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Em plena pandemia, a Itália enfrenta crise política

Com mais de 75.000 mortes por covid, o país tem o maior número de óbitos na Europa, e as restrições para conter o vírus afetaram sua economia

Itália: há várias semanas, Renzi ameaça retirar o apoio de seu pequeno e fundamental partido, Itália Viva, da coalizão liderada por Conte, forçando assim uma crise de governo (AFP/AFP)

Itália: há várias semanas, Renzi ameaça retirar o apoio de seu pequeno e fundamental partido, Itália Viva, da coalizão liderada por Conte, forçando assim uma crise de governo (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 5 de janeiro de 2021 às 13h10.

Última atualização em 5 de janeiro de 2021 às 13h30.

O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, que enfrenta há meses a pandemia de coronavírus, também precisa lidar agora com outro desafio: permanecer no cargo por causa de uma crise política.

Apesar do grande número de mortos por coronavírus e do prazo-limite para apresentar um plano confiável de bilhões de euros com fundos da União Europeia (UE), Conte está esgotado também devido aos ataques de veto e ultimatos internos do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, aliado incômodo do governo de coalizão entre os antissistema do Movimento 5 Estrelas (M5E), o Partido Democrático de centro-esquerda (PD) e o esquerdista Livres e Iguais (LeU).

O ultimato de Renzi

Há várias semanas, Renzi ameaça retirar o apoio de seu pequeno e fundamental partido, Itália Viva, da coalizão liderada por Conte, forçando assim uma crise de governo.

"A situação é, em termos técnicos, um desastre", comentou Renzi, que governou a Itália entre 2014 e 2016, em uma entrevista na segunda-feira a um canal privado de televisão.

Questionado sobre as chances de Conte manter seu cargo, ele se limitou a responder: "Já veremos". Conhecido por sua arrogância, Renzi reclama da lenta vacinação contra a covid-19, do atraso na reabertura das escolas e critica Conte por concentrar muito poder em suas mãos.

O político deseja contar com o projeto que estabelece as prioridades para o gasto dos 196 bilhões de euros (240 bilhões de dólares) que a Itália vai receber como parte do plano da UE para a reativação do país após o vírus e que deve ser apresentado em meados de abril.

Com mais de 75.000 mortes por coronavírus, a Itália é o país com maior número de óbitos na Europa, e os confinamentos e as restrições para conter o vírus afetaram duramente sua economia.

De acordo com um esboço do plano, 50 prioridades foram estabelecidas. O sistema de saúde receberia apenas 9 bilhões de euros (11 bilhões de dólares), o que foi muito criticado.

"Isso não pode funcionar, tem muito dinheiro em regalias e muito pouco em investimentos", comentou Renzi, que não perde a chance de intervir e aparecer na televisão depois de ter desaparecido politicamente há quatro anos.

O confronto com Conte deve chegar ao seu ponto crítico nos próximos dias, quando os ministros se reunirem para discutir os planos da UE.

Governo sem Conte

Conte poderia tentar aplacar Renzi com uma reorganização do gabinete, inclusive persuadindo alguns ministros a renunciar, ou pedindo um novo mandato ao presidente da República, Sergio Mattarella, com uma nova lista de ministros.

Essa última opção traz, porém, muitos riscos. Com a renúncia de Conte, conforme estabelecido neste caso pela Constituição, Renzi poderia fazer da nomeação de um novo primeiro-ministro uma condição para dar seu apoio.

Até o momento, não há candidatos para este cargo.

Se Conte for excluído, e os políticos não conseguirem chegar a um acordo sobre um sucessor, Mattarella pode ser obrigado a convocar eleições antecipadas, dois anos antes.

No caso de eleições, as pesquisas dão a vitória ao bloco de direita liderado pela Liga, de Matteo Salvini, e pelos Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, dois partidos abertamente xenófobos e eurocéticos.

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