Segundo Biden, os ataques na Cisjordânia minam os objetivos de política externa dos Estados Unidos (Drew Angerer/Getty Images)
Redatora
Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 04h59.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2024 às 13h49.
O presidente norte-americano Joe Biden emitiu na noite de quinta-feira, 1, uma ordem executiva que impõe sanções financeiras a quatro israelenses na região da Cisjordânia, e afirmou que a violência na região atingiu "níveis intoleráveis". As sanções bloqueiam o acesso dos indivíduos ao sistema financeiro dos Estados Unidos, inclusive às suas propriedades e ativos, e a vistos para o país.
A ação é uma rara medida contra o aliado mais próximo dos EUA no Oriente Médio. O presidente democrata tem enfrentado pressão pelo seu apoio no conflito, e tem pressionado o governo israelense de Benjamin Netanyahu a conter suas operações militares voltadas para combater o Hamas. Além disso, é o ato mais duro dos EUA contra Israel desde o início da guerra. Washington já havia sancionado israelenses no mês passado, mas apenas em relação a vistos.
David Chai Chasdai, 29, Yinon Levi, 31, Einan Tanjil, 21, e Shalom Zicherman, 32 são os alvos das sanções. Segundo um alto funcionário da Casa Branca, um deles teria iniciado um tumulto que resultou na morte de um civil palestino na cidade de Huwara, enquanto outro teria atacado pessoas com pedras e porretes.
Na ordem executiva, os EUA também admitem a possibilidade de punir outros israelenses, inclusive autoridades, envolvidos em ataques contra o povo palestino. No documento, Biden também afirma que a violência na região atingiu "constitui uma ameaça séria à paz, segurança e estabilidade da Cisjordânia, Gaza, Israel e da região do Oriente Médio em geral".
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de 370 palestinos foram mortos na Cisjordânia desde 7 de outubro, início da guerra. A maioria das mortes foi cometida por forças de Israel, mas pelo menos oito foram mortos por colonos israelenses. Segundo Biden, os ataques minam os objetivos de política externa dos Estados Unidos, incluindo a viabilidade de uma solução de dois estados e a garantia de que israelenses e palestinos possam alcançar medidas iguais de segurança.
A nova ordem concederá ao Departamento do Tesouro a autoridade para impor sanções financeiras aos colonos envolvidos em violência, mas não tem como alvo cidadãos americanos. Um número considerável dos colonos na Cisjordânia possui cidadania dos EUA, e eles seriam proibidos, pela lei dos EUA, de realizar transações com os indivíduos sancionados.
A medida foi anunciada durante uma viagem de Biden para o estado de Michigan, que possui uma grande população árabe-americana. No estado, o presidente vai conversar com lideranças sindicais, em busca de apoio para sua candidatura ao pleito presidencial deste ano. Segundo o Instituto Árabe-Americano, um grupo de defesa, desde o início do conflito, a aprovação dos árabe-americanos ao Partido Democrata despencou de 59% em 2020 para apenas 17%.
Pouco depois de Biden assinar a ordem executiva, Israel sinalizou sua insatisfação e descreveu a maioria dos colonos na Cisjordânia como "cumpridores da lei".
"Israel toma medidas contra todos os infratores em todos os lugares, e, portanto, não há necessidade de medidas incomuns sobre o assunto", disse um comunicado do escritório do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Os líderes dos EUA e de Israel discordaram nas últimas semanas sobre a ideia de criar um estado palestino independente. Netanyahu tem rejeitado repetidamente a ideia, e a Casa Branca reconheceu no mês passado que os governos dos EUA e Israel "claramente veem as coisas de maneira diferente".