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Da Redação
Publicado em 26 de junho de 2012 às 19h25.
Assunção - Em meio à tensão que o Paraguai vive provocada pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, o novo líder, Federico Franco, transmitiu nesta terça-feira uma mensagem de governabilidade à população, mas alertou sobre o risco de uma guerra civil no país e não poupou advertências a seus principais vizinhos, Brasil e Argentina.
Após nomear seu ministro da Fazenda, Manuel Ferreira, Franco convocou imediatamente a imprensa estrangeira para uma entrevista no palácio presidencial para defender a legitimidade de seu governo ante a rejeição no exterior.
O governo de Cuba aderiu nesta terça-feira ao movimento de ações diplomáticas que condenam a destituição de Lugo e retirou seu embaixador em Assunção, enquanto o Comitê Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) se reúne para avaliar a crise paraguaia.
Da mesa de seu escritório, o político liberal de 49 anos afirmou ser o responsável por prevenir o país contra uma guerra civil, diante da crise provocada pelo rápido e controvertido julgamento político no Parlamento que custou o cargo de Lugo.
Franco destacou que ''não há policiais nem militares'' nas ruas paraguaias e a vida continua com absoluta normalidade, ressaltando que sua prioridade é ''manter a calma''. Um exemplo é que o Campeonato Paraguaio de futebol, que foi interrompido, seria retomado nesta terça-feira.
Segundo ele, a meta é transmitir à comunidade internacional a tranquilidade e a governabilidade nas ruas e fazer todo o esforço para demonstrar que seu governo é ''absolutamente democrático''.
Franco anunciou que apresentará nesta quarta-feira ao Legislativo seu plano econômico para os 14 meses que lhe restam de governo formal e reiterou que ''os prazos eleitorais serão respeitados''.
''Se Deus e Nossa Senhora permitirem, também com a ajuda de vocês, os meios de comunicação internacionais, vamos entregar meu governo em 15 de agosto de 2013 e, tomara, com um país mais organizado'', anunciou.
O líder disse que, ''em uma semana'', seu Executivo vai fazer ''tudo'' o que não foi feito nos últimos quatro anos com o ex-presidente Lugo, de quem Franco foi vice-presidente.
No meio da improvisada e às vezes tensa entrevista coletiva, um jornalista chileno perguntou a Franco se o novo líder não sentia responsabilidade pelo tempo partilhado no poder com Lugo. Em resposta, o atual presidente brincou que o contrataria.
''Se não houvesse tantas câmeras, me levantaria e o cumprimentaria. Vou recomendar que meu assessor de imprensa o contrate. O senhor é muito hábil'', declarou o governante.
Sobre Lugo, que pretende liderar uma onda de manifestações pacíficas nas ruas para recuperar seu cargo presidencial, o presidente também se manifestou. ''Nós garantimos o Estado de Direito, o povo pode se manifestar, o que não vamos permitir são os excessos'', afirmou o presidente - Franco e Lugo são de partidos diferentes e mantinham rivalidades nos últimos anos.
O atual chefe de Estado também considerou que o ex-presidente carece de ''autoridade'' para participar das cúpulas da Unasul e do Mercosul, após Lugo ter dito que pretendia comparecer à reunião deste bloco, ideia que acabou desistindo.
Os encontros debaterão no fim de semana a crise paraguaia em Mendoza (Argentina). Nesta segunda-feira, o novo chanceler paraguaio, José Félix Fernández, advertiu Lugo de que, se fosse ao encontro, poderia sofrer consequências na Justiça.
Sobre a relação com Brasil e Argentina, os dois grandes vizinhos e parceiros do Paraguai no Mercosul, Franco lembrou ambos sobre a dependência que as cidades de São Paulo e Buenos Aires têm das hidrelétricas compartilhadas com o Paraguai, Itaipu e Yacyretá, respectivamente.
Ele pediu à presidente Dilma Rousseff que converse com os brasileiros que vivem no Paraguai, conhecidos como ''brasiguaios'', sobre sua postura em relação à crise política no país vizinho.
Uma delegação de ''brasiguaios'', formada, segundo Franco, por cerca de 500 mil pessoas que habitam em vastas extensões agrícolas próximas à fronteira comum, se reuniu nesta terça-feira com o novo presidente para expressar-lhe apoio.
No caso da Argentina, cuja presidente, Cristina Kirchner, foi a primeira a rechaçá-lo e a retirar seu embaixador de Assunção, Franco afirmou que tentará manter ''um tratamento especial'' à governante.