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Em Davos, MIT propõe freio à "superinteligência" artificial

Em evento paralelo ao Fórum, Max Tegmark defende regulação similar à da indústria farmacêutica e alerta para concentração de poder em empresas de tecnologia

"Na IA, precisamos de ferramentas, não de deuses digitais", diz professor do MIT em Davos (Max Tegmark/Divulgação)

"Na IA, precisamos de ferramentas, não de deuses digitais", diz professor do MIT em Davos (Max Tegmark/Divulgação)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 05h28.

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*De Davos

Engana-se quem pensa que o Fórum de Davos se resume às reuniões de chefes de Estado costurando acordos e promovendo a manutenção das relações. Ao longo de quatro dias, uma rica programação paralela acontece nas casas instaladas ao longo da Promenade - a rua principal da cidade -, sob a chancela de marcas e países.

Na segunda-feira, (20), em que muitas das autoridades ainda estão a chegar e que acontece somente a abertura formal do encontro, os chamados side events já estão a todo vapor. E em linha com o tema do Fórum neste ano, "Colaboração na Era Inteligente", uma das boas sessões do dia foi a entrevista de Max Tegmark, professor do MIT e autor do best seller "Vida 3.0: O ser humano na era da inteligência artificial".

Em uma conversa pragmática e com visão crítica, Tegmark começou pelos bastidores da carta que, em 2023, assinou ao lado de nomes como Elon Musk, recomendando uma pausa de seis meses no desenvolvimento de IA avançada.

Da carta ao debate global

O objetivo real, explicou, não era uma pausa efetiva, mas fomentar um ambiente onde indivíduos pudessem manifestar preocupações sobre máquinas superinteligentes sem serem vistos como contrários ao progresso. Pode-se dizer que a estratégia funcionou: desde então, o debate público se expandiu, provocou audiências no Senado americano e pautou cúpulas internacionais e institutos dedicados à segurança em IA.

E então, continuou Tegmark, com a iminente chegada da Inteligência Artificial Geral (AGI), pode-se dizer que chegamos a uma encruzilhada fundamental. De acordo com o professor, o cenário para os próximos anos ou década deve oscilar entre extremos: uma utopia onde as pessoas são livres para perseguir seus sonhos sem preocupações financeiras, ou uma distopia onde a obsolescência econômica cria profundas divisões sociais.

Abaixo a AGI, regulação pré-desastre

Considerando o contexto de Davos, o escritor declarou que praticamente todas as aplicações úteis discutidas no Fórum requerem apenas ferramentas de IA e não de AGI, questionando se haverá mesmo a necessidade de se criar uma "divindade digital" que substitua dos humanos. Para fundamentar seu argumento, citou exemplos históricos de tecnologias que a sociedade optou por limitar, como clonagem humana e iniciativas higienistas.

Na esfera regulatória, Max Tegmark acredita em um modelo similar ao adotado pela Federal Drug Administration (FDA), em que empresas precisariam comprovar controle sobre suas criações. Já em relação às implicações econômicas, reconheceu que em qualquer cenário, haverá significativa disrupção econômica em decorrência dos diferentes modelos sociais de distribuição de benefícios tecnológicos.

E ilustrou a constatação, comparando o contraste entre o modelo sueco - seu país de origem -, e sociedades historicamente mais desiguais. Neste ponto, Tegmark defendeu que a abundância gerada pelas máquinas precisa ser compartilhada de forma mais equitativa.

Poder das big techs em xeque?

Um dos alertas mais contundentes do especialista foi em relação ao poder das empresas de tecnologia. Com as big techs listadas no S&P 500 (principal índice do mercado de ações norte-americano), ele questionou a legitimidade e poder desproporcional de executivos de tecnologia, não eleitos democraticamente, em decisões que afetam toda a sociedade.

Em sua analogia final, o professor do MIT foi incisivo: "enquanto uma lanchonete em São Francisco precisa passar por inspeção antes do primeiro sanduíche, empresas podem desenvolver superinteligências sem qualquer supervisão", exemplificou.

Entre o realismo e a cautela, a mensagem de Tegmark em Davos ecoa para além das discussões sobre inteligência artificial, em um momento em que a tecnologia redesenha as fronteiras do possível. .

Sua defesa por maior regulação e distribuição mais equitativa dos benefícios tecnológicos oferece um contraponto necessário à corrida desenfreada por "superinteligência artificial" e é bastante pertinente em um evento como o Fórum Econômico Mundial, que reúne a nata do poder político e econômico global

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