Capa do jornal semanal francês Charlie Hebdo, a primeira depois do ataque terrorista (Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2015 às 20h03.
Paris - Luz, um dos nomes mais emblemático da equipe da revista "Charlie Hebdo", autor da primeira capa após os atentados contra a revista em janeiro, anunciou nessa segunda-feira que deixará a revista em setembro.
"É uma decisão muito pessoal. Se vou é porque é difícil para mim trabalhar sobre a atualidade", disse o desenhista em entrevista que será publicada amanhã, terça-feira, no jornal "Libération", que abriga a redação de "Charlie Hebdo" após a tragédia.
O desenhista, que entrou na revista em 1992, afirmou que já não se interessa pelo "retorno à vida normal de um desenhista de imprensa" e confessou ter um problema de inspiração.
O "Libération", por sua vez, publicou que nas últimas semanas houve divergências no seio da revista, que perdeu 12 de seus membros, alguns dos mais emblemáticos e representativos, como o diretor Charb, assassinados no ataque.
Luz afirmou se sentir "fagocitado por mil coisas, o luto, a dor, a cólera, mas também pelos meios de comunicação".
O desenhista afirmou que não está saindo por causa dos problemas que a revista atravessa, assinalou que após os atentados precisava de tempo, mas que não parou por solidariedade com seus companheiros e que agora se tornou "duro demais" continuar.
"Não sobrou muita gente para desenhar. Tive que fazer três capas de quatro. Cada fechamento é uma tortura porque os outros já não estão. Passar noites insone pensando nos desaparecidos, me perguntando o que teriam feito Charb, Cabu Honoré, Tignous, é esgotante", desabafou.
Luz afirmou que considera estar fazendo seu trabalho de forma automática e que sente "a angústia de ser ruim".