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Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2013 às 14h08.
São Paulo - As emissões de gases do efeito estufa (GEE) no Brasil caíram 4,9 por cento em 2012 ante 2011, principalmente devido ao declínio do desmatamento e à redução do rebanho bovino em decorrência da seca, que mais que compensaram o aumento das emissões do setor de energia, revelou nesta quinta-feira um estudo independente.
A produção de gases do efeito estufa, aos quais se atribui as mudanças climáticas no planeta, alcançou 1,484 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) no ano passado, de acordo com o Observatório do Clima, uma rede de organizações não-governamentais que inclui, entre outros, o WWF, a Conservação Internacional e o Greenpeace.
Por causa da forte queda no desmatamento - que tinha sido tão grande a ponto de levar as emissões brasileiras de GEE ao pico de 2,856 bilhões de toneladas de CO2e em 1995 -, a maior economia da América Latina terá apenas um pequeno aumento de 6,6 por cento nas emissões de 1990 a 2012, enquanto a concentração de GEE no mundo cresceu 37 por cento nesse período.
Mas os responsáveis pelo estudo disseram que os dados atuais não garantem uma tendência tranquila no futuro e que o país devia ir além do combate ao desmatamento para lidar com aspectos como o imenso aumento no consumo de combustíveis fósseis.
"A relativamente bem-sucedida política para o desmatamento e a matriz energética do Brasil, que sempre foi baseada nas hidroelétricas, impediram o país de buscar iniciativas inovadoras sobre mudança climática" disse o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl.
"Mais de 70 por cento de todos os investimentos planejados para o setor de energia nos próximos dez anos no Brasil vai para os combustíveis fósseis. E isso poderia aumentar se possíveis projetos de gás de xisto receberem luz verde", disse Rittl.
O Brasil descobriu recentemente algumas das maiores reservas de gás e petróleo ao longo da costa, e o governo planeja explorar rapidamente esses recursos.
O estudo cobre emissões brasileiras ano a ano desde 1990 e a meta é atualizá-lo anualmente. Os dados estarão disponíveis na internet (www.seeg.observatoriodoclima.eco.br) "Os governos em geral levam um longo tempo para divulgar estimativas de emissões de GEE, normalmente mais de três anos. É difícil reagir com novas políticas públicas quando você tem tamanha lacuna na informação", afirma o coordenador do projeto, Tasso Azevedo.
"Nós queremos nos certificar de que teremos dados consistentes, todos os anos, de um modo transparente", diz ele.
Os dados atuais colocam o Brasil no sétimo lugar entre os países com maiores emissões no mundo, mas ainda lidera as emissões causadas pela mudança no uso da terra (desmatamento) e é o quarto colocado em emissões do setor agrícola.
As emissões do setor de energia, por exemplo, cresceram 126 por cento desde 1990, refletindo o maior uso de usinas termoelétricas e o aumento crescente do consumo de combustíveis fósseis para movimentar uma frota cada vez maior de carros e caminhões.
De 2009 a 2012 as emissões decorrentes do consumo de gasolina no Brasil deram um salto de 64 por cento, já que as políticas governamentais para segurar o seu preço como meio de combate à inflação derrubaram a competitividade do etanol.
Os gases do efeito estufa derivados da agricultura subiram 45 por cento entre 1990 e 2012, principalmente devido à forte adoção pelos produtores rurais de fertilizantes nitrogenados, que ajudaram o Brasil a expandir drasticamente a produção de grãos.
O estudo custou 290 mil dólares e foi financiado pelas fundações Oak e Avina, pela Climate and Land Use Alliance e pela Iniciativa Clima América Latina.