Os presidentes Lula e Joe Biden, durante encontro no G20, no Rio de Janeiro (Eric Lee/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 20 de novembro de 2024 às 09h38.
Rio de Janeiro - Durante a reunião do G20, Brasil e Estados Unidos anunciaram uma parceria para avanços em energia verde, firmada entre os presidentes Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, Biden deixará a Casa Branca em janeiro, e seu sucessor, Donald Trump, é um defensor da exploração de petróleo e crítico de medidas para conter o aquecimento global.
Para Amanda Roberson, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA para as Américas, as parcerias na área de energia verde devem se manter, porque incluem ações do setor privado e trazem oportunidades de novos negócios e empregos. “É importante que as soluções não dependam só dos governos. O setor privado tem um papel importante na transição para a energia verde e no combate à fome”, disse, em conversa com a EXAME, no Rio de Janeiro.
Roberson diz que os Estados Unidos endossam as ações propostas pelo Brasil para combater a pobreza, a inclusão da África nos debates globais e a mudança em instituições como a ONU. Veja a entrevista a seguir:
Quais foram os principais resultados deste encontro do G20, na visão dos EUA?
Para os Estados Unidos, temos algumas prioridades importantes aqui no G20 e vemos resultados em diferentes prioridades. O combate às mudanças climáticas é muito importante para nós, e também o combate à fome e à pobreza no mundo, além de abrir novas oportunidades de financiamento para os países em desenvolvimento. Foram três das prioridades importantes que tocaram aqui. A energia e o combate à pobreza são temas importantes tanto para o presidente Biden quanto para o presidente Lula. Os Estados Unidos e o Brasil lançaram uma aliança para transição à energia verde, um exemplo de um resultado completo que vem do G20 e desse tipo de colaboração.
Houve outros avanços na relação entre os dois países, que completaram 200 anos de relações diplomáticas neste ano?
A relação entre os dois países é profunda. Temos muito em comum. Dois países grandes, duas democracrias fortes, duas das maiores economias do hemisfério. É essencial que trabalhemos juntos. O investimento externo direto dos Estados Unidos no Brasil totaliza mais de 22 bilhões de dólares. Isso quer dizer muitos empregos no Brasil e nos Estados Unidos. A relação vai além da parte econômica. Os povos brasileiro e americano tem muitas conexões, em turismo, educação, cultura. Entendemos que uma amizade assim tão forte não vai mudar muito de uma administração para outra. Não depende de um governo. É algo mais profundo que vai além da política.
Como garantir que as medidas anunciadas, como a parceria em energia limpa, seja mantida no próximo governo Trump, que defende a exploração de energias como o petróleo, por exemplo?
É importante que as soluções não dependam só dos governos. O setor privado tem um papel importante na transição para a energia verde e no combate à fome. Esta nova aliança para transição de energia verde está abrindo caminhos para mais investimentos do setor privado, para que as empresas brasileiras e americanas possam colaborar mais facilmente no desenvolvimento de novas tecnologias e de cadeias de fornecimento mais sustentáveis. Esse trabalho, que já começou, não muda de uma administração para outra. O povo americano também está apoiando muito a transição para a energia verde. A demanda por veículos elétricos é muito forte nos Estados Unidos e eu imagino que aqui no Brasil também. Temos que desenvolver as economias e cuidar do meio ambiente. Não são duas metas à parte. A energia verde apresenta muitas oportunidades econômicas. Não sei exatamente quais vão ser as políticas no futuro, mas a vontade de criar um futuro mais limpo e mais oportunidades não deve mudar.
Como o G20 ajuda a buscar saídas para guerras, como os conflitos em Gaza e na Ucrânia?
Entendemos que é só através da diplomacia que vamos poder solucionar estes conflitos. Os Estados Unidos vão continuar aproveitando cada oportunidade para a diplomacia para procurar soluções e reunir apoio dos nossos aliados, como o Brasil e outros países do G20. Sobre a guerra de agressão da Rússia na Ucrânia, sabemos que a Rússia tem o poder de acabar com essa guerra hoje, se retirar suas tropas e se respeitar as fronteiras da Ucrânia. A solução está nas mãos da Rússia. Vamos continuar pressionando e procurando uma solução, e apoiando o povo ucraniaono até chegar a um fim desde conflito.
O G20 debateu também reformas em entidades internacionais como ONU e FMI. Como os EUA veem o tema, especialmente as propostas de dar maior poder à Assembleia-Geral e reformar o Conselho de Segurança?
Os Estados Unidos também têm esta perspectiva de que a ONU precisa ser inclusiva. O Conselho de Segurança não reflete a realidade do mundo hoje. Ele foi criado há décadas, quando a ONU foi estabelecida [em 1945], e precisa refletir a realidade de hoje. Estamos abertos à inclusão de novos membros. Vamos continuar neste e em todos os fóruns internacionais, avançando e pedindo esse espírito de inclusão.
Houve avanços no debate sobre regulação de inteligência artificial?
Isto também foi uma prioridade para os Estados Unidos, falar aqui no G20 sobre o uso da Inteligência Artificial responsável. Essas novas tecnologias oferecem muitas benefícios e oportunidades e não vão desaparecer, só avançar mais. É importante que os países tenham regulações para promover o uso responsável dessas tecnologias e para que promovam a democracia, os direitos humanos a intuição social. Senão, obviamente elas podem ser utilizadas para outros fins que não são bons para para nenhum país. No G20, um dos temas foi como os países membros podem compartilhar melhores práticas e estratégias para fomentar o desenvolvimento dessa tecnologia, mas também controlar para que o uso seja o seu correto e bom.
Que outros pontos destacaria desta reunião do G20?
Algo importante é fazer com que encontros como o do G20 sejam cada vez mais inclusivos. A inclusão da União Africana, por exemplo, foi impulsionada pelo governo dos Estados Unidos. O continente africano apresenta muitas oportunidades, não só para os africanos, mas para o mundo. É um continente como populações jovens e enormes, com muito talento. Fóruns como o G20 não podem excluir um continente enorme como este. Foi muito boa a decisão do Brasil, como anfitrião, de convidar mais alguns países africanos, como Tanzânia, Nigéria e Angola.