em 2010.
Em setembro, pacientes que participaram dos primeiros testes com o medicamento não apresentaram reações adversas. Além da GSK, a Johson & Johnson também trabalha numa vacina contra o vírus ebola.
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11. Favipiravir
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11/20 (Philippe Huguen/AFP)
O favipiravir é um medicamento desenvolvido para combater o vírus influenza, que causa gripe. Em testes com ratos realizados por pesquisadores europeus, a droga protegeu os animais da contaminação pelo vírus ebola. No mês que vem, o Instituto Francês de Saúde e Investigação Médica vai começar a testar o favipiravir contra Ebola em humanos. O tratamento experimental vai consistir em dosagens elevadas da droga, que tem como grande vantagem o fato de poder ser ministrada na forma de comprimido.
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12. Cepas
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12/20 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
Um estudo publicado em abril na revista New England Journal of Medicine afirma que a atual epidemia de ebola é causada por uma nova versão do vírus.
Entre as características dessa cepa, está a menor ocorrência de quadros de hemorragia entre os pacientes infectados. Eles eram mais comuns entre os contaminados pelos cinco tipos já conhecidos de ebola.
Segundo os cientistas, os primeiros casos de pessoas contaminadas pela nova variação do vírus datam de dezembro do ano passado.
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13. Mutações
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13/20 (Cynthia Goldsmith/AFP)
Cientistas da universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia do Massachussets analisaram 99 amostras da versão do vírus ebola característica do surto atual.
No trabalho, eles identificaram 300 diferenças genéticas em relação a versões do vírus presentes em surtos anteriores.
As amostras foram fornecidas por 78 pacientes de Serra Leoa que foram diagnosticados com a doença nos 24 primeiros dias de epidemia. Um artigo sobre o experimento foi publicado em agosto na revista Science.
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14. Economia
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14/20 (Getty Images)
Os Produtos Internos Brutos de Guiné, Libéria e Serra Leoa devem encolher entre 1% e 1,5% em 2014 por conta da epidemia de ebola nesses países. A projeção foi divulgada pelo Banco Africano de Desenvolvimento. Outro cálculo, feito pelo Banco Mundial, afirma que o impacto econômico gerado pela doença pode ultrapassar a marca dos 30 bilhões de dólares.
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15. França
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15/20 (Alastair Miller/Bloomberg News)
Um estudo realizado pela universidade britânica de Lancaster calculou a probabilidade do vírus ebola chegar à França e Grã-Bretanha. Segundo os cientistas, as chances de ebola chegar a esses países até 24 de outubro estavam em torno de 75% e 50%, respectivamente. Porém, com a redução do número de voos entre esses locais e os países onde acontece a epidemia, esses índices caíram para 25% para França e 15% para Grã-Bretanha.
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16. Transfusões
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16/20 (Marcello Casal Jr./ABr)
A OMS autorizou no começo de setembro que terapias baseadas em transfusões sanguíneas fossem usadas no tratamento de ebola. A ideia da técnica é que pacientes contaminados recebam sangue de pessoas que já se recuperaram da doença. Assim, o doente passa a contar com anticorpos para combater o vírus. Esse tipo de tratamento foi testado com sucesso nos EUA em Rick Sacra, missionário cristão de 51 anos contaminado na Libéria.
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17. Doenças
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17/20 (James Gathany / CDC)
Uma projeção de cientistas da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical estimou que o surto de ebola na Guiné, Libéria e Serra Leoa pode aumentar de 100 mil para 400 mil o número de mortes causadas por malária. A razão disso seria a sobrecarga dos sistemas de saúde da região e a morte de médicos e enfermeiros, que fragilizariam o tratamento dos pacientes com outras doenças nos hospitais.
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18. Epidemia
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18/20 (Bindra/Unicef)
Estimativas realizadas pela ONG Save The Children indicavam que, a cada hora, o vírus ebola contamina cinco pessoas em Serra Leoa. Segundo a organização, há apenas 327 leitos no país, que está no centro da epidemia da doença. De acordo com as projeções, se nada for feito, o número de novos casos de ebola por hora em Serra Leoa poderia subir de cinco para dez até o fim de outubro.
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19. Desconhecimento
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19/20 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Mais de mil pessoas participaram de uma pesquisa realizada em agosto pela universidade de Harvard. Nela, quatro em cada 10 entrevistados afirmaram que temem a possibilidade de uma grande epidemia de ebola nos Estados Unidos.
Além disso, 26% dos participantes disseram que estão preocupados com a possibilidade de serem infectados (ou ter alguém da família nessa situação) no próximo ano.
Num sinal de desconhecimento da doença, quase 70% dos entrevistados disseram que o ebola é um vírus de fácil transmissão e um terço dos participantes afirmou que existe remédio para a doença.
As duas informações não correspondem à realidade, já que a transmissão de ebola depende de um contato com fluidos contaminados pelo vírus e não há medicamentos que curem a doença.
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20. ZMapp
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20/20 (Reuters)
Criado pela empresa Mapp Biopharmaceutical, o ZMapp é um medicamento experimental usado no tratamento de ebola. O soro é composto basicamente de anticorpos que, quando ministrados a pessoas ou animais infectados, têm apresentado resultados positivos no combate à doença.
Em testes realizados com macacos 24 horas após a contaminação por ebola, o ZMapp apresentou 100% de eficácia (isto é, nenhum macaco morreu). Já em experimentos com macacos realizados 48 horas após a infecção, só metade dos animais sobreviveu.
O ZMapp já foi usado com sucesso para tratar americanos com ebola na África.