Grécia já é um dos países europeus com mais casos de infecções hospitalares, e especialistas temem que a situação piore por causa da crise econômica (Yorgos Karahalis/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de dezembro de 2012 às 10h17.
Londres - Por causa da crise econômica na Grécia, funcionários de hospitais estão deixando de cumprir protocolos básicos de controle de infecções, como o uso de luvas e toucas, e isso gera a ameaça de disseminação de doenças resistentes a medicamentos, segundo a principal autoridade sanitária europeia.
A Grécia já é um dos países europeus com mais casos de infecções hospitalares, e especialistas temem que a situação piore por causa da crise econômica, que levou a demissões em hospitais e a uma piora no padrão de atendimento.
Com menos médicos e enfermeiros precisando cuidar de mais pacientes, os hospitais estão ficando sem dinheiro para suprimentos e expondo os pacientes a riscos mesmo em questões básicas de higiene, segundo Marc Sprenger, diretor do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (CECD).
"Vi lugares ... onde a situação financeira não permitia nem exigências básicas, como luvas, toucas e toalhas com álcool", disse Sprenger após passar dois dias visitando hospitais e outras instalações sanitárias em Atenas.
"Já sabíamos que a Grécia está em péssima situação com relação a infecções resistentes a antibióticos, e depois de visitar hospitais lá estou realmente convencido de que falta um minuto para a meia-noite nesta batalha", disse ele à Reuters.
Sprenger disse que a situação leva pacientes com doenças altamente infecciosas, como a tuberculose, a não receberem o tratamento necessário, e que isso pode contribuir para que cepas resistentes se firmem na Europa.
A Grécia gasta 11 bilhões de euros (14,4 bilhões de dólares) com saúde, o que significa pouco mais de 5 por cento do PIB. O governo diz que há uma dívida de aproximadamente 2 bilhões de euros no sistema, e que é preciso cortar gastos drasticamente.
Muitos trabalhadores da saúde já perderam seus empregos, e outros dizem que há meses não recebem os salários corretamente. Em outubro, uma faixa estendida por médicos em frente ao hospital Evangelismos, em Atenas, dizia simplesmente: "O sistema de saúde está sangrando." Exaustos, médicos nos 133 hospitais públicos gregos se queixam da falta de funcionários e de suprimentos básicos, como algodão, cateteres, luvas e papel-toalha, para cobrir os leitos nos exames.
O neurocirurgião Panos Papanicolaou, membro do sindicato de médicos da Grécia, disse que por causa do corte de pessoal há 90 a 100 pacientes por dia esperando nos corredores do Hospital Geral Nikea, de Atenas, onde ele trabalha. Muitos acabam indo embora sem tratamento, e só voltam quando seu estado se agrava.
Segundo o médico, enfermeiros sobrecarregados precisam atender o dobro dos pacientes que antes. Ele confirmou que há escassez de luvas descartáveis.
"Se uma enfermeira precisa ver dez pacientes em vez de cinco, sem luvas descartáveis, é certo que a transmissão de infecções irá aumentar rapidamente", afirmou.
A Grécia pode em breve enfrentar mais problemas se o governo ficar sem dinheiro para a compra de remédios. Pelo menos dois laboratórios já suspenderam entregas de produtos a hospitais gregos.
No mês passado, o CECD alertou que infecções causadas pelo bacilo "K. pneumoniae", resistente aos antibióticos mais avançados, "estão elevadas e aumentando em alguns países da UE".
"Não é mais um risco", disse Sprenger. "Já está muito ruim - o desafio é reverter isso. Mas você só pode focar adequadamente nisso se não estiver sobrecarregado de pacientes."