Pequim: houve críticas ao mau atendimento aos desabrigados nas áreas mais afetadas pelo temporal (Johnmcga/Flickr)
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2012 às 08h55.
Pequim- Em 2008 Pequim recebeu os Jogos Olímpicos e foi elogiada por sua grandiosidade e organização, mas quatro anos depois, quando passa o bastão a Londres, a cidade mal tem tempo de relembrar aqueles momentos de glória e enfrenta uma crise de credibilidade e infraestrutura devido às inundações.
No sábado passado, a cidade sofria as piores tempestades desde que existem registros pluviométricos locais (1952), e pelo menos 37 pessoas morreram em desastres naturais que, apesar de frequentes na China, em rara ocasião afetam à capital pequinesa, situada na metade setentrional e seca do país.
A imprensa chinesa se esforça para que Pequim relembre a festa olímpica de 2008: a cerimônia de inauguração de 8 de agosto daquele ano foi retransmitida na quinta-feira e o canal esportivo estatal repete imagens dos 51 ouros conquistados pelos atletas chineses no evento, o primeiro em que a China liderou o quadro de medalhas.
Porém, agora tudo isso parece muito distante para os pequineses, cuja principal preocupação nos últimos dias foi exigir da Prefeitura uma explicação sobre a falta de prevenção para as fortes chuvas, ou por que todo o dinheiro que foi gasto em estádios e outras instalações para os Jogos não serviu também para melhorar uma rede de esgoto ultrapassada.
Muitas ruas da cidade se transformaram em rios pela insuficiência das drenagens, até o ponto de algumas pessoas morrerem presas em seus carros, com níveis de água que nos lugares mais afetados chegaram a ser de quatro metros, algo que costuma ocorrer durante o verão, embora nunca tivesse causado tantas mortes.
'Ano após ano a mesma coisa acontece, e receber os Jogos Olímpicos não é solução, de tão vulnerável que é nossa capital', queixou-se um usuário do Sina Weibo, o microblog mais popular da China.
Também houve críticas ao mau atendimento aos desabrigados nas áreas mais afetadas pelo temporal, como o distrito suburbano de Fangshan, e inclusive acusações de que o consistório oculta os números reais de mortos, um rumor que sempre circula na China quando há desastres de grandes proporções.
O jornal do governo 'Global Times' assegura que Pequim enfrenta uma 'forte crise de credibilidade', similar à de 2003, quando houve uma epidemia de síndrome respiratória aguda grave (Sars), que matou centenas de pessoas na cidade e custou o cargo do então prefeito, Meng Xuenong, por ocultar informações.
Nesta ocasião, o prefeito, Guo Jinglong (que governava a capital durante os Jogos Olímpicos), também deixou seu posto, como foi anunciado nesta quarta-feira, apesar de ter sido 'promovido' a secretário-geral do Partido Comunista na capital e, por isso, sua saída não é vista como um castigo.
As redes sociais se transformaram em um veículo de crítica ao governo de Pequim - embora a censura já esteja atuando contra isso, moderando os foros - e também abrigaram iniciativas para, perante a falta de responsabilidade municipal sentida pela população, unir forças da sociedade civil contra o temporal.
Por isso, quando a cidade se encontra em alerta amarelo com a previsão de chuvas para esse final de semana, muitos cidadãos publicaram na rede mapas com os 'pontos negros' mais suscetíveis de inundações na cidade para que os motoristas e pedestres os evitem.
Nesta onda de desconfiança e críticas, sobra pouco espaço para o esporte e as lembranças olímpicas, mas uma exceção foi aberta nesta sexta-feira, com a realização de um amistoso de alto nível (Manchester City x Arsenal) no Estádio Olímpico do Ninho de Pássaro, pouco antes da cerimônia de abertura dos Jogos de Londres.