Theresa May: o texto do acordo com a UE é criticado por apoiadores e críticos ao Brexit (Parbul TV/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de novembro de 2018 às 15h02.
Última atualização em 14 de novembro de 2018 às 15h04.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, reuniu seu conselho de ministros nesta quarta-feira (14), para tentar aprovar o projeto de acordo sobre o Brexit alcançado com Bruxelas, que levou dois anos de negociações complexas e já recebeu duras críticas no Parlamento.
Os membros do gabinete chegaram a Downing Street para esta reunião extraordinária, que começou na primeira hora da tarde.
Na frente da sede do governo, havia cerca de 100 manifestantes reunidos, convocados pelo grupo pró-Brexit Leave means Leave ("Sair significa Sair"), para pedir que o acordo, considerado uma traição ao propósito do Brexit, seja rechaçado.
"Só queremos sair, mas não nos escutam", disse à AFP um manifestante de 70 anos que não quis dar seu nome.
"Querem que votemos outra vez, o que nos tornaria uma chacota", acrescentou, referindo-se aos pedidos de grupos ativistas por um novo referendo sobre os termos do acordo.
Pouco antes, o projeto de acordo tinha recebido duras críticas no Parlamento dos deputados pró-Brexit do próprio Partido Conservador de May, que acusaram a chefe do governo de ter feito concessões inaceitáveis a Bruxelas, e temem que o Reino Unido fique ligado à União Europeia (UE) por anos.
"O que estamos negociando é um acordo que está em conformidade com o que o povo britânico votou", disse May diante da Câmara dos Comuns em Londres, onde apoiadores e opositores do Brexit criticaram o projeto, um documento de várias centenas de páginas, cujo conteúdo exato ainda é desconhecido.
"A primeira-ministra vem negociando um mau acordo há dois anos", disse o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn.
Os britânicos decidiram, em um referendo em 23 de junho de 2016, com 52% dos votos, deixar a UE, após 43 anos de integração.
Se o Executivo britânico aprovar o projeto de acordo, o texto pode ser publicado na quarta-feira "e provavelmente haverá um conselho europeu em 25 de novembro" para confirmá-lo, disse o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, em Dublin, ao seu próprio Parlamento.
Mas ele alertou: "Muitas coisas podem dar errado hoje e nos próximos dias".
"Chegou o momento da verdade", afirmou o jornal Daily Telegraph. "O Dia do Julgamento", disse, por sua vez, o Daily Mail.
O gabinete recentemente se mostrou profundamente dividido sobre a questão, com renúncias de ministros eurocéticos e pró-Europa nos últimos meses devido ao Brexit. Teme-se que novas renúncias possam acontecer, causando uma crise de governo em um dos momentos mais críticos na história recente do Reino Unido.
Se for aprovado pelo gabinete, o acordo deve passar por um novo filtro: a ratificação pelo Parlamento, onde May, que enfrenta a rebelião de dezenas de deputados conservadores, tem maioria absoluta muito estreita - que depende do apoio de 10 deputados do pequeno partido da Irlanda do Norte (DUP).
Sua líder, Arlene Foster, classificou como "inaceitável" o projeto de acordo, considerando que "mina a integridade econômica e constitucional do Reino Unido".
O maior entrave das negociações foi como evitar a criação de um policiamento de fronteiras entre a República da Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte.
Ambas as partes concordaram em evitar a restauração de uma fronteira física na ilha para preservar o acordo de paz da Sexta-Feira Santa, que em 1998 encerrou 30 anos de conflito sangrento na Irlanda do Norte. Os dois lados divergiam sobre como fazer isso.
Graças à união aduaneira europeia, pessoas e mercadorias podem circular livremente entre as duas Irlandas, o que permitiu reforçar os laços intercomunitários.
As autoridades temem que, se uma infraestrutura aduaneira for estabelecida na fronteira após o Brexit, ela possa se tornar alvo de grupos paramilitares dissidentes.
A previsão é que, enquanto procura uma solução melhor, o Reino Unido permaneça dentro da união aduaneira europeia, e a Irlanda do Norte continue dentro do mercado único. Isso provocou a ira não só do DUP - que rejeita qualquer tratamento diferenciado para a província -, mas do governo da Escócia.
Após ter rejeitado, em referendo em 2014, tornar-se independente do Reino Unido, a Escócia se verá forçada a sair da UE, apesar de sua população ter votado majoritariamente contra o Brexit e considerar injusto que a Irlanda do Norte se mantenha, na prática, integrada ao bloco.