Henry Kissinger, ex-chanceler dos Estados Unidos: Trump representa o fim de uma era, considerou ele, mas talvez nem saiba disso (Kirsty Wigglesworth/Pool/Exame)
Gabriela Ruic
Publicado em 21 de julho de 2018 às 11h23.
Última atualização em 21 de julho de 2018 às 11h25.
São Paulo - O diplomata americano de origem alemã, Henry Kissinger, hoje com 95 anos, se manifestou sobre o estado atual do mundo, que considera enfrentar um momento “muito, muito grave” e que a presidência de Donald Trump marca o fim de uma era.
“Acho que ele é uma dessas figuras da história que surgem para marcar o fim de uma era”, disse ele em uma rara entrevista, concedida ao jornal britânico Financial Times e divulgada no final desta semana. , “mas isso não necessariamente significa que ele saiba disso ou que ele está considerando alguma grande alternativa. Pode apenas ser um acidente”, notou.
Admirado na mesma medida em que é odiado, Kissinger cravou seu nome na história como o grande orquestrador da diplomacia americana durante períodos conturbados para a geopolítica mundial, como a Guerra do Vietnã (1955 até 1975). Foi conselheiro de Segurança Nacional entre 1969 e 1973, e secretário de Estado de 1973 até 1977.
Venceu o Nobel da Paz em 1973, numa premiação vista por muitos como controversa pela atuação dos EUA no conflito asiático e o envolvimento em turbulências na América Latina. Hoje dono de uma prestigiada consultoria, a Kissinger Associates, o ex-chanceler ainda é visto com frequência na companhia de líderes globais, como o presidente russo, Vladimir Putin.
Inclusive, durante a entrevista, Kissinger tocou em um dos temas mais polêmicos da última semana: o encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e Putin, em Helsinque (Finlândia). Trump está sofrendo duras críticas em razão das declarações desastrosas durante a cúpula sobre a interferência russa nas eleições de 2016, constatada por investigações de agências de inteligência americanas.
“O encontro precisava acontecer”, disse Kissinger, “e eu advoguei por isso durante anos, mas foi submergido por questões domésticas. Foi uma oportunidade perdida”, notou. Ainda sobre a Rússia, o diplomata notou ser uma característica única do país a forma como é afetado por perturbações em outras partes do mundo, “veja a Síria e a Ucrânia”, vistas como “oportunidades e ameaças” pelo Kremlin.
Ainda sobre a Rússia, o ex-chanceler disse que as potências ocidentais erraram ao presumir que a Rússia atuaria no tabuleiro geopolítico segundo as suas regras. “O erro que a OTAN cometeu foi pensar que uma espécie de evolução histórica marcharia pela Eurásia, sem entender que encontraria nesta marcha algo muito diferente da entidade vestfaliana [a ideia ocidental de Estado]. Para a Rússia isso é um desafio para a sua identidade ”, disse Kissinger. “Mas não acho que Putin seja um personagem como Hitler”, emendou.